Páscoa na minha aldeia…

O termo “Páscoa” deriva do latim Pascha, que significa passagem e é uma festa religiosa que me agrada particularmente, pela forma como os cristãos a celebram.
A Quaresma está associada a um período de quarenta dias, que antecede a Páscoa. O número 40, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, aparece frequentemente na Bíblia: 40 dias de dilúvio da Arca de Noé; 40 dias de Moisés no Monte Sinai; 40 dias de Jesus no deserto, antes do início do seu ministério; 40 anos de peregrinação do povo de Israel no deserto.
É a festa das festas, que está associada à primavera, tendo em conta que esta estação permite o deslumbramento da floração das plantas. Este período primaveril está intimamente ligado a mudança. O nascimento das flores representa para o mundo cristão a Ressurreição de Cristo e por isso mesmo é que a Páscoa é também designada de “Festa das Flores”. Da flor surge o fruto, que nos dá a perspetiva de uma “vida nova”, depois de um longo tempo de hibernação. É uma altura de reflexão, que reside na esperança, purificação e regeneração.
Nesta altura do ano, um pouco por toda a região, as aldeias, vilas e cidades celebram as festividades ligadas à Quaresma. Este tempo litúrgico é extremamente rico em tradições religiosas. Em Peraboa e no Concelho as cerimónias Quaresmais, que tiveram a contribuição de muitos Missionários da Covilhã, os Franciscanos e que incutiram a solenidade das festas pascais em toda a região.
Desde a Via Sacra, aos cantares, ao regrar os Passos – verdadeiras encenações seculares e teatrais, que deslumbram qualquer pessoa, mesmo os não crentes, pela sua densidade psicológica e até cénica. É importante que esses costumes ancestrais e essas tradições sejam cada vez mais valorizados. Um património imaterial que é tão nosso, a identidade de uma comunidade, que corre sérios riscos de desaparecer, que é o que já se verifica em algumas aldeias com o envelhecimento das populações.
Destacamos algumas destas tradições esquecidas, o Cantar das Almas e dos Martírios, que não se cantam há mais de cinquenta anos, por exemplo, em Peraboa. Contudo, por cá, ainda resiste a tradição de se realizar a Via Sacra, todos os anos, na Sexta-feira Santa.
Uma das características desta Via Sacra reside no hábito preto vestido pelos homens, que transportam aos ombros a Cruz, representando a paixão e a morte de Cristo. A nossa história está intimamente ligada à Igreja. Outra tradição tem a ver com o “rebate constante” do sino da Igreja, no dia de Páscoa, pelos jovens desta aldeia, que anuncia a Ressurreição. Na Semana Santa prepara-se tudo, uma semana antes da Páscoa, começam a confecionar-se as comidas para a mesa do Domingo de Páscoa. Falo dos bolos e da sua doçaria. Dos borrachões aos esquecidos, não esquecendo os de leite, que os fornos a lenha hão-de cozer. São os cheiros da Páscoa, que invadem as nossas terras pelas ruas adentro. No campo da gastronomia, as famílias das nossas aldeias continuam a reunir-se para degustar o que de melhor têm os sabores da Páscoa – o cabrito assado no forno, entre outras. É um tempo de harmonia, mas quando os nossos alicerces partirem, os nossos pais, tudo será diferente. Continuam a ser os nossos avós, os nossos pais que nos continuam a ligar às nossas aldeias e vilas – o tal torrão. Uma reflexão para estes tempos tão conturbados na Europa e no mundo. Valorizemos as coisas simples da vida, os encontros com as famílias, quer na Páscoa que noutro momento das nossas vidas, o estar com… a efemeridade da vida é uma realidade. Boa Páscoa!

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