Amália Rodrigues e a suas raizes

Pedro Silveira
Professor do Ensino Básico
Peraboa

Amália Rodrigues, nome sobejamente conhecido no mundo, pátria de um país. Amália continua a ser a grande Diva do Fado, a mulher, a fadista, a artista, a atriz. Quem a amou verdadeiramente? O Povo que nunca a abandonou nas noites brandas. E quem é, verdadeiramente, Amália? Irei responder mais à frente.
Há pessoas que se cruzam na nossa vida, que nos preenchem pela sua estória de vida. São esses apontamentos, quem vive nesse universo, que nos permite conhecer pessoas, como foi o caso da assessora e amiga de Amália Rodrigues, Estrela Carvas, que durante trinta anos trabalhou para a nossa Amália Rodrigues. Não tenhamos dúvida, a Estrela foi a grande confidente e amiga de Amália Rodrigues. Aquando de uma digressão por África, no tempo do Estado Novo, Estrela acompanhou Amália e a partir daí começam uma grande aventura. Recentemente, a Estrela doou ao Município do Fundão o seu acervo pessoal, colecionado desde os 11 anos. Estrela deixou-me entrar no vasto mundo de Amália, também no seu, nos mundos de Amália que conquistou durante a sua longa carreira. Gosto da Estrela, gosta do seu sentido de humor, da sua ironia e das mil histórias que me contou acerca de Amália Rodrigues. Umas já as revelei, outras irão ficar somente para mim. Amália Rodrigues também tem uma ligação a Caria, o dia em que a nossa Diva veio à Vila atuar. O cartaz do evento encontra-se na Casa Etnográfica da Vila.
Respondendo à pergunta, Amália Rodrigues foi batizada na Igreja Matriz do Fundão em 1921. O registo encontra-se na Paróquia do Fundão. Por terras do Fundão viviam na Rua dos Galegos a família de António Joaquim Gonçalves Rebordão, natural de Souto da Casa, casado com Ana do Rosário Bento, de Alcaria. Desse matrimónio nasceram 16 filhos, uma das filhas desse Casal chamava-se Lucinda Rebordão, a mãe da nossa fadista Amália Rodrigues. Lucinda Rebordão casa com Albertino Rodrigues, e o jovem casal foi residir para uma casa simples no Rua dos Galegos. Os pais de Amália foram para Lisboa à procura de melhores condições de vida e mais tarde regressam ao Fundão. A bebé Amália fica com os avós – António e Ana – até aos 14 meses , em Lisboa, tendo em conta que viviam lá. Por volta dos 14 anos junta-se aos pais.
No próximo dia 6 de outubro, vai fazer precisamente 24 anos que Amália Rodrigues nos deixou, apenas fisicamente, já que a sua alma continua presente na vida de tantos admiradores. Muitas pessoas não sabem mas Amália foi a primeira Mulher a merecer honras de Panteão. O Município de Toronto, Canadá, instituiu o Dia de Amália, em 1985. Por cá, na Terra Natal de Amália, Fundão, as raízes de Amália preparam-se para abrir a Casa Amália Rodrigues.
Outras curiosidades, sobre a mãe de Amália, Lucinda Rebordão que casou com Albertino cantava muito bem e o seu pai que era sapateiro/seleiro, era um excelente tocador de cornetim, cobiçado pelas duas bandas da Vila. Amália Rodrigues foi uma grande corajosa, pois revolucionou o Fado em Portugal, passou a cantar com guitarristas e começou a vestir-se de preto. Contudo, Amália Rodrigues deixou a sociedade portuguesa estupefata, a tal sociedade paroquial, a burguesia conservadora. Perguntar-me-ão, porquê? As críticas dos puristas vieram de todo o lado, uma vez que Amália resolveu cantar os poemas de Luís Vaz de Camões, como foi o caso de “Dura Memória”. O fado estava ligado a um universo escuro, mal visto pelas elites, devido aos tais ambientes das tabernas. Essa revolução chegou pelas mãos de Alain Oulman, com o disco “Busto”, gravado em 1962. Basta ouvir o tema “Abandono”, da autoria de David Mourão-Ferreira, que é majestoso. Amália dizia: “Eu esperava por um músico como o Alain”. De origem judaica, o músico herdou uma espécie de editora de seus pais. Foi ele que aconselhou Amália a cantar esses grandes poetas portugueses, os poemas que Amália tão bem sabia interpretar, “abrir, ampliar o fado”, permitiu que o fado saísse da escuridão, da melancolia.
Das terras das Beiras, do Fundão herdou os “rodriguinhos”, de um cantar diferente. Do Fado vindo de um mapa de cultural, talvez dos árabes, que resistiram à Reconquista Cristã. Amália, continua entre nós, hoje e sempre.

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