
Médico,
Natural e Residente em Caria
O envelhecimento da população é um fenômeno global que traz implicações significativas para a saúde pública. Com o aumento da esperança de vida, aumenta também a necessidade de acesso a informações e serviços de saúde de forma contínua e eficiente. No entanto, muitos idosos enfrentam um obstáculo relevante: a iliteracia digital em saúde, ou seja, a dificuldade de aceder, compreender e utilizar recursos digitais voltados para a prevenção e a promoção da saúde.
A digitalização dos serviços de saúde – como teleconsultas linha SNS 24, marcação de consultas, pedido de exames e receitas – oferece facilidade, comodidade, e maior integração entre pacientes e profissionais. Contudo, essas vantagens não são igualmente acessíveis a todos. Idosos com pouca familiaridade com tecnologias digitais, baixa escolaridade ou falta de acesso a dispositivos e internet de qualidade tendem a enfrentar barreiras significativas.
A iliteracia digital em saúde não se limita à ausência de aptidões técnicas, como saber usar um smartphone ou navegar na internet. Ela envolve também a capacidade de interpretar corretamente informações médicas, reconhecer fontes confiáveis e utilizar ferramentas digitais de forma segura. Nesse sentido, a lacuna digital pode levar à exclusão de um grupo que, justamente, apresenta mais necessidades de cuidados de saúde.
Entre os fatores que contribuem para essa realidade, destacam-se a desigualdade socioeconômica, a ausência de programas de capacitação específicos para a terceira idade e o desenho pouco acessível de muitas plataformas digitais. Interfaces complexas, excesso de termos técnicos e letras pequenas podem desestimular o uso. Além disso, o medo de cometer erros ou de expor dados pessoais contribui para que alguns idosos evitem o contato com essas ferramentas.
As consequências da iliteracia digital em saúde incluem menor adesão a tratamentos, dificuldade de acesso a serviços preventivos, atrasos no diagnóstico e aumento da dependência de terceiros para a gestão da própria saúde. Essa dependência pode gerar perda de autonomia e maior vulnerabilidade, especialmente em contextos onde a família ou cuidadores não estão presentes de forma constante.
Para enfrentar esses desafios, é fundamental investir em políticas públicas e iniciativas comunitárias que promovam a inclusão digital de idosos. Isso inclui cursos de capacitação adaptados ao ritmo de aprendizagem dessa faixa etária, desenvolvimento de tecnologias com design universal e campanhas de sensibilização para profissionais de saúde, de modo que incentivem o uso das ferramentas digitais de forma paciente e empática.
A superação da iliteracia digital em saúde entre idosos não é apenas uma questão tecnológica, mas também de equidade e justiça social. Garantir que todas as pessoas, independentemente da idade, possam se beneficiar das inovações em saúde é essencial para promover um envelhecimento ativo, autónomo e saudável.
A Universidade Sénior de Caria, desde o início e no próximo ano lectivo, através das disciplinas de “literacia em saúde” e “informática” tem por objectivo vencer este desafio e colmatar estas necessidades.