O fado também se dança

Médico
Natural e Residente em Caria

O Fado é Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2011. Durante décadas, foi a imagem sonora de um país resignado ao destino. Cantava-se a saudade, a pobreza, a dor do amor perdido — um reflexo de um povo desigual, habituado a calar, a sofrer em silêncio e a aceitar o que a vida lhe destinara. Era, de certa forma, o espelho emocional de uma sociedade marcada pelo regime autoritário e ditatorial do estado novo.
No entanto, hoje, ao dizermos que “o fado também se dança”, falamos mais do que música, falamos de mudança.
Durante muito tempo, esse espírito de resignação também marcou a forma como a maioria dos cidadãos, iletrados, encaravam a política: distante, discriminatória e repressiva.
O direito ao voto, como direito pessoal e um dever cívico, e responsabilidade de cidadania, tão facilmente dado por garantido hoje, foi durante muito tempo um privilégio de poucos.
Nas eleições autárquicas, enquanto eleições de proximidade, com o voto mais focado em matérias como o desenvolvimento local e infraestruturas essenciais viradas para a qualidade de vida das populações; melhoria dos serviços públicos, como a educação, saúde, assistência social, etc., devemos apostar em candidatos que nos deem mais garantias de uma visão estratégica, de inovação e desenvolvimento para o futuro, soluções realistas para problemas concretos, que devem conhecer, e que assumam compromisso com a melhoria da qualidade de vida na autarquia.
É no município que o cidadão encontra, ou não, resposta para os seus problemas diários. E, por isso, não basta ouvir, é preciso participar. Não basta lamentar, é preciso agir. Tal como no fado que se dança, a política local só ganha vida quando os cidadãos se movem.
Dançar o fado é combater a inercia e recusar a passividade. Votar nas autárquicas é exatamente o mesmo: uma forma de quebrar a ideia de que nada vai mudar. O voto é o passo de dança que cada cidadão dá no fortalecimento da democracia. Sem esse gesto, a música continua, não se reinventa.
Há quem ainda veja a política com a mesma melancolia do fado tradicional: distante, seletivo, feita por e para outros. Mas se o fado evoluiu, incorporando novas linguagens, novas formas de expressão e até movimento, também a democracia local deve ser entendida como algo vivo, dinâmico, em constante renovação. Os autarcas não podem ser escolhidos de forma arbitrária; é necessário um processo criterioso e responsável. Eles são parte de um diálogo contínuo entre poder e povo.
Assim, quando afirmamos que, hoje, o “fado também se dança”, lembramos que a cidadania também se pratica.
É preciso participar, dar o passo, estar presente. As autárquicas, pela proximidade e pelo impacto direto, são o momento certo para esse movimento coletivo.
E tal como a música só tem sentido se for vivida em conjunto, em política como no fado, a maior lição é esta: ficar parado nunca mudou nada.

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