Aí está ele. Depois de semanas de intensa discussão sobre o impacto do Orçamento de Estado para 2024 na vida dos portugueses, com apostas que iria ser mais amigo do investimento, com taxas de IRS que diminuíssem os elevados impostos sofridos pelo Portugueses ao longo deste último ano, eis a proposta do Governo. Lembrei-me daquela música do Tony Carreira, na sua música “O mesmo de sempre”. Um orçamento mercantilista, divisor da sociedade portuguesa, porque, de forma muito cínica, segmenta os benefícios, beneficiando os potenciais eleitores do PS e menosprezando quem inova, empreende e acredita num Portugal diferente.
Este é o orçamento dos conformistas. O mesmo conformismo que agora apresenta a proposta de redução do valor das portagens em 30% como uma grande vitória da coesão territorial propalada pelo PS, depois de, num passado recente, ter ignorado uma proposta do PSD, aprovada no Parlamento para redução em 50% o valor das mesmas nas A23. E ainda tem a coragem de justificar a existência desta descida das portagens nas Autoestradas da Coesão, com a necessidade de equilíbrio orçamental, aumentado o valor a pagar no IUC (Imposto único de circulação, vulgarmente chamado o “selo automóvel”) para carros com data anterior a 2007.
Com a agravante de venderem a maldade suprema de afirmar que este imposto só sobe para compensar a descida das portagens nas Autoestradas da Coesão. Servimos de desculpa para a realização de um malabarismo insuportável de entender. Ir mais fundo ao bolso dos portugueses, com menos posses, cujos salários já não chegam ao fim do mês.
Enquadrados na nova narrativa da sustentabilidade ambiental. Neste momento, uma narrativa que serve para tudo, até para desculpar os manifestantes que atacam os membros do Governo, incapaz de responder aos desafios do momento.
Sobretudo, nesta fase da vida do país, a viver a maior guerra civil de classes vista na Sociedade Portuguesa, com os médicos e os enfermeiros a darem um murro na mesa nunca visto. Com o SNS a aguardar um ano para promulgar os respetivos estatutos. E com um Primeiro-Ministro a afirmar perante as câmaras de televisão que o grande problema do SNS são os utentes que, em vez de se dirigirem às urgências, deveriam, em primeiro lugar, realizar uma chamada para a Saúde 24, numa demonstração da incompetência de quem o tem gerido nos últimos anos, comprovado pelo encerramento das urgências normais e obstétricas dos últimos meses, motivadas por questões ideológicas desnecessárias. Oito anos depois de ter tomado as rédeas do país, continuamos a ter um Primeiro-Ministro a governar cada dia, como se fosse o primeiro dia da sua governação. Sempre a pensar no dia seguinte, na eleição seguinte. E os portugueses fossem as suas cobaias de poder. Numa batalha constante com os professores, um capricho de marcação de posição num ódio de estimação acicatado para servir de bode expiatório aos maus resultados da governação. Num início de ano letivo marcado pela falta de professores nas escolas, com greves constantes.
Num pais sempre adiado, dividido, segmentado, como se fosse um mero mercado eleitoral, onde cada um de nós é uma peça de uma futura sondagem, pronta a ser manipulada para influenciar uma sociedade à espera do Messias que irá mudar a face do nosso pais.
Até lá, continuamos a pagar os impostos que os sucessivos orçamentos nos vem trazendo. Sempre com um sorriso nos lábios….Esse, ainda, não paga imposto.