Se fosse vivo, José Afonso faria 90 anos neste Agosto de 2019. Aqui há um tempo, a pedido do António Macedo, escolhi para a Antena 1 as cinco canções da minha vida. Uma delas era de José Afonso e sobre ela disse no rádio o que se segue:
“São anos de vida assim: sempre que me perguntam qual a melhor canção portuguesa de sempre, eu digo simplesmente “Era Um Redondo Vocábulo”, José Afonso. Sei que é injusta esta escolha – porque eu não conheço todas as canções portuguesas de todos os tempos. Mas é com essa noção de presumível injustiça que ainda assim escolho esta. Ela reúne, a um tempo, o melhor de José Afonso e do seu tempo: a poesia desconstruída, os notáveis arranjos que vão de Coimbra a Angola e voltam, passando por Lisboa a atravessando tempos e tempos, a composição absolutamente irrepreensível de um ambiente, de uma paisagem, onde entramos em apenas segundos e por lá ficamos minutos. Por lá ficamos até ao fim. A canção é redonda, como redondo é o vocábulo – e o génio está ali. Por isso está aqui”.
Mais tarde soube que tinha sido escrita e composta na prisão, algures nos anos 70, o que ainda enriqueceu mais a minha escolha. Nas viagens pela maionese da internet, descobri ontem uma interpretação videográfica em animação 3-D para este monumento da musica popular portuguesa. O autor é Eurico Coelho e aqui fica a minha maneira de, uma vez mais, trazer à superfície uma das canções da minha vida. O pretexto são os 80 anos do nascimento? Nada disso, o pretexto não faz cá falta.