O Dia da Mãe antigamente coincidia com a Festa da Imaculada Conceição, celebrada, como muitos dos nossos leitores sabem, no dia 8 de dezembro. O Dia da Padroeira de Portugal foi inscrito no calendário litúrgico, em 1477. É padroeira da Paróquia de Peraboa, mas, infelizmente, nunca teve qualquer tipo de expressividade enquanto festa profana. Em algumas aldeias do nosso país, muitas das festas de inverno foram “transferidas” para o mês de agosto, como é o caso da Festa de S. Sebastião do Escarigo (Três Povos), que é celebrada no dia 20 de janeiro e no verão, fenómeno que tem a ver com a emigração.
Peraboa deixou de festejar, para quem não sabe, a Festa de Nossa Senhora das Preces, em que ocorriam dezenas de romeiros a Peraboa, no séc. XVI, entre outras, e mais recentemente, a festa do Espírito Santo. As festas religiosas continuam a ter um forte impacto na vida nas aldeias, que justificam a reunião da família e da própria comunidade local; não esquecendo a questão da manutenção das aldeias, ou seja, ninguém tenha dúvidas, a Igreja ocupa um papel primordial nas rotinas dos meios mais rurais deste Portugal adentro, como é o caso das celebrações das Eucaristias dominicais, que acabam por quebrar o isolamento das pessoas. Os crentes saem de casa para a prática do culto e, no final, conversa-se, acaba por beber-se um café, fala-se de qualquer coisa, que importa?… É importante que a Conferência Episcopal pense em novos modelos para que o domingo continue a “ser respeitado”, embora atualmente não seja possível devido à falta de vocações. A responsabilidade social da Igreja é um desafio permanente, que todos nós reconhecemos. Há aldeias do nosso Interior que não têm apoio médico, apenas resta a visita de um sacerdote, uma vez por mês, ou quando agenda o permite.
“A messe é grande e os operários são poucos”.
Hoje, como nunca, a Igreja tem que continuar a manter a sua presença, convidando outros protagonistas para a sua “messe”, como licenciados em teologia, leigos devidamente preparados, homens e mulheres que estejam disponíveis para ajudar a quebrar o isolamento das nossas aldeias e das pessoas que a habitam. Equipas essas que, na minha opinião, não devem substituir o estado nas suas responsabilidades.
Além do isolamento das pessoas, não nos podemos esquecer que todo o património ligado à arte sacra corre sérios riscos, bem como as suas tradições, o tal património Imaterial que deve ser salvaguardado. Um dia destes temos aí uma candidatura para salvaguarda das procissões à UNESCO.
Também sabemos que a agenda do clero é arrepiante. Contudo, não queremos somente padres “fazedores de missas”, nem tão pouco uma Igreja arredada dos problemas da sociedade (nunca esteve). Queremos uma Igreja (todos os crentes) ainda mais presente, mais próxima, creio, mais pragmática, que consiga “ir além” da sacristia e do adro da Igreja. Acredito na reinvenção da Igreja e das Dioceses portuguesas. Tenho esperança e a certeza absoluta que Ela estará à altura dos novos desafios, cumprindo o seu propósito principal e a sua missão evangelizadora. Uma reflexão importante para este Natal, centrada na ação.
Seja como for, até quando é possível ouvir o toque do sino para a celebração da Eucaristia?
Boas Festas.