“Vós que ides passando,
lembrai-vos de nós que estamos penando”

Dirigente Associativo
Três Povos
Quando se sai da freguesia de Peraboa, perto da quinta do Pereiro, no cruzamento para Caria e para a Capinha encontra-se há 220 anos (1804-2024), um oratório de culto, considerado património artístico-religioso, símbolo da religiosidade e do sentido piedoso do povo, que nos convida a uma prece pelas “Almas do Purgatório”.
Trata-se das “alminhas”, designação pela qual são conhecidos, popular e piedosamente, estes altares propiciatórios em favor e memória dos fiéis defuntos.
É frequente depararmos com estas pequenas construções erguidas á beira das estradas, nos caminhos, nas encruzilhadas, ou mesmo no meio dos campos em locais ermos ou habitados.
A sua localização está relacionada não só com o culto dos mortos, mas também com a proteção dos viajantes nos lugares de passagem.
Independentemente das celebrações piedosas pelos defuntos, refira-se um culto que, desde há séculos, se presta às almas do Purgatório. Manifesta-se pela existência de pequenos altares ou nichos construídos em pedra ou cimento, guarnecidos por pequenas imagens religiosas (esculpidas em pedra ou barro, ou pintadas de forma singela em azulejos), alusivas a santos ou ao Purgatório este termo tem feito desde sempre parte do imaginário popular, como um limbo, um lugar situado entre o Paraíso e o Inferno. A partir de meados do século XVI institucionaliza-se e torna-se um dos cultos mais fortes da época moderna.
As “alminhas” são uma das expressões mais originais da arte popular portuguesa e expressam a religiosidade do nosso povo.
Revelam, por vezes um ato de mão piedosa, dado pelo sinal da deposição de algumas flores, ou pelo acender de uma vela lamparina ou candeia de azeite, cuja chama, a alumiar a noite, nos faz lembrar os que já não se encontram entre nós. E, porque nem só de rezas vive o homem, encontramos ainda na maioria destes oratórios um pequeno orifício ou uma caixa encorpada na própria pedra com uma tampa e uma ranhura para depósito de esmolas destinadas às missas que devem ser mandadas rezar pelos mortos, bem como, para custear as despesas do azeite ou velas que devem iluminar o painel ou retábulo as 24 horas por dia, sem esquecer o “bendito” cadeado que protege dos roubos.
Quantos e quantos de nós desta região da Cova da Beira já ali passámos e olhamos para este monumento de 1804 que se mantem vigilante, aguardando uma prece pelas almas do purgatório.
É desejável que este património tão genuinamente português seja preservado e salvaguardado. É urgente defender esta herança cultural, de facto, além de ser uma das expressões da arte portuguesa, é um testemunho do passado e, é sobretudo uma memória a preservar.
Com esta proveta idade merece uma pintura digna!
