Lopes Marcelo; – Covid-19, que lições?

Não são ainda bem certos nem totalmente previsíveis os efeitos do insidioso inimigo invisível que sobressalta o mundo em propagação pandémica. Contudo, a enorme gravidade da situação não pode deixar ninguém indiferente e convida-nos a uma certa paragem para se reflectir e procurar entender as razões e as consequências, afinal algumas lições a serem tiradas desta situação.

Da constatação de que o virús não tem barreiras, tanto ataca o mais rico como o mais pobre, entra em todos os ambientes, quer nos casebres mas também nos palácios, não escolhe idades, credos ou ideologias nem condição social; deviamos retirar uma lição de humildade na igualdade fundamental da nossa condição humana. Sim, o que nos une e nos torna interdependentes e  solidários é muito maior e muito mais importante do que as pequenas diferenças que se situam apenas nas diferentes formas estar e não na cndição do ser. A diferença entre alguém muito rico e ou muito importante e alguém pobre e anónimo, desaparece rapidamente com a circunstância de um dia sem comer e uma noite sem dormir! Assim, a pauta humana da igualdade e da dignidade, da disponibilidade ao diálogo e entre-ajuda, pode e deve ser uma lição quotidiana essencial desta pandemia.

Uma segunda lição possível tem a ver com a frágil noção de progresso, de promessas de crescimento ilimitado que os dirigentes políticos e económicos nos têm vendido na convicção de que as crises se resolvem deitando dinheiro, sempre mais recursos financeiros para  cima dos problemas. Que a tecnologia tudo resolverá e mais tarde ou mais cedo aí estará uma vacina milagrosa.  É de novo a soberba ganaciosa dos senhores do capital e dos chefes  das capitais políticas do mundo, afadigados em grandes discursos  fazendo crer que tudo controlam, entretidos nos seus jogos de poder a  disputar entre si quem mais manda, quando não passam quase sempre de simples marionetas face ás forças da natureza tais como as alterações climáticas, os terramotos, as explosões vulcânicas e as epidemias. Tudo complicam, baralham e voltam a dar, agarrando-se ao poder e é toda a sociedade que sofre as consequências económicas, sociais e de saúde pública. Sofre-se colectivamente, morre-se e para eles são estatísticas, mais números, meros números. Não param, não mostram a saudável fragilidade e a necessária humildade  de saberem ouvir, de aprenderem que está tudo ligado. Que não há modelo económico de estatísticas de crescimento ililmitado, que a outra face dessa moeda, é a pobreza que não pára de aumentar, é o nosso território do interior ( mais de metade do país) cada, vez mais desordenado e com menos pessoas e com o flagelo dos incêndios nas terras cada vez mais abandonadas.

Uma outra lição que se impõe, tem a ver com o não diálogo, a falta de consideração e de respeito e entre-ajuda entre as gerações. As geraçõe mais novas entendem que são o motor da sociedade, que sabem tudo, querem tudo e já!. Nasceram numa  sociedade de direitos que muito custaram a ganhar e a conquistar pelas gerações que agora são mais velhas. Sentem-se numa sociedade de direitos mas quase sem deveres. Querem todos os direitos mas não assumem os deveres. Têm tudo e desde muito cedo, demasiado cedo e, à minima contrariedade, desesperam. Exigem, consideram os velhos descartáveis, arrumados para o lado e por vezes partem para a falta de respeito , desconsideração  e, até para a agressão. No contexto da Pandemia do Covid -19, tantas vezes colocam os seus interesses egoístas de diversão  acima das regras comunitárias. Julgam que podem fintar o virús, mas enganam-se. Enganam-se demasiado cedo e com consequências para todos. Falta-lhes mundo e experiência que podem encontrar no diálgo franco com o mais velhos. Estes, regra geral acomodam-se e resignam-se calados. Felizmente há excepções. Valorizar o diálogo franco e contrutivo entre as gerações, a estima, a disponibilidade, o gosto  e o saber cuidar,  preservar a história e a memória dos mais idosos, é essencial para que se reforce a identidade de todos nós.

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