Bem-Vindos! Bem- haja!

Pedro Silveira
Peraboa

No outro dia conheci uma emigrante mais ou menos da minha idade, cujos pais emigraram para França nos anos sessenta. É médica e casou com um francês. Volta sempre ao seu país no Verão com a sua filha, ao seu torrão, e gostam de andar por aí quase sem programa. Vive nos arredores de Paris e o sucesso profissional é algo de que fala com muito carinho. É elegante, loira, de olhos azuis. Poder-se-ia chamar “Helena”, o nome não importa, assim que falámos mostrou imediatamente um grande interesse em contar a sua estória de vida. A primeira pergunta que lhe fiz foi a seguinte: como é que a comunidade portuguesa ainda é vista em França? Prontamente respondeu, mostrando sinceridade na resposta: “Eu pertenço a um grupo profissional privilegiado, como deve imaginar, porém conheço a realidade dos portugueses. Todos nós somos embaixadores do nosso País, desde a senhora que está à entrada de uma receção até um empresário de sucesso que, na verdade, são muitos. Para os franceses nós somos uma comunidade bem vista, já que não nos metemos em confusões. Contribuímos para a economia do estado francês. Os portugueses da mala de cartão foram heróis de povo, de uma Cultura, que é portuguesa. Os primeiros emigrantes derrubaram fronteiras linguísticas, mas todos eles souberam integrar-se na cultura francesa, um exemplo que fez toda a diferença, relativamente a outras comunidades. Os operários e os pedreiros e serventes são hoje empresários, as senhoras que andavam na limpeza são hoje grandes empresárias de grandes empresas de limpeza; é um orgulho. Da minha geração há imensa gente na política bem sucedida e ocupa grandes cargos. Estes estudaram nas melhores universidades, apostaram nas suas carreiras. Isso deixa-me francamente feliz pela nossa honestidade. Ainda hoje, os franceses só querem empresas de construção civil portuguesas, pela qualidade do serviço que prestam.”
A Helena, nome fictício, queixou-se do apoio à língua Portuguesa, e também me disse que a Língua está na moda. Não consegui entender a expressão “está na moda? Como assim?” Justifica: “Sim, Sr. Pedro, está na moda. Há imensos franceses que fazem questão de aprender português. Eu conheço uma escola que frequentada por uns 500, sem exagero.” Admirado, pedi que explicasse melhor: “Os franceses descobriram finalmente a poesia portuguesa, a poesia das palavras, a nossa literatura, um povo com identidade. Olhe para a Joana Vasconcelos, tantos outros, para a música; é uma língua com enorme riqueza cultural, a sua grande melodia. Portugal é hoje um país que ocupa um lugar central. Somos um país diferente, uma comunidade mais aberta. O nosso turismo é de qualidade. “Fiz questão de transcrever as palavras da Helena, uma vez que não sabia desse grande fenómeno e a paixão que os franceses têm por tudo o que diz respeito ao nosso país. Esse foi verdadeiramente um caminho aberto por esses portugueses rurais, que fintaram o destino, a pobreza, a míngua, provando a Portugal e aos países de acolhimento que eram capazes de derrubar fronteiras. Somos diferentes, até temos uma inveja diferente, que não nos orgulha muito. Passei pela fronteira de Vilar Formoso e assisti a alguma movimentação, agitação. Atualmente já não passam grande parte das férias na aldeia, já que também gostam de usufruir das praias, e visitar outros lugares. Temos uma nova geração de emigrantes. Obrigada por nos ajudarem a levar mais longe a cultura portuguesa, aquele pedaço de orgulho quando ouvimos essas coisas, que nos fascinam. Assim sendo, despeço-me com um “até já”, boa viagem!
Quanto à Helena, esqueci-me de trocar contatos, tenho a certeza que o facebook irá ser a minha “tábua de salvação”… Bem- haja!

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