A quarentena profiláctica associada à pandemia COVID-19 pode ser responsável por uma série de riscos para a saúde mental. É utilizada em indivíduos que se pressupõe serem saudáveis, mas possam ter estado em contacto com um doente confirmadamente infectado
Se é verdade que o isolamento é importante para proteger a nossa saúde física e a dos outros, impedindo o contágio pelo vírus, quebrando uma eventual cadeia de transmissão, também é verdade que quanto mais tempo estivermos isolados maiores serão os riscos de sofrermos doenças psiquiátricas.
Sabemos que a quarentena pode originar uma série de sintomas psicopatológicos, designadamente, humor deprimido, irritabilidade, ansiedade, medo, raiva, insónia, etc. e a longo prazo muitos problemas para a saúde mental.
A longo prazo há mais susceptilidade no aumento de risco para aparecimento de abuso de álcool, depressão e stress pós traumático.
Para além do stress associado ao receio de contrair a doença, existem ainda outros factores que aumentam a vulnerabilidade psicológica das pessoas em quarentena ou isolamento profiláctico, nomeadamente a perda de rendimentos, as dificuldades económicas, e o risco do aumento do desemprego. Quem é pobre perde sempre, daí que a pobreza potencia mais vulnerabilidade para problemas de saúde individual ou colectiva.
A partir de Março, muitos portugueses ficaram confinados nas suas casas para evitar a propagação da Covid-19. Manter uma rotina dá-nos energia para ter uma atitude positiva durante o confinamento e para diminuir as consequências na nossa saúde, tanto físicas como psicológicas.
A ansiedade está ligada ao medo e surge como resposta do organismo a esta emoção.
Alguém ter medo é natural, a questão é que, em algumas pessoas, esta resposta de ansiedade atinge uma intensidade e uma frequência tal, que faz com que o indivíduo não consiga viver a vida normal no dia-a-dia
São muitos os factores nesta pandemia que podem causar medo: o vírus, o contágio, a incerteza sobre o tratamento, a inexistência de uma vacina, etc.
Uma das situações mais problemáticas será a dos idosos em geral que, por viverem sozinhos e não terem acesso às novas tecnologias, poderão constituir um grupo de risco também ao nível da saúde mental.
Medo e respeito face à pandemia há quem pareça não ter por irresponsabilidade, negligência e iliteracia, estando a desrespeitar as mais elementares regras de segurança, prevenção e proteção contra a covid-19. Estão a hipotecar todo o esforço feito até agora, e a pôr em risco a sua saúde, a sua vida e a dos outros. O excesso de segurança e imprudência leva ao facilitismo.
No âmbito da pandemia, o estado de emergência foi a fase do confinamento e da obediência. Ficámos em casa e fomos pacientes. O estado de calamidade ou desconfinamento compromete-nos a todos, a tomar decisões inteligentes e responsáveis, cumprindo as regras de segurança. Infelizmente a impaciência e a indisciplina têm-nos arrastado para o aumento de novos casos e o mais grave é que são casos que afectam os adultos mais jovens. O stress de viver, traz ao de cima muitas emoções, ansiedade e atitudes irreflectidas.
Durante o período de pandemia, vivemos tempos estranhos. Devido às medidas preventivas de saúde pública, as cerimónias fúnebres estão a ser realizadas quase sem pessoas. Muitos familiares e amigos estão privados de se despedirem de quem morre, ou seja não existem abraços, nem o habitual consolo do luto em comunidade. Isto acarreta um enorme sofrimento para todos aqueles que perdem os seus familiares e amigos. Neste período levantam-se muitas dúvidas, e irá certamente demorar muitos anos até compreendermos qual foi o verdadeiro impacto da pandemia na saúde mental, até porque talvez tenhamos de conviver com a covid-19 por vários anos. “Morrendo o vírus acaba-se a peçonha”.