As fogueiras de S. João fazem parte da antiga tradição pagã, de celebrar o solstício de Verão.
O costume das fogueiras de S. João é desde épocas muito antigas (numa carta de perdão de D. Afonso V datada de 1451, vem expressamente citado o costume de saltar fogueiras) na véspera de S. João. E, o mesmo sucede num documento de 1729 que considera a costumeira como uma diversão.
O aparecimento das festas S. Joaninas, sem sombra de dúvidas, já se encontravam “arreigadas”, desde épocas remotas, nos usos e costumes de todos os povos semita e indo-europeus, nelas concorrendo as costumeiras e crendices que rodeavam as comemorações do solstício veranil, conforme Teófilo Braga, escreveu em 1885 no seu livro, “ O Povo Portuguez nos seus Costumes, Crenças e Tradições”.
Também, existe uma identificação evidente entre as festas em honra de S. João – na época do ano em que se realizam – e as festas rituais, pagãs do solstício do Verão. Não é difícil de acreditar que os rituais, as cerimónias e as alegrias passassem, portanto, para a tradição cristã, com outras motivações mas práticas análogas, como as danças em redor das fogueiras, reminiscências do culto do fogo.
Uma lenda católica, cristianizando a fogueira pagã estival, afirma que o antigo costume de acender fogueiras no começo do Verão tinha as suas raízes num acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Esta teria de fazer uma fogueira no cimo do monte, para avisar que estava prestes a nascer o seu filho (João Batista), assim Maria iria em seu auxílio…
É uma noite festiva e especial, noite de S. João sem fogueiras e mastro na praça, revestido de rosmaninho, não é noite de S. João, com o ar impregnado do fumo e cheiro forte do rosmaninho.
Jaime Lopes Dias refere a este propósito que “ nas vésperas do dia de S. João queimam, rosmaninho, em fogueiras acesas nas ruas, em povoações da Beira Baixa, para que o cheiro e o fumo delas afugentem a bicharada que prejudica as pessoas, os animais, as casas e os campos”. (Etnografia da Beira, Vol. VII; 1990).
É tradição nessa noite comer-se a sardinha assada e o caldo verde e dançar-se até de madrugada. Cada um à sua maneira, participa nesta festa e vê decerto, com olhos diferentes, o passar dos dias e dos anos, o surgir de gerações, o baile, o trabalho, o riso e as lágrimas e, nestes tempos conturbados de guerra e da pandemia surge a necessidade quotidiana de convívio com os vizinhos e amigos, para preservar a sobrevivência social.
Este ano, felizmente, nas “freguesias de fronteira” de vários municípios, Caria (Malpique, Monte do Bispo), Peraboa (Castanheiras) Três Povos (Escarigo, Quintãs, Salgueiro), Benquerença (Anascer) e Casteleiro muitos e muitas “saltarão” as fogueiras e cantarão “ Viva o nosso S. João”.