Especial Dia da Mulher “As mulheres devem-se Fazer Valer…”, Entrevista com Graça Neiva Ribeiro

Correio de Caria: – De Onde é natural?

Graça Ribeiro: – Eu sou natural de Lisboa

C:C: -E os Pais?

GR: – O meu pai era de Caria e a minha de ali perto de Alenquer. O meu Pai pertencia à família Ribeiro, cuja pessoa mais conhecida era o Sr. Baetas que foi taxista aqui em Caria e foi presidente da Junta.

C:C: -Onde Estudou?

GR: – Estudei Biologia na Faculdade de Ciências de Lisboa, fiz licenciatura em Biologia Vegetal, depois fiz o Mestrado em Gestão na Católica.  

C:C: -Onde trabalhou?

GR: – Já trabalhei em tantos sítios! Inicialmente trabalhei numa empresa de construção e manutenção de jardins, primeiro na área de produção de plantas e depois passei para a gestão da empresa. Acabando por juntar as duas vertentes da minha formação. Depois tenho andado por aí, trabalhei também como auditora.

Fiz a formação de Técnico Superior de Segurança e tenho trabalhado também nesta área.

C.C: –  Atualmente em que trabalha?

GR: – Atualmente trabalho precisamente como Técnica Superior de Segurança, para uma empresa que faz instalação de linhas elétricas.

C:C: -São áreas que não têm muito que ver umas com as outras, não é?!

GR: – São assim tudo coisas muito variadas (risos). Também já tive uma florista e um Turismo Rural…

C:C: -Aqui em Caria?

GR: – A florista foi em Lisboa, o Turismo Rural é que foi aqui nesta casa.

C:C: -Mas já não tem?

GR: – Não. Não dava fechei!

C:C: -Qual a sua ligação a Caria?

GR: – Olhe fui sempre criada em Lisboa, só vim a Caria depois do meu Pai morrer, já tinha eu 20 anos. Viemos cá ver, porque tinha ficado esta casa de herança do meu Pai. Na altura eu e os meus irmãos pusemos a questão de restaurar a casa. Depois veio a ideia do Turismo Rural.

C:C: -Então só com 20 anos é que veio cá bebeu a água do chafariz e… (riso)!?

GR: – Não, isso não foi logo, pôs-se a questão de um modo e de outro. Depois acabei por ficar eu com a casa, instalar o Turismo Rural, mas dei isto à exploração. Dei à explosão, mas não correu bem. Então eu depois acabei por sair da empresa onde estava. Olhe e vim eu para Caria tomar conta disto.

C:C: -Ainda funciona?

GR: – Não! Alguns anos mais tarde, como não dava fechei a atividade e fui trabalhar para as outras minhas áreas.

C:C: -Na sua atividade tanto em termo de formação como profissionais, sentiu que as mulheres são discriminadas?

GR: – Não! Eu não sou. Eu trabalho num meio de homens e quando trabalhava na empresa de jardins, também a maioria eram homens. Nesta atividade posso-lhe dizer que são cerca de 60 homens e mulher trabalho apenas eu… Claro que às vezes é preciso “como dizer” (risos) ter um bocadinho de “Presença”. Como eu costumo dizer uma no cravo outra na ferradura, eu tenho de ser amiga deles, mas também tem de haver uma linha, (uma linha que separa).

O que eu sinto é que nas empresas continua a haver menos mulheres e no setor das obras muito menos. Lá vai havendo uma engenheira e uma ou outra técnica de segurança, mas em termos do trabalho produtivo, são muito poucos os exemplos. Destaco que aqui na Central de Biomassa do Fundão e num prestador de serviços apareceu uma rapariga eletricista e que em termos de desempenho não era mais nem menos que os restantes elementos da equipe dela.…

C:C: -Tem algum episódio em que situação de discriminação por ser mulher tivesse sido evidente?

GR: – Olhe sinceramente não. Naquela empresa de jardins onde ainda trabalhei 10 anos. Na primeira situação só saí porque o diretor foi incorreto e mal-educado comigo.

C:C: -Mas terá sido assim porque era mulher?

GR: – Acho que se fosse com um homem seria incorreto na mesma. Depois voltei para outro setor, ascendi e quando saí só tinha como superior a mim, o Administrador.

C:C: -A igualdade de género continua a ser uma miragem, ou não?

GR: – Ehhh… Eu acho que a paridade é que continua a ser uma miragem. Embora a legislação o não seja e aponte para que haja paridade.

C:C: -O que pode ser feito para a tornar efetiva.

GR: – Olhe, é as mulheres se chegarem à frente, se assumirem, na realidade continua a haver trabalhos para homens e trabalhos sobretudo para mulheres. De facto, não é como noutro tempo em que as mulheres ganhavam metade dos homens, mesmo fazendo o mesmo trabalho. Mas de um modo geral há trabalhos para os homens que são mais bem remunerados e trabalhos para as mulheres que são menos compensados.

C:C: -O que representam os dados sobre a violência doméstica?

GR: – A minha leitura, em primeiro lugar é que a justiça não funciona, como não funciona noutros casos, não funciona neste também. Normalmente verifica-se que há já queixas anteriores, mas que continua a não se passar nada e depois há morte a seguir. Por outro lado, eu pensaria que isto seria mais coisa do passado ligada a clichés e pré-conceitos “a mulher era suposto apanhar e pronto não havia mais nada…” mas agora nas novas gerações começarem logo com a violência no namoro, ou no controle dos telemóveis, emails, contas das redes sociais…

C:C: -Acha que essa devassa da privacidade é um princípio que pode levar à violência doméstica?

GR: – Se se começa por admitir que cada um não tem direito à sua privacidade, sim! É algo que já não começa bem. Basta que legalmente a privacidade de cada um não deve ser invadida.

Mas acho que talvez se a justiça tivesse mão mais pesada e a sociedade fosse menos tolerante devido àquele ditado que “entre marido e mulher ninguém mete a colher…” As coisas podiam ser menos graves.

C:C: -Concorda com as cotas na política? As listas políticas já são obrigadas a incluir um certo número de mulheres para que haja mais paridade?

GR: – Sinceramente não concordo, primeiro porque essa paridade é um disfarce, porque é que 20 ou 30% e não é metade? Depois como já disse atrás, as mulheres é que têm de se chegar à frente e se querem ir para a política que participem e se candidatem. Eu por acaso não tenho essa vocação, por acaso até gosto muito de flores, (já tive uma florista), mas não me prestava a servir de jarra de flores para compor uma lista, ou uma mesa que é apenas o que muitas fazem…

C:C: -Mas é uma pessoa com opinião!?

GR: – Pois, mas isso é que muitos não estão habituados a que lhes apareçam, mulheres com opinião…

C:C: -Há várias formas de comemorar o Dia da Mulher, em sua opinião como devia ser comemorado.

GR: – Acho que não há comemoração a fazer. Então onde é que está o Dia do Homem? Querem igualdade e depois fazem jantares para as mulheres se juntarem a jantar fora! Eu nunca concordei com isso.

C:C: -Mas a origem do Dia da Mulher tem que ver com os Movimentos de Mulheres para reivindicar melhores condições de vida!

GR: – Se se falar em comemorar uma data porque em termos sociais houve este acontecimento e aquele que foi importante para a paridade, muito bem, mas isso não se faz com jantares só de mulheres… Não me diz muito.

C:C: -Por último, Uma Mensagem para as mulheres

GR: – Que as Mulheres se devem Fazer Valer e fazer a quilo que entendem, com o seu mérito e o seu trabalho.

jhs

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