O Povoador

Manuel Magrinho
Docente Universitário
Residente em Malpique

Para recordar a história, nos dias de hoje, não é necessário grande esforço. No meu caso fui ver a wikipédia e encontrei o seguinte: Sancho I, o Povoador, foi o segundo Rei de Portugal. Era filho do rei Afonso Henriques e sua esposa Mafalda de Saboia. Promoveu e apadrinhou o povoamento dos territórios do país, destacando-se a fundação da cidade da Guarda, e a atribuição de cartas de foral a Gouveia, Covilhã, Viseu, Bragança, São Vicente da Beira e Belmonte.

Sancho I sabia algo que os nossos modernos governantes parecem desconhecer por completo. Para fazer um reino livre e independente são necessários mais que territórios, são necessárias pessoas para cuidarem desses territórios. Sancho I tratou de criar condições para que as populações se fixassem em regiões pouco povoadas, ou seja promoveu a povoação do interior de Portugal. Já os nossos governantes, dos últimos 50 anos, parecem governar-se por outros princípios. Tudo tem que ser lucrativo, não dá lucro, encerra-se!

O encerramento dos serviços públicos são um passo de gigante para o abandono do interior. Começou com a destruição da Rodoviária Nacional, já lá vai o tempo em que todas as aldeias e lugares eram servidos por transportes públicos regulares. Por opção política, foi promovido o transporte individual, atualmente, para quem não tem meios próprios, fazer uma pequena viagem é um suplício. Mas os nossos sucessivos governos, que mais parecem comissões de liquidação nacional, continuam com a mesma filosofia. Assim encerram-se escolas, serviços de saúde, estações dos CTT, agências bancárias e postos da GNR.

Escolas, serviços de saúde, estações dos CTT, agências bancárias e postos da GNR. São responsabilidade do governo, que tenta a todo o custo passar a responsabilidade para os municípios. O poder local também não está inocente, quando se aceita a transferência de “Competências” sem o financiamento adequado, aceita-se a degradação e o encerramento de serviços públicos.

A gestão das águas e resíduos é atualmente uma competência municipal, aumentar o valor da “fatura da água” em aproximadamente 40 % também! A água é um bem essencial e não deveria ser um negócio sujeito às leis do lucro e do mercado. A água para todos é uma decisão política não pode ser uma opção comercial! A responsabilidade é do governo central, mas também do executivo municipal.

O distrito de Castelo Branco perdeu, entre 2011 e 2021, mais de 18 mil habitantes. Que diria Sancho I se por aqui aparecesse? Viver em grandes cidades pode ser mais viável economicamente, transportes cheios como latas de sardinhas, viagens mais curtas e infraestruturas mais próximas. Será que é isto que queremos? Vamos todos viver para uma megacidade no litoral e deixamos o interior transformado numa linda floresta, pronta a arder!?

No final de junho, o Grupo Parlamentar do PCP realizou as Jornadas Parlamentares na Serra da Estrela, nas conclusões destas jornadas pode ler-se:
“A extensão e gravidade dos problemas que os Distritos de Castelo Branco e da Guarda enfrentam exigem a adoção de uma política que rompa com a política de direita. É necessária outra política que avance com investimento público e apoio à produção nacional, apoio à agricultura familiar e às Micro, Pequenas e Médias Empresas, assim como é necessário um processo sério de descentralização, inseparável da criação das regiões administrativas. Só valorizando quem trabalha, valorizando as funções sociais do Estado e os serviços públicos será possível combater as assimetrias sociais e regionais.”

Nem todos estamos de acordo com o “encerramento” do Interior, nas palavras de Paulo Raimundo: “Recusamos o pressuposto de que o Interior está condenado. Não está e não aceitamos que o condenem”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *