Foi assim que se retirou a Santa Bebiana do recinto das festas no passado dia 4 de dezembro, depois de três dias de grande folia, fica presente no espírito de cada um e deixa memórias quer vão perdurar:
No dia 1 foi a abertura das festas, com muita expectativa e muito empenho, desde os membros da Irmandade, a todos os que aderiram à pequena feira de sabores e tradições que arriscaram no recinto, bem como as associações emblemáticas da freguesia como a União Desportiva Cariense, A Banda Filarmónica de Caria, ou o Núcleo Gimnodesportivo e Cultural de Caria. À noite foi o “Chamamento dos Irmãos e Irmãs” com presumível leitura do responso, para que no dia seguinte não se esqueçam da evocação à santa.
No dia 2 para além de vozes roucas e algumas ressacas pelos excessos da noite anterior, reinava no recinto a alegria, graciosidade e muito empenho. Empenho na organização e decoração dos espaços para que quem nos visitasse, sentisse o trabalho e a intenção de projetar esta festa no futuro, mas permanecer leal a certos aspetos da sua tradição, por isso a par do andor da Santa Bebiana e do S. Martinho, encontava-se também uma boneca de palha, com roupa de mulher representando a Santa de antigamente
Pelas 15 horas teve lugar o Colóquio, depois de há um ano atrás a Irmandade, o Correio de Caria e a Junta de Freguesia terem dado as mãos para colocar em colóquio a questão de levar a Património Imaterial Cultural, a Santa Bebiana de Caria. Este ano demos um passo em frente e no mesmo sentido, trouxemos ao debate “A simbologia da Santa Bebiana na Comunidade de Caria”. Para primeira abordagem do tema, esteve presente o antropólogo Dr. Vasco Valadares Teixeira com uma comunicação sobre “ Santa Bebiana, Identidades e Representações”. Houve um rico espaço de reflexão com contributos de uma vasta plateia e no final outro antropólogo, Eddy Chambino fez uma síntese com projeção para o futuro de salvaguarda do P C I da Santa Bebiana de Caria.
Na grande noite foram centenas, para não dizer milhares de pessoas, que de toda a região afluíram a Caria para a procissão pagã de evocação à Santa e ao S. Martinho. A Irmandade providenciou um novo “sacerdote” este ano uma pessoa da terra que apesar de não ter experiência se saiu muito bem. Sermão, cânticos, vivas à santa, leitura dos deveres dos irmãos e do credo da irmandade e outros rituais da festa foram salvaguardados, até ao sermão final feito no largo da festa, após o qual se queimou a santa de palha, como na antiga tradição e depois prosseguiu o baile com Virgílio Faleiro.
No Baile deste ano, o jovem artista de Belmonte apresentou o seu novo conceito de espetáculo e bailarico, com faustoso equipamento sonoro e musical e banda de cinco elementos. Ao hino de “Viva a Santa”, “Truca Truca do Faleiro”, “minha terra é Belmonte” etc. prosseguiu a noite, onde o Faleiro acabou por fazer uma auscultação sobre: quem estava da Covilhã, quem estava do Sabugal, quem estava de Penamacor e quem estava do Fundão, comprovando a dimensão desta festa a nível da região…
O frio era muito, mas o grande Madeiro aquecia o exterior já que para aquecer as pernas e a alma era o bailarico e para aquecer o estômago estavam vários grelhadores onde cada um podia colocar as soberbas sardinhas, febra ou entremeada que a Irmandade oferecia. O vinho também era grátis e era bom, só a cerveja se pagava, assim como a água, porque a Santa Bebiana tem as suas regras…
Na derradeira manhã do último dia das festas e para demonstrar que a Santa Bebiana é Festa, Paródia e Folia, mas é muito mais que isso, também é tradição, cultura, debate, reflexão, educação ambiental e desporto. Por isso, pela segunda vez neste evento teve lugar também uma saudável caminhada. O percurso teve 10 quilómetros, o nível de dificuldade era médio baixo (para condições normais …) O que não impediu de contar com cerca de 60 participantes. Contou ainda com várias animações e também com alguns reforços, desde uma prova de vinhos na Quinta dos Termos, até uma prova de Jeropiga na receção do Carvalhal Formoso.

No final e porque isto de caminhar desgasta, teve lugar um suculento almoço de feijoada com todos os convivas e caminhantes, claro que são sempre um pouco mais para comer do que para caminhar, mas mesmo assim…
A tarde prosseguiu com jogos tradicionais dinamizados pelo Grupo Gimnodesportivo e Cultural de Caria e o encerro celebrou-se ao final do dia.
Como a vindima é até ao lavar dos cestos, também a festa de Santa Bebiana se estende até à segunda-feira, para desmontagem, recolha e limpeza do espaço. Lá está o pessoal da Junta e os mesmos “vilões”, porém com a mesma alegria, espirito de grupo e sentimento de festa. Tudo se arruma e até pró-ano.
No taipal da carrinha de caixa aberta, S. Martinho olha em frente e Santa Bebiana, de lenço na mão e com ar de tristeza, despede-se até para o ano.
jhs