Dulce Cariano – Uma Pintora de Malpique

Malpique, Caria, tendo aqui iniciado o ensino primário, embora com a particularidade: “como fazia os sete anos só em janeiro, não era possível ser matriculada no primeiro ano com seis, a professora Filomena, de Caria, dizia à minha Mãe o que estavam a dar no primeiro ano, ela preparou-me e quando entrei na escola fui logo para a segunda classe”, fazendo esse ano na escola primária de Malpique. Depois, foi para a Guarda terminar os dois últimos anos do ensino primário e lá fez o Liceu. Rumou depois para Coimbra, ingressando na Faculdade de Letras, no curso de Filologia Germânica, na altura um curso de cinco anos, acabando por ir fazer o último ano ao Porto. No Porto, porque para aí ia o coração, o namorado, descendente também de Malpique. Vivia no Porto e foi na Faculdade de Letras do Porto que concluiu a sua licenciatura e começou a trabalhar dedicando-se ao ensino, como professora de Inglês e Alemão.


A primeira colocação foi num colégio, em Vila Nova de Gaia. Depois casou e prosseguiu a sua vida no Porto e ingressou no ensino estatal, sempre como professora de línguas, no 3º ciclo e ensino secundário. Passou também pelo ensino superior, lecionando no Instituto Piaget, em Arcozelo.
A paixão pela expressão plástica já vinha de muito nova e o sonho das Belas Artes acompanhava-a desde o liceu, “mas eu não gostava de história e como história era uma disciplina de Belas Artes, não sabia eu na altura que se tratava da História de Arte que nada tinha a ver com a disciplina de história que eu aprendia no liceu”. Acabou assim por seguir para germânicas, porque era boa aluna a Inglês e “sempre com a ideia de um dia tirar um curso, ou fazer uma formação na área das Artes Plásticas”.
Ainda em Coimbra frequentou o Círculo de Artes Plásticas. Fundado em 1958, o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAP), hoje denominado CAPC, era uma associação cultural, pertencente à Associação Académica de Coimbra. Não dava formação certificada, mas teve como docentes grandes nomes da arte na época, ligados à Escola de Belas Artes do Porto, como João Dixo e Alberto Carneiro. Em 2000, ingressou no Atelier- Escola de Pintura de Cedofeita, no Porto, até março de 2020 (o ano de todas as viragens…) mas sempre como hobby, exercendo a sua atividade profissional sempre no ensino, como professora de línguas.
Apesar de, por modéstia não querer muito falar desse sucesso, é facto que os seus quadros começam a ser reconhecidos e a ser convidada para participar em várias exposições coletivas e selecionada em Bienais, não se atrevendo, pelas mesmos motivos, a apresentar sozinha uma exposição individual.


A primeira exposição onde participou foi em 2001, na Casa da Cultura de Paredes. Depois nunca mais parou, nesse ano foi ainda convidada para outra coletiva no Museu Amadeo de Sousa Cardoso, em Amarante. Em 2002, foi selecionada para a 4.ª Bienal Artes Plásticas, Marinha Grande; na exposição “Artistas de Gondomar”, no Auditório Municipal de Gondomar; na Galeria Craesbeeck, no Porto. Em 2003, na Galeria do Palácio, no Porto e na XX Exposição Coletiva dos Sócios da Árvore, no Porto. Depois em 2005, na Casa da Cultura de Paredes, “Prémio Henrique Silva”; IV Bienal de Artes Plásticas, na Nazaré; na Galeria OWO, no Porto; “Encontr’Artes /2005”, na Casa da Cultura de Paredes; e a XXII Exposição Coletiva dos Sócios da Árvore, no Porto. Em 2006, “Encontr’Artes /2006”, na Casa da Cultura de Paredes; hotel Ipanema Park, no Porto; VI Bienal de Artes Plásticas, Marinha Grande e na Galeria OWO, no Porto. Em 2008, na Livraria Latina, no Porto; na VII Bienal de Artes Plásticas, na Marinha Grande. Em 2009, “100 anos Carmen Miranda”, em Marco de Canaveses. Em 2011, “Concurso Carmen Miranda”, em Marco de Canaveses. Em 2013, no “Prémio Abel Manta de Pintura”, em Gouveia. Em 2019, na 3.ª Bienal Internacional de Arte Gaia e na Galeria “Days Are”, no Porto. E já em 2021, na 4.ª Bienal Internacional de Arte, em Gaia.
Acerca dos motivos que pinta disse que não tem uma motivação especial por um assunto, saindo-lhe normalmente algo relacionado com as situações de atualidade, ou com aquilo que está a viver.


Questionada também sobre as suas influências artísticas, ou a corrente com que mais se identifica, Dulce Cariano refere que não destaca nenhuma em especial, bebeu de facto da influência de vários artistas. “Posso dizer que tive oportunidade de ter visitado os melhores museus da Europa e, por esse facto, muitos pintores me inspiraram ou me inspiram com o seu estilo e os seus motivos. “Para fazer os quadros para os meus Pais que tenho aqui em casa, uma vez que eles não gostavam de estilos modernos, inspirei-me nos impressionistas. Fiz alguns quadros em que me inspirei em Silva Porto, um naturalista português, que pintava imagens do mundo rural, com uma luz e cor quase fotográficas.”


Está representada na Câmara de Belmonte, com um quadro, oferta sua que está patente numa das salas do edifício, na altura o gabinete onde a sua prima, Drª Sofia Fernandes, exercia as funções de vice-presidente, em 2014.
Como atrás referimos, regressou à sua Aldeia de Malpique em março 2020, devido ao confinamento. Após o falecimento de sua Mãe, em junho do ano passado, vem cuidando de seu Pai, com 95 anos de idade. Acaba de preparar um espaço para seu atelier e sonhava poder encontrar ou ajudar a criar uma galeria, aqui no concelho, na nossa freguesia, ou mesmo na nossa aldeia. “Não sei até que ponto, Caria, ou até o concelho, terá apreciadores de arte que justifiquem uma galeria…, mas onde se pudessem expor trabalhos, fazer workshops, formação, trazer até alguns pintores…” Fica a ideia, concluímos nós, apreciando os trabalhos de Dulce Cariano que pretende nesta fase da vida e com o regresso às origens, dedicar-se com mais acuidade ao seu “sonho de menina” que nunca abandonou…

Jorge henriques santos

One thought on “Dulce Cariano – Uma Pintora de Malpique

  1. A pintura é uma das artes plásticas que aprecio; sempre que se realizam exposições no nosso concelho, sou visitante interessado e quase sempre adquiro uma obra quando se trata de artistas da «terra». Possuo meia dúzia de obras de artistas do concelho…
    Espero que a Camara veja esta publicação e convide esta artista a expor.

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