
Sociólogo
Três Povos
Antigamente, conforme relato de um dos mais velhos da “terra” no Salgueiro, freguesia de Três Povos, conta que nos anos 50 do século passado a tradição do Madeiro era assim:
O Natal na aldeia do Salgueiro, sem eletricidade era muito diferente do que hoje se vê. A maior luz era a das faúlhas que saltavam do madeiro.
O primeiro sinal de Natal era dado pelos rapazes com idade de irem à inspeção para o serviço militar. Como ainda hoje acontece cabia-lhes arranjar o madeiro, três ou quatro árvores com que na noite da Consoada se fazia uma enorme fogueira à porta da Igreja para aquecer o Menino Jesus e animar a rapaziada.
Enquanto batiam com uns maços compridos na lenha a arder, gritando “madeiro, madeirinho”, e faziam saltar milhares de faúlhas luminosas, as cantigas improvisadas, iam muitas vezes parar ao refrão” Natal, Natal, filhoses com vinho não fazem mal”.
E não faziam. Ultrapassadas as questiúnculas provocadas pelo tradicional roubo das árvores para o madeiro que sempre irritavam os proprietários “roubados”, sobretudo se a apanha da azeitona ou trabalho no lagar corria menos bem, os rapazes faziam o aquecimento para a festa percorrendo as casas dos parentes mais ou menos próximos para juntar umas filhoses acabadas de fritar e beber copos de vinho que só não os embebedava, porque o frio gélido, com ameaças constantes de neve, “queimava” muito álcool.
Atualmente o madeiro é durante a tarde/noite de 24 de dezembro, que se acendem para “aquecer o Menino”. Nos Três Povos (Salgueiro, Quintãs, Escarigo), são três os madeiros que “iluminam” o Natal e ardem até aos Reis. Hoje é os serviços da Junta de Freguesia, e mais alguns do “ano” e amigos que colocam os madeiros nos largos. Os carros de bois de outrora foram substituídos por tratores. Um ritual que todos os anos se repete mesmo com as pessoas que já não vivem na freguesia, mas que regressam sempre para fazer cumprir a tradição.
Junto à Igreja, o tempo é de alegria incontida. A família, os amigos, os conhecidos. O grande fogo da vida testemunha o convívio daqueles que ficaram e daqueles que vieram. Reuniu-se, de novo, a comunidade, quando muitos regressam ao “calor” da sua aldeia. O Natal é tempo de conforto junto da família e amigos.
É o pretexto destas aldeias quase vazias, ao longo do ano, de boas novas, saudarem a vida, acalentarem nestas chamas a aurora da esperança que para o ano o madeiro seja maior, com mais gente. Que estejamos todos presentes! Com saúde. E a cantar:
“Oh meu Menino Jesus
Menino tão belo
Quando vieste nascer
Na noite do caramelo”.
O Madeiro é uma tradição secular que ninguém quer que o tempo a apague…
Vivó o Madeiro!
Boas Festas aos leitores do “Correio de Caria” e um Feliz Ano Novo.