João Paulo Gaspar – novo Presidente da Banda de Caria

Na sequência das eleições na Banda de Caria, foi oportuno apresentar na edição em papel entrevista com o jovem músico cariense, com prestigiado percurso profissional que nesta ocasião se dispôs abraçar a direção dos destinos da emblemática Banda Filarmónica sua terra, e que aqui se reproduz

Jorge Henriques Santos

Correio de Caria: – De onde é natural, onde estudou, profissão, onde trabalha?
João Paulo Gaspar:
– Sou natural de Caria, mas só fiz cá a pré-primária, como os meus pais trabalhavam ambos em Belmonte fiz lá toda a escolaridade, até ao nono ano.

C.C.: – No Mundo da Música como começou?
J.P.G:
– Eu comecei aos sete anos a estudar piano quando a Escola de Música abriu em Belmonte, na altura quem estava à frente da Escola era o professor Pedro Amaral. Aquilo era uma escola muito pequenina que funcionava por cima da oficina do Sr. Milagre e só tinha três salinhas, onde eles ensinavam: piano, guitarra e flauta de bisel. Eu fui para piano, andei lá até aos oito, mas não criei assim uma grande empatia com a professora e no final do ano disse ao meu Pai que não queria ir mais.

C.C.: – Mas inscreveram-no lá porque já havia alguma apetência para a música, ou não?
J.P.G
: – Sim eu sempre tive esta apetência e os meus pais fizeram-me a vontade.

C.C.: – Como evoluiu, que formação fez nessa área?
J.P.G:
– Depois aí aos dez anos apanhei um rapaz, o Luís Casteleiro, que agora aqui também faz parte da Direção, mais outro que era o Nuno que é de ascendência cigana e agora está para França. Ao final do dia eles costumavam ir para o jardim tocar guitarra e eu andava lá de bicicleta, comecei a ficar com eles e apaixonei-me por aquilo. Vim para casa a bater o pé ao meu pai para me comprar uma guitarra. Eu queria tocar guitarra, queria tocar guitarra e lá veio a guitarra.
Aprendi com eles dois acordes e depois como autodidata, ouvia músicas na rádio e gravava cassetes, andava para a frente e para traz para aprender as melodias e tirar os acordes, “sacar solos, como a gente chamava na altura”.
Depois aí aos 13 anos eu já dominava mais ou menos a guitarra, dei conta de uma banda se estar a formar ali no Monte do Bispo e precisavam de um guitarrista para a banda, assim mais para a vertente dos bailaricos… Eu fui lá fazer uma espécie de casting e fiquei lá.

C.C.: – Como é que se chamava a Banda?
J.P.G:
– Eram os Curto-Circuito, que era o Jorge da Fix-Peças, na Bateria, o João nas teclas, o Licínio, um rapaz que agora está para a França, na voz era a Catarina e uma rapariga que era a Carla. Eram todos mais velhos que eu e esta foi a minha primeira banda. (diz com regozijo).

C.C.: – Onde é que atuava essa banda?
J.P.G:
– Era sobretudo bailaricos e durante o Inverno ainda fizemos também alguns concertos rock nalguns bares, fomos a alguns bares à Covilhã. Abriu um bar na Borralheira também lá fomos estrear…

C.C.: – Essa foi a primeira banda e continuava a tocar e aprender?
J.P.G:
– Não, eu queria continuar na música, mas o meu pai disse-me “se é para seguir não andas aqui a brincar, então vai ser a sério”, foi quando me fui inscrever na EPABI – Escola Profissional de Artes da Covilhã. Isto com 14 anos, ia para a Covilhã todos os dias.

C.C.: – Não era fácil?
J.P.G:
– Não porque os horários também eram difíceis e acabei por ficar lá a viver na Residencial Académica que tinha acordo com a Escola e onde ficam muitos dos alunos de outras zonas do País: Palmela, Almada, Alcobaça, Cinfães e outras localidades: Isto também me proporcionou uma rede de contatos com músicos de praticamente todo o País. Atualmente são os meus amigos, com quem eu vivi quase 12 anos.

C.C.: – Em termos de agrupamentos musicais, depois da experiência do Curto-Circuito…?
J.P.G:
– Queriam, mas depois já não dava, porque eu passei a tocar violino e não dava porque na aprendizagem do violino até nos proíbem de tocar guitarra.

C.C.: – Mas porque é que virou para o violino?
J.P.G:
– Engraçado que eu na altura fui para a EPABI, para tocar guitarra, mas a EPABI só tinha instrumentos de orquestra sinfónica. Eu fiquei naquela ando aqui a aprender, mas depois volto para a guitarra. O que é facto é que comecei a tocar violino e ganhei paixão por aquilo e descobri a música clássica.

C.C.: – E acabou por abraçar a música clássica!?
J.P.G:
– De facto! Devendo-o a grandes influências com que tive o privilégio de me cruzar.

C.C.: – Quer referir?
J.P.G:
– A professora Paula Ramos e o que foi o meu grande Mestre a quem eu hoje devo quase tudo o que sei, o professor António Oliveira e Silva. Foi um grande mestre da viola em Portugal, foi chefe de naipes na Orquestra Sinfónica Nacional. Foi ele que me levou para Lisboa, o meu instrumento foi construído para ele e fez questão que eu ficasse com ele. Ensinou-me e educou-me em todos os aspetos, era um Mestre na perfeita ascensão da palavra.

C.C.: – Então depois da EPABI foi para Lisboa?
J.P.G
– Depois da EPABI fui para a Academia Superior da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Fui para Lisboa com 19 anos vivi lá até há quatro anos.

C.C.: – Vinha cá os fins de semana!?
J.P.G
– Ultimamente menos, já vinha raramente…já era quase só no mês de agosto, como o emigrante. Há quatro anos é que voltei definitivamente para cima.

C.C.: – Daí é que esta paixão pela terra renasceu?
J.P.G
– Sou sincero, eu sempre tive uma grande paixão pela minha vila, eu sempre disse sou de Caria.

C.C.: – Mesmo àqueles que não sabem onde fica ou dizem Cária KK?!!
J.P.G
– À segunda ou terceira vez ficam a perceber onde é (risos). Depois fui para a Escola Superior de Música de Lisboa, fazer a minha licenciatura.

C.C.: – Depois voltou e o que faz agora?
J.P.G
– Atualmente sou professor de música no Conservatório da Covilhã e também no Conservatório de Música da Terrugem. De segunda a quarta aqui na Covilhã e quinta e sexta na Terrugem. Aulas individuais de instrumento e orquestra.

C.C.: – E aqui na zona já esteve ligado a algum projeto social?
J.P.G
– Tive uma colaboração aqui com o JUMP de Belmonte e Caria, através da animação musical e da construção de instrumento com materiais reciclados. Colaborei com eles estes quatro anos, só este ano é que fiquei sem disponibilidade.

C.C.: – E em termos musicais não tem mais agrupamento nenhum?
J.P.G:
– A esse nível tenho uns poucos de projetos. O Quarteto Estandarte na Covilhã; Quarteto de Cordas de Sintra. Atualmente integro o Quarteto Naked Lunch; O quinteto de Cordas com acordéon, que é o Velvet Quinteto e o Quinteto didáctico da Foco Musical. Atualmente estamos a acompanhar o António Chaínho, no projeto que ele acaba de lançar, já lançou o disco em dezembro e fez um primeiro concerto em Estremoz, para uma tournée que vai fazer pelo País todo. Para além disso sou também membro da orquestra sinfónica de Tomar, que é uma orquestra semiprofissional que faz apenas três a quatro concertos por ano. Depois também faço algum trabalho de free-lancer como aconteceu o ano passado na tournée do Sum the Kiss

C.C.: – Acaba de entrar para a direção da Banda de Caria. Qual a sua relação com esta entidade?
J.P.G:
– Eu fui membro da banda durante cerca de um ano e meio, nos meus 13 e 14 anos, depois tive de largar os outros instrumentos para me dedicar só ao violino. Também não teria muito tempo para a banda porque ensaiávamos muito aos fins de semana, depois fui ao Luxemburgo fazer várias formações, digamos que por isso tudo tive de me ausentar estes anos, mas sempre com a Banda no coração.

C.C.: – Agora regressou, há quanto tempo?
J.P.G:
– Regressei há quatro anos. Agora tenho a vida mais estabilizada e eu adoro isto, Gosto mesmo de Caria, adoro a Serra, gosto do frio, sou fã da neve, pratico desportos de inverno, adoro isso. Não sei porquê, mas sempre disse, “aos 40 anos volto para a vila”.

C.C.: – Já cá está! KK (risos)
Como surgiu agora a oportunidade?
J.P.G
: – Eu desde que cheguei que mostrei interesse, porque acho que é aquela quota parte que eu posso dar à minha vila, trazer o meu conhecimento e a minha experiência e colocá-lo ao serviço de uma associação que tem como fundamento desenvolver a cultura local e na minha área que é a música. Acho que posso acrescentar mais.
Agora quando foi colocada esta situação de ir haver eleições, fiz um forcing e organizei-me com uma equipa para esse fim.

C.C.: – E foi-se socorrer dos amigos de infância, dos grupos de baile e das lides musicais?!
J.P.G:
– Exatamente, reuni-me das pessoas que conhecem, com quem cresci e com quem tenho trabalhado e vivido experiências muito boas para encararmos este desafio. Cada pessoa está pensada precisamente para cada ponto, desde as pessoas que percebem de contabilidade e faturação, para o concelho fiscal, pessoas ligadas à arte como é o caso da Carla Lameiras e pessoas pensadas para a parte teórica no sentido de ajudar a elaborar projetos para candidaturas, etc. Uma equipa que me oferece muita confiança…

C.C.: – E desta vez vamos ter uma direção com os órgãos devidamente constituídos?
J.P.G:
– Pela primeira vez a banda de Caria vai ter os órgãos sociais devidamente constituídos, com 11 elementos: Cinco na direção, três no concelho fiscal e três na assembleia geral. Atualmente só eram sócios da banda os próprios músicos, agora queremos alargar para uma associação devidamente constituída.

C.C.: – Não tinham um programa de atividades devidamente definido, mas têm ideias do que pretendem fazer!?
J.P.G:
– De facto, não tínhamos plano de atividades porque não sabíamos o que a associação tinha, com o que se podia contar e o estado organizativo em que a banda estava. Hoje já temos mais ideia, embora haja coisas que ainda precisaremos saber, nomeadamente como fazer em relação à antiga Casa do Povo de Caria.

C.C.: – No entanto ficou uma razoável almofada financeira, instalações e equipamento!?
J.P.G:
– Sim ficou e vamos tentar ao máximo mantê-la (risos). De facto hoje sabemos melhor com o que podemos contar e temos algumas ideias. Por exemplo gostava de mais tarde ter aqui um agrupamento também virado para as cordas, com cavaquinho, bandolim, guitarras. Assim como uma escola de instrumentos tradicionais etc. Acho que aqui temos um pouco essa carência… alargar para outras vertentes, embora sempre na área da música.

C.C.: – Quais as maiores ameaças e quais as oportunidades?
J.P.G
: – O grande constrangimento é a falta de músicos, porque a banda infelizmente há muitos anos que não forma músicos e nós sem camadas jovens não conseguimos manter os seniores. Porém o grande objetivo agora é continuar a banda, gostava muito que todos os membros da banda se mantivessem e deixo aqui o meu apelo, a banda é de todos e tem de ser para todos. Gostava também de convidar muita gente nova e se calhar a grande oportunidade é essa.

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