Caria, Gaia, Peraboa, Ferro, Capinha, Três Povos, Pero Viseu e Alcaria, estão na nova Rota de Prospeção do Lítio.
É o assunto da ordem do dia em todas as agendas da região, o “Ouro Luminoso do século XXI” que traz promessas em termos da descarbonização do planeta, mas também muitas ameaças em termos de impacto ambiental para as zonas de extração, com pretexto para discursos inflamados e até alguns exageros de ambos os lados.
Indicadores de prospeção, apontam que estas zonas “desertificadas e envelhecidas” do interior têm ainda para além do seu potencial agrícola, paisagístico e de património uma “Força do Interior” muito mais ampla, que tem raízes ainda mais profundas em jazidas deste metal precioso, escondidas nas entranhas das suas serras e dos seus campos “semiabandonados”.
As reações, porém, são diversas, a Câmara Municipal de Belmonte, na sua última sessão mostrou-se preocupada com os impactos que a prospeção e eventual exploração de lítio pode trazer ao concelho. Dias Rocha esteve na reunião do ministro com os autarcas e disse que qualquer posição tem de ser muito bem ponderada e que a posição dos municípios não pode ser colocada em segundo plano. “O lítio é importante mas temos de ponderar muito bem os impactos, nomeadamente no turismo do concelho”, referiu o edil.
Carlos Afonso (vereador da CDU) leu uma comunicação politica onde disse que não vão permitir que “o ouro da modernidade seja mais uma vez para encher os bolsos dos grandes grupos económicos e que nada fique para além dos prejuízos ambientais para as gentes do nosso interior” e que “mais uma vez nós os que cá estamos sejamos espoliados da riqueza do nosso subsolo” que é preciso que os interesses coletivos não sejam afetados em favor do interesse particular “dos grandes senhores que hoje e ao longo dos séculos exploraram e exploram a riqueza dos solos, sem nada deixarem para além da fome e da miséria”, “os municípios têm de ter uma palavra a dizer, o que não está a acontecer nesta fase”, salientou o vereador comunista.
José Mariano disse também que “o município não pode permitir que aconteça o mesmo que ocorreu no século passado na aldeia da Gaia” e que os municípios têm de ser ouvidos.
Questionado sobre este assunto o Presidente da Junta de Freguesia de Caria Silvério Quelhas, disse que uma vez que são os municípios que são os interlocutores junto do Governo para esta discussão, espera da parte da Câmara Municipal de Belmonte a tomada de posições claras sobre o assunto, partilhando a reflexão com as Juntas de Freguesia, nomeadamente as cujos territórios são apontados na prospeção. Apesar de ter esta posição cautelosa o autarca de Caria referiu que tendo ele sido criado numa zona mineira (minas da Panasqueira) sabe bem dos impactos das mesmas, tanto negativos em termos de poluição e ambientais, como de positivos em termos de valorização económica e qualidade de vida que pode proporcionar às populações
Covilhã contra tudo
Já a Câmara da Covilhã diz que é frontalmente contra a prospeção de lítio nas freguesias do Ferro e Peraboa, considerando que uma futura exploração naqueles territórios põe em causa o seu potencial, uma vez que se trata das duas freguesias com “o solo mais rico em termos agrícolas” do município, referiu à imprensa, no final da reunião de Câmara, José Armando Serra dos Reis, vice-presidente desta autarquia.
Idêntica posição teve Gilberto Melfe, Presidente da Junta de Freguesia do Ferro que questionado pelo nosso jornal disse, ser o executivo e a população radicalmente contra a exploração e a prospeção e estarem prontos para levar os protestos às últimas consequências.
Tentámos também obter posição da parte da Junta de Freguesia de Peraboa, mas pelas várias tentativas que fizemos, não obtivemos resposta…
Fundão diz sim, mas…
O presidente da Câmara do Fundão, é dos autarcas o que tem tido um discurso mais forte exigindo que o Governo seja claro nas suas pretensões, ao qual o Ministro logo respondeu que ele só não percebeu porque chegou atrasado à reunião…
O autarca fundanense diz também que a prospeção e exploração do lítio vem pôr em causa uma riqueza de 350 milhões de euros/anuais na zona de regadio da Cova da Beira, apontando para a necesidde de indeminizações..
Associação de Regantes pretende estratégia conjunta, com Caderno de Encargos
A Associação de Beneficiários da Cova da Beira, que representa os agricultores da zona de regadio de Belmonte Covilhã e Fundão, depois de serem conhecidas as novas zonas de prospeção e que envolvem a sua área, enviou carta aos três presidentes de Câmara e pretende que (em vez de cada um disparar para seu lado) as autarquias se acertem em termos de discurso e de posições, as quais envolvam todos os parceiros implicados com o interesse nestes territórios. Sem fundamentalismos se faça a avaliação concreta dos impactos para cada exploração, apreciando das vantagens e da forma de compensar desvantagens. Referido que isto pode ser destruidor para a região mas também pode ser uma janela de oportunidade para a valorização, criação de emprego, repovoamento e desenvolvimento da região, nomeadamente se com os mesmos critérios, aqui também for feito para além da extração, o processo de tratamento, preparação e aplicação do Lítio.
Matérias que ficam em discussão, num assunto que ainda fará correr muita tinta, mas para o qual, com esta auscultação conjunta, o Correio de Caria pretende contribuir para a melhor reflexão.