“Palavras de Sabedoria que o Tempo não Apaga”
Livro de Carlos de Vasconcelos

Será apresentado no próximo dia 4 de maio no Museu Judaico o livro “Palavras de Sabedoria que o Tempo não Apaga”, uma obra de Carlos de Vasconcelos, feita ainda no período da Pandemia, no âmbito do Projeto Esperança CLDS 4G. situação mais que oportuna para a presente entrevista. .

Jorge Henriques Santos

Correio de Caria: Carlos de Vasconcelos, em primeiro lugar fale-nos do livro, do que consta? O que aborda? Que conhecimento nos traz?
Carlos Vasconcelos: Como refere e muito bem, em tempo de Pandemia, cito palavras do livro “No momento em que uma pandemia atravessa a humanidade e ao fim de um ano e poucos meses de confinamento, denota-se a necessidade de falar com o outro, de olhar, ver a face sem máscara e a abertura para estas tão extraordinárias entrevistas, que deram asas para o nascimento deste livro, tão ansiado.”
Este livro vai “prolongar eternamente as palavras sábias de histórias e poesia dos nossos “Avós”, promover a leitura, contribuindo para formar leitores e eternizar palavras sábias que o tempo, desta forma não apagará.”
É uma obra que aborda vários temas desde a inclusão social, o Estado Novo, os capitães de Abril, a violência doméstica, a aldeia, o campo, as alegrias e tristezas de vidas tão marcadas pelo tempo.
Traz-nos o conhecimento da história de um povo que contribuirá para um património único e cultural, para o município e para o País.

C.C.: – Como surgiu a ideia e porquê?
Logo que chego a Malpique em abril de 2020, entreguei um projeto meu à Câmara sobre o envelhecimento ativo e a intergeracionalidade. Sendo aprovado, ingressei no CLDS 4G e estando inserido no Eixo 3: Promoção do envelhecimento ativo e apoio à população idosa – apresentei um novo projeto que era a concretização deste livro. O recordar das histórias de “mê” pai e “mê” avô.

C.C.: – Como foi feito esse trabalho?
C.V.: – Fiz 102 entrevistas em todo o concelho, percorrendo estradas, caminhos, casas, cafés, centros recreativos, perguntando às pessoas se gostariam de participar nesta obra e se aceitavam que as entrevistasse bem como solicitando autorização para as fotografar. Foram poucas as que não aceitaram tirar fotos, como se constata na obra.

C.C.: – Havia assim algum critério para a escolha dos entrevistados, ou foi aleatório?
C.V.: – O critério foi aleatório, a principal preocupação era poder abranger o maior número de pessoas por localidade.

C.C.: – Qual foi a reação das pessoas? Todas aceitaram dar depoimento, ou algumas recusaram?
C.V.: – A reação foi muito positiva, ninguém se recusou a colaborar, pelo contrário, até se ofereciam e convidavam o amigo ou o vizinho.

C.C.: – Entretanto este trabalho já estava concluído há algum tempo. Porquê a edição só agora?
C.V.: – Terminei e entreguei o trabalho ao Município em 2023, no entanto, devido a situações que me transcenderam, só no ano transato foi aprovado na câmara e aceite a sua publicação com apoio da mesma.

C.C.: – Ainda é editado no âmbito do CLDS 4G, ou é já na nova geração do CLDS.
C.V.: – Não, ele é editado por uma editora que apresentei ao município, entre outras, e foi editado, como já referi, com o apoio total da Câmara Municipal de Belmonte.

C.C.: – O prefácio é do Presidente da Câmara de Belmonte. Por algum motivo especial?
C.V.: – O Presidente quis ter o prazer de o escrever e foi uma honra para mim. Sublinhou o valor da obra como um património cultural único.

C.C.: – Qual vai ser o preço de venda ao público e onde pode ser adquirido?
C.V.: – O preço será de €15,00 (quinze euros). Poderá ser adquirido no lançamento do livro e à posteriori em alguns locais que eu mencionarei nas redes sociais, assim como, me poderão contatar diretamente.
Desejo realçar que o livro é oferecido a todos os entrevistados, porque esta obra é deles, são as suas histórias, as suas vidas, que transformaram este livro numa realidade.

C.C.: – Falemos agora do autor: O Carlos é natural do Porto, onde estudou e foi criado que ligações tem a Belmonte e a Caria?
C.V.: – Sou efetivamente natural do Porto, no entanto a aldeia onde hoje resido, Malpique, é donde o meu pai é natural. Desde criança com uma ligação muito forte a esta terra, aos seus costumes, tradições e histórias, ao meu avô e suas gentes.
O meu percurso académico foi feito na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, estudando Ciências da Educação.

C.C.: – A sua atividade profissional era em que área?
C.V.: – Estive mais de 25 anos ligado ao ensino, com centros de estudos, artes e escola de música, no Porto. Sou músico profissional, com o instrumento de guitarra clássica, e carteira profissional de voz e instrumento.

C.C.: – Este é o seu primeiro livro, ou já conta com outras experiências literárias?
C.V.: – É o meu primeiro livro e, no entanto, espero que seja o primeiro de muitos. Participo também no Mensageiro da Poesia, onde no ano passado foi editada uma antologia de autores que fiz parte.

C.C.: – Para além destas áreas que descreveu, há também o Mundo da música, como e onde começou a tocar?
C.V.: – Longa história, comecei a tocar, na Igreja do Bonfim e em festas familiares. A minha mãe cantava o fado para nós e o meu avô materno tocava e cantava também. Depois participei no primeiro festival da canção do Norte e, a partir daí, sempre sem parar. Tive bandas, vários grupos, mas nada que chegue ao sossego de tocar e cantar a solo, isto não quer dizer que não esteja recetivo a alguma proposta de grupos.

C.C.: – Qual é o género, ou o estilo musical onde considera que o seu estilo está inserido?
C.V.: – Desde a música de intervenção, aos anos 60/80, ao fado de Coimbra e Lisboa.

C.C.: – Nestes cinco anos já o pudemos ver atuar em vários sítios, quer referir, pelo menos os mais emblemáticos.
C.V.: – Foram diversos sem dúvida e todos eles com um cariz especial, cada um com um propósito e uma relevância particular. Agradecer ao Mensageiro da Poesia a oportunidade de poder participar em alguns eventos, às Juntas de Freguesia de Caria, Meimoa, Vale da Senhora da Póvoa, Silvares, Vila de Carvalho, Covilhã.

C.C.: – E para o futuro próximo o que tem já na sua agenda?
C.V.: – São vários:
No 25 de Abril a convite da Câmara de Penamacor, estarei da parte de manhã no Salão Nobre
À noite, na Junta de Freguesia do Vale da Senhora da Póvoa, a convite dos mesmos.
Dia 26 a convite da Junta de Freguesia do Sabugal, à noite

C.C.: – A propósito de 25 de Abril, cuja data comemoramos também com esta edição (parafraseando o Batista Bastos) “Onde estavas no 25 de Abril”?
C.V.: – Ia para as aulas, para a Escola Oliveira Martins no Porto, quando deparamos que se encontrava fechada e tomamos conhecimento do que se passava.

C.C.: – Como recebeu a notícia e viveu esses acontecimentos nos seus 15 anos? Como foi a vibração dessa época?
C.V.: – Era uma notícia, em certa medida, já aguardada. Foram tempos de luta, pela liberdade, de luta pela união, pelo povo, participei em muitas manifestações fugindo da polícia de choque e do gás que atiravam, era a força da juventude que eu gostava que hoje fosse um pouquinho parecido.

C.C.: – Que impactos teve na sua vida familiar, estudantil e social?
C.V.: – Os impactos próprios de uma revolução. Tanto a nível familiar como estudantil e social, foi o alívio de sentirmos que eramos livres, para falar, expor ideias, tocar, cantar. Esquecer que antigamente era proibido a coca-cola (que só bebíamos em Espanha) como livros e músicas que em Portugal não passavam.

C.C.: – Que mensagem pode um poeta, escritor, músico e interventor social, deixar neste 51º aniversário do 25 de abril?!
C.V.: – Neste 25 de Abril, 51 anos depois da madrugada que devolveu ao povo o direito de sonhar alto e viver livre, deixo estas palavras não como celebração apenas, mas como compromisso.
Sou poeta — e a poesia, como a liberdade, não se explica: sente-se, canta-se, vive-se.
Sou escritor — e escrevo com as palavras que Abril me permitiu dizer sem medo.
Sou músico — e cada acorde que solto no ar é filho da liberdade conquistada.
Sou interventor social — porque a liberdade sem justiça é dignidade para todos, ainda é só metade do caminho.

Hoje, mais do que nunca, precisamos lembrar que a liberdade não é um ponto de chegada, mas um ato contínuo. Uma flor que só vive se for cuidada todos os dias, com coragem, com amor e com memória.

Aos leitores do Correio de Caria, deixo o apelo: que cada um seja guardião de Abril. Que cada gesto, cada criação, cada intervenção na comunidade continue a erguer pontes onde outros querem muros. Porque só com cultura, consciência e afeto é que Abril continua a florir.
Viva o 25 de Abril — sempre!

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