Encontro poético na Covilhã

Museu de Arte Sacra Com Poesia

Decorreu neste sábado 14 dezembro no Museu de Arte Sacra da Covilhã, o 1.º Encontro Poético da Beira Baixa, do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética. Este encontro teve como perspetiva promover a Poesia por ocasião do Natal e ao mesmo tempo provocar um momento de reflexão sobre Escrita e Poesia.

Na sala de rés-do-chão do Museu foram instaladas pequenas bancas, onde os autores participantes colocavam suas obras em exposição, bem como outra mini-banca da Associação Poética, onde figuravam, as suas mais recentes publicações, quer da sua revista periódica, as suas 20 Antologias Editadas e edições de alguns associados.

Pelas 15h, na belíssima sala com recanto no primeiro piso, entre belas imagens de Santos, missais e adereços religiosos, aconteceu poesia no seu melhor, em estilo de colóquio e tertúlia, abrilhantado por apontamentos musicais de viola e canto proferidos por António Duarte. Da mesa fizeram parte o escritor João Morgado; a professora Rogélia Proença; o jornalista Jorge Henriques Santos, em representação da entidade promotora; e a Professora Doutora, Maria da Graça Sardinha, em representação do Município da Covilhã.

João Morgado, começou por referir a importância das suas vivências humildes de infância numa família onde “não era frequente o convívio com a leitura, mas tudo se conjugava para que o convívio familiar, a ausência de televisão e o silêncio criassem condições de apetência para a escrita”. Realçou o importante papel que teve para si e as pessoas da sua geração e no seu meio, a biblioteca itinerante da Carrinha da Gulbenkian que proporcionava a oportunidade do contacto com os livros e despertava a apetência pela leitura. Depois foi como dar sentido a uma força interior que passa entre o desejo de ler e a necessidade de escrever. Justificando assim, de modo muito simplista, o seu percurso de sucesso em vários domínios da escrita. Um percurso que como sabemos lhe tem merecido o melhor reconhecimento nacional e internacional, através do vasto conjunto de prémios que lhe têm sido atribuídos.

A professora Rogélia Proença, autora de mais de uma dezena de livros a solo e outras tantas participações em obras coletivas, disfruta também de reconhecido mérito com inúneras distinções sobretudo no domínio da poesia. Referiu em primeiro lugar que “cada poeta tem a sua poética”, o que quer dizer que a Poesia é um caminho e que a escrita surge como uma necessidade que se vai desenvolvendo e exercitando. Onde a Unicidade do Sujeito por vezes se afirma, mas por outras se multiplica onde o poeta pode assumir várias facetas, dando exemplo de Fernando Pessoa, como se outras personalidades encarnasse ao mesmo tempo, ou como se fosse um “Mensageiro dos Deuses” como chegou a ser identificado na filosofia.

A professora Maria da Graça Sardinha, começou por saudar a iniciativa e harmonia de decorrer naquele lugar onde por si só se respira poesia, referindo que Poesia é vida, Poesia são pessoas, Poesia é povo, parafraseou depois Otávio Paz para quem a poesia é a forma natural de convivência entre os homens e a sua crítica é um diálogo aberto com o mundo, sendo seu desejo “a busca de identidade da natureza humana na multiplicidade de signos”. Lendo do mesmo autor e excerto do livro “O Arco e a Lira” . onde o escritor apresenta a Poesia como “tudo aquilo em que há vida”, concluindo a sua comunicação com o Poema de Manuel Alegre “É Natal”.

Num segundo momento foi sendo interpelada a assistência, constituída praticamente pelos poetas e autores presentes na exposição, onde cada um explicou em que contexto e porque motivos se despertou para a escrita, a razão porque escreve e quando faz. Com a palavra para: Anabela Silvestre; Nazaré Ferreira; Alice Peixeiro; Sofia Figueiredo; Célia Bonifácio; Fátima Quelhas e António Pinho. Enquanto a escritora e poeta Rogélia Proença fazia a ponte entre o testemunho de cada experiência e os vários sentidos que pode ter a poesia, segundo também os vários autores, seja como por impulso de tristeza, ou de alegria, ou ambos…

Um desfiar e partilha de histórias de vida, de motivações e de contextos, onde a poesia acontece na vida das pessoas quer se lhe dê sentido escrito e esses escritos ganhem forma de livro, ou apenas fiquem no baú, à espera de oportunidade para serem editados ou tão só por fazerem parte da intimidade como desabafo do poeta em determinado momento. Porém nesta forma genuína de colóquio acontecia também a tertúlia com a partilha do seu poema por cada interveniente. António Duarte trouxe a componente musical com vários poemas dos autores presentes, musicados por si.

Destaque ainda para outras presenças, como a de Adelino Fernandes que por via da sua condição de mobilidade, não pôde subir ao primeiro andar e participar no colóquio, mas não deixou de ali trazer os seus trabalhos, ou de António Pinho, uma figura incontornável na Covilhã, que com superior esforço aqui “se veio refrescar” como ele disse.

Da parte do moderador e representante do Mensageiro da Poesia, foi dito que apesar de a componente de venda de livros não ter sido conseguida, por diversas razões, em termos de realização cultural, o encontro revestiu-se de extraordinária riqueza cultural e formativa, sendo demonstrado que a Covilhã tem massa humana e potencial em quantidade e qualidade, para se tornar palco regular de mais eventos deste género. Ficou expresso o propósito de aqui se constituir um núcleo da Associação Cultural Poética e, se não for antes, aqui se poder realizar uma interessante actividade comemorativa do Dia da Poesia, em 21 de Março, próximo.
jhs

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