
“Não tinha berço a gruta em que nasceu…”, ouço dentro de mim, continuo a ouvir “em palhinhas estás deitado…”, ele, o Menino Jesus verdadeiro que via nas mãos do Prior, quase nuzinho, a quem dava um beijo nas perninhas. A mente acolhe este doce encanto recuperado da infância, na Beira, junto à serra, gigante adormecido.
Vão longe esses dias que moram dentro do coração, a gerar concórdia = com o coração, antes de mais, comigo mesmo, e com quem me rodeia, hoje, aqui.
…Hoje, aqui – ele, os humanos como ele – não têm berço, nem gruta, nem pai nem mãe, nem irmãos, nem homens como eles para os aceitar como irmãos.
…Hoje, aqui, dormem num vão de escada onde um vizinho de ocasião os deixa ficar, uma arcada, uma soleira abrigada, com a companhia de cartões e cobertores velhos.
…Hoje, aqui, estão sós, velhos e fracos, cana frágil ao vento, na casa vazia, sem lareira.
A minha mente avaliadora, contrapõe: – não soube governar-se: deixou-se ir abaixo; cortou com parentes e amigos…caiu na rede do sistema …É a vida…
O coração, esse, segreda-me: – oh, pára aí, e tu? (talvez o leitor e outros em volta). Tu, que te vais abaixo quando algo te apontam…que te afastas dos amigos por nada… que entras nas lojas que vendem tudo menos amigos e irmãos (diz o Princpezinho) … que foste apanhado pelo sistema… tu, consumidor de multinacionais do lucro, das armas, das pessoas e de outros ópios… dependente, marginalizado sem o saber…
Pára, Manuel, pára Maria, apanha e segue outra onda, chama pelo nome ao Luís que está enconstado a uma árvore no jardim, dá-lhe tempo para ser ouvido, um sorriso, um bom dia franco, uma mão para se levantar, a ele e a tantos como ele.
Pára mesmo, faz outro natal que este já foi, “renuncia às coisas inúteis e partilha “, segue a proposta limpa de Teresa de Ávila: “deixa-te de arroubos místicos e vai dar o caldo aos pobres que estão do lado de fora da porta do convento”.
Avelino Pinto
Tu, é que, certamente, ficarás e andarás melhor.