Protestos pelo Posto da GNR de Caria
Carienses saem à rua em protesto pelo fecho do posto da GNR a partir das 16h. Convocada pela Junta de Freguesia de Caria a concentração contou com muita população, os presidentes das Juntas de Freguesia de Inguias e Peraboa, também servidas por esta unidade e os órgãos de comunicação social nacionais. O slogan foi “Caria quer o posto todo o dia” e o autarca, Silvério Quelhas prometeu que não vai baixar os braços e se necessário for a população vai de autocarro a Lisboa.
Jorge Henriques Santos

A primeira intervenção coube a Mafalda Carvalho, secretária da Junta de Freguesia que referiu estarmos num processo progressivo de encerramento deste posto da GNR que incentiva à criminalidade. Para além da vila de Caria, o posto da GNR também serve as localidades anexas como Malpique e Monte do Bispo e ainda as Freguesia de Inguias, (com as suas anexas, Carvalhal, Olas e Trigais), no concelho de Belmonte, bem como a freguesia de Peraboa, no concelho da Covilhã, perfazendo um total de 4000 pessoas numa área de 110 km2. Salientou que estamos numa zona rural e agrícola, onde muita população se encontra isolada do centro urbano, ficando isolada e exposta ao mais variado tipo de perigos carecendo de uma resposta rápida em caso de necessidade.
Referiu ainda que o posto de Caria tem neste momento nove militares, mas que nem o serviço de secretaria já tem, sendo feito todo o expediente em Belmonte e que não é possível garantir à nossa população um socorro na meia hora seguinte à ocorrência.
Disse ainda que em 2020 devido à situação pandémica, praticamente metade do efetivo do Posto ficou de quarentena, obrigando à redução também do horário, mas que foi garantido ao Presidente da Junta de então que era uma situação provisória e tudo voltaria ao normal, verificando-se que até agora o mesmo não aconteceu. Concluiu apelando que “fazemos parte do Interior temos obrigação de combater a desertificação e a criminalidade”.

Silvério Quelhas, presidente da Junta de Caria disse que de acordo com o previsto na lei, os agentes da GNR têm 30 minutos desde que é dada a ocorrência até estarem presentes no local, o que é impossível de acontecer se a assistência for dada apenas por Belmonte. Referindo também o facto caricato de os agentes de serviço em Caria terem de se deslocar a Belmonte para levantar e deixar as armas antes de entrarem e saírem no serviço. Salientou que em termos estatísticos e de registo de ocorrências os dados de Caria são sempre viciados, pois se as ocorrências são registadas no posto de Belmonte a partir da 16h, mesmo ocorrendo na área do posto de Caria, não são registadas como tal, tentando assim justificar a desativação do Posto de Caria. Denunciou ainda que os militares de Belmonte em vez de darem assistência em termos de segurança á população, andam em operações stop e provocam acidentes, em perseguições aos moradores de Caria.
Ao Correio de Caria, o autarca da freguesia disse que o último contacto com o comando da GNR a nível distrital foi em janeiro, onde colocaram a necessidade de repor o funcionamento pleno do posto, que o comando ficou de dar uma resposta que até à data não deu. Sobre esta manifestação também ninguém das forças de segurança reagiu, o que revela “a pouca importância que eles dão ao assunto e às preocupações desta freguesia”. Questionado sobre o impacto desta ação de rua e até onde estão dispostos ir, Silvério Quelhas disse que “se isto não for suficiente vamos de autocarro a Lisboa e levamos o nosso protesto até lá”.

Cristina Barata, presidente da Junta de Freguesia de Peraboa, disse ao Correio de Caria que com esta situação vamos ficar muito mais desprotegidos “as pessoas sérias e honestas vão ficar muito mais desprotegidas, enquanto as que não são honestas vão ficar muito mais à vontade, por isso é importantíssimo que o posto que dá também assistência a Peraboa se mantenha em Caria e não passe para Belmonte”, disse a nova autarca de Peraboa.
Luís Adolfo da Freguesia de Inguias disse também ao nosso jornal que “isto é uma vergonha, pois por cada coisa que fecha cada vez ficamos mais pobres, sobre o Interior fala-se muito, mas depois em termos concretos vem o encerramento dos serviços. Este posto não pode fechar”.

Na sessão usaram da palavra ainda outros presentes, o morador Hélder Figueira disse que Caria tem vindo a ser preterida progressivamente e por isso tem vindo a perder serviços, dizendo que “Caria tem gente que quer fazer mais e melhor e parece que Caria finalmente tem um presidente da Junta que se importa com a nossa segurança e com o nosso bem-estar”.
Foi posto a circular um abaixo-assinado onde a população reclama a reposição dos serviços e ali mesmo, no capô da carrinha, se fazia a recolha.
Sobre o envolvimento do Município neste problema, entre a população eram referidas várias considerações com muita ironia, questionando onde estava a Câmara e os vereadores, nomeadamente “o vereador de Caria” e “o secretário do presidente que também é de Caria”. Usando o mesmo tom irónico, Silvério Quelhas “agradeceu o apoio da Câmara e pediu aos que ali estivessem em sua representação para se chegarem à frente a fim de lhes agradecer”, salientando a presença de Joaquim Antunes, como único funcionário da Câmara ali presente.
Já no fim de sessão, surgiu o vereador da CDU de máquina fotográfica ao pescoço, a pedir fotografias e a assinar a petição…

Na sessão de Câmara do dia seguinte, o vereador da CDU, Carlos Afonso, referiu a sua “solidariedade com o povo de Caria que se juntou em frente ao posto da GNR, reivindicando a abertura do posto 24 horas por dia, uma reivindicação com várias promessas não cumpridas da parte de várias entidades”, salientando que não esteve nesta concentração desde o início devido ao fato de ter ficado sem transporte, não explicando no entanto para que queria as fotografias…
Sobre esta manifestação o presidente António Rocha disse na mesma sessão, que à Câmara não foi dado conhecimento e que qualquer manifestação até tem de ser comunicada à Câmara com 48 horas de antecedência, o que a Junta de Freguesia não fez. Relativamente à presença do vereador da CDU, disse que “se o senhor esteve até ninguém o lá viu… e para ter sabido deve ter tido uma luzinha que o avisasse”. A Câmara não teve conhecimento, “mas se o tivesse tido, iriamos decidir se ía ou não, porque a Câmara já tomou as medidas todas e mais que necessárias, sobre aquele problema, e até colocou à disposição da GNR a escola do Ruivo para futuro posto”, reforçou o edil, rematando por seu turno que “também a realidade é esta, não vi aumento da criminalidade em Belmonte desde que foram aplicadas estas medidas”, mostrando-se também indignado por ter visto nos discursos um conjunto de posições que colocam Caria contra Belmonte…. e desvalorizando as referidas 100 pessoas pelo vereador comunista, realçando que “Caria tem 1800 pessoas”.

Mais severo na sua análise foi ainda o vereador (agora independente) André Reis, referindo que a reposição do serviço da GNR em Caria é uma pretensão que merece todo o seu apoio, “como aliás tive a oportunidade de deixar bem claro durante a campanha eleitoral, tendo inclusive realizado uma visita às ditas instalações acompanhado pelo Dr. Fernando Negrão, à data Vice-Presidente da Assembleia da República. Visita em que o atual Presidente da Junta de Freguesia de Caria e o atual Presidente da JSD Belmonte também estiveram presentes e tiveram a oportunidade de ouvir as explicações do representante do Comando Territorial da GNR de Castelo Branco “que se tratava de uma questão de alocação de efetivos por parte de forças superiores, nomeadamente por parte de Lisboa”. Ficando também definido que a via era questionar a Sra. Ministra da Administração Interna sobre as pretensões para com o Posto Territorial da GNR de Caria, para com base nessa informação se atuar como se achasse pertinente. “Estranho, portanto, as declarações do Sr. Presidente da JF Caria à RTP, que nada têm que ver com aquilo que nos foi transmitido na visita ao Posto Territorial em causa”. Relativamente à ausência dos membros da Câmara na manifestação disse que nenhum membro do executivo camarário foi formalmente convidado, ou sequer informado da realização de dita manifestação por parte da entidade promotora e que isso se tem tornado um “modus operandi” do presidente da Junta de Caria, para “apontar o dedo à ausência e denegrir a imagem do executivo camarário junto da população da freguesia”. Dizendo ainda que “Esta conduta pode ser considerada como de má-fé e apenas serve para alimentar vaidades pessoais em detrimento do bem-estar de toda a população de uma Freguesia inteira”.

