No mês de agosto, as nossas vilas e aldeias desta Cova da Beira preparam-se para acolher o regresso dos que partiram para o estrangeiro à procura de uma vida melhor.
Agosto é o mês dos emigrantes como cantou Linda de Susa (1948-2022), uma voz incontornável da cultura lusófona, que interpretou diversos temas sobre as dificuldades e saudades dos emigrantes da sua terra natal.
Numa canção sobre as saudades da Pátria “Duas malas de cartão numa terra de França/ Um Português deixou assim Portugal” …
Neste número do “Correio de Caria”, recordo um amigo emigrante, o sr. António Grancho, carinhosamente conhecido pelos seus conterrâneos como o “Tó” Guiomar, que deixou um vazio na comunidade Trespovense (Salgueiro, Quintãs e Escarigo) aquando do seu falecimento em dezembro de 2021, emigrante que simboliza muito estes heróis das nossas terras deste interior de Portugal.
Nascido em 1940 no Casal, frequentou a escola primária nas Quintãs, com o sr. Professor Grancho da vizinha freguesia de Benquerença, após concluir a 4ª classe com distinção passou a ajudar os pais juntamente com os irmãos na agricultura. Fez a tropa em vários quartéis do País sendo mais tarde mobilizado para Angola, regressado da guerra colonial foi a “salto” para França juntamente com muitos outros conterrâneos e de aldeias vizinhas, fixou-se nos arredores de Paris, onde permaneceu várias décadas com a família. Nas férias em agosto regressava sempre ao “seu torrão natal”. E, quando se reformou partilhava os dias do ano nos Três Povos e em França.
Era um Homem bom, no seu jeito varonil e brincalhão, de sorriso aberto, tinha sempre uma palavra amiga e um cumprimento. A vida ensinou-lhe muito e o “Tó” Guiomar foi sempre um bom aluno, aprendendo facilmente o que era importante saber para orientar a seu gosto as amizades que muito prezava, tinha uma capacidade inata para se relacionar com toda a gente, com quem convivia amiúde, deixou grandes exemplos e muitas saudades.
Ele sempre cultivou o prazer da amizade e das coisas simples da vida, profundamente acarinhado pelos conterrâneos e todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer.
A fraterna ligação à sua terra, a familiares e amigos levou-o a escrever vários poemas, essa recolha foi feita num livro editado um ano após o seu falecimento, são versos feitos com palavras simples, com registo de emoções, de marcos e situações da sua vida, um livro de poemas com o título “UM POETA DOS POVOS – Os meus poemas, a minha paixão”.
A sua mundividência, onde pululam experiências marcantes, como os tempos de infância, a guerra colonial, a emigração, os convívios, a família, foi a garantia da sua autenticidade criadora.
Recordar o saudoso amigo “Tó” Guiomar é homenagear todos os emigrantes, principalmente, os das nossas aldeias e vilas da Cova da Beira
Que façam boa viagem de regresso ao “torrão natal”, e Boas Férias neste “querido mês de Agosto”.