A oliveira e o azeite

Paulo Silveira

Em 2019 o Conselho Executivo da UNESCO recomendou que no dia 26 de novembro de cada ano fosse comemorado o Dia Mundial da Oliveira para se assinalar o significado desta árvore ancestral como símbolo universal de paz e harmonia. Foi então enfatizado que a oliveira contribui para o desenvolvimento económico e social sustentável de muitos países, bem como para a preservação dos recursos naturais.
Esta árvore de origens mediterrânicas pode viver séculos, não deixando de dar frutos mesmo em condições adversas, razão pela qual também é vista como símbolo da resistência.
Sobre a origem da oliveira alguns autores fazem remontar os seus primórdios a doze mil anos a.C: e indicam a Asia Menor como sendo a sua proveniência. A mesma incerteza passa-se com a génese do seu cultivo, que poderá ter começado há cerca de seis mil anos, é sem dúvida, uma das árvores cultivadas mais antigas do mundo.
Os fenícios tiveram um papel muito relevante na difusão da árvore por todo o Mediterrâneo e, também, na Península Ibérica, no início do XI a. C. Os romanos e o seu império dinamizaram o seu cultivo, tendo sempre um importante papel na economia mediterrânica, nomeadamente em Portugal. Os visigodos e os árabes foram seus seguidores, a palavra azeite tem origem árabe – al-azait – que significa “sumo da azeitona”.
A tradição do azeite na cultura portuguesa é deveras evidente, estando presente no nosso quotidiano desde esses tempos longínquos. Utilizado no passado, entre outras funções, como combustível para iluminação, loção corporal ou medicamento, tornou-se também um pilar na nossa gastronomia. As suas caraterísticas sensoriais únicas juntam-se as suas propriedades saudáveis cada vez mais valorizadas nos nossos dias. É unanime que falar de azeite é falar de saúde.
O milagre do azeite é nos lagares – cheios de memórias e cheiros que só quem teve a felicidade de os ver em plena faina, aqueles momentos de infância nos acompanham pelo tempo fora – dando razão àquela expressiva adivinha popular:
Verde foi meu nascimento
E de luto me vesti;
Para dar luz ao mundo
Mil tormentos padeci.
Pois, este padecimento da azeitona para se tornar nesse precioso néctar que é o azeite, transporta-nos para outra dimensão – a do azeite, com os usos que lhe estão associados na alimentação, no misticismo das mezinhas e das benzeduras, no adagiário…
Um dos momentos altos do lagar é no fim da jornada, a “lagarada” com a tibórnia, o azeite caindo sobre o pão torrado nas brasas e também sobre o bacalhau e as couves. Diz o povo que não há melhor conduto que o azeite. Enfim, o azeite, é verdadeiramente uma bênção de Deus!
Na nossa região vai-se iniciar a apanha da azeitona. Desejo a todos os que vão participar uma boa campanha ao som da música do saudoso Arlindo de Carvalho natural da Soalheira.

A azeitona já está preta;
Já se pode armar aos tordos.
Diz-me lá, Ó cara linda:
Como vais de amores novos

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