Saudade COM VIDA

Pedro Silveira
Professor do Primeiro Ciclo

Hoje, em dia de Mercado do Fundão já se ouviam na rua novos linguarejares, os de França. É o verdadeiro regresso da saudade às suas aldeias, dos nossos emigrantes. Durante algumas semanas, as Beiras enchem-se de gente, de afetos, e a população multiplica-se. As nossas terras por algumas semanas deixam de pertencer aos silêncios vazios. Há vida, há festa, há comes e bebes. É um período de consumo e de excessos. Os carros com matrículas diferentes passam a fronteira de Vilar Formoso. É uma das entradas em Portugal, em solo português, os portugueses enchem o peito de comoção, de memórias vivas, com a vontade de dar abraços sentidos que atenuam a saudade sentida durante o ano inteiro. Muitos deles carregam no acelerador para chegar ao seu destino. A esperá-los estão os resistentes, os pais ansiosos ,os que cá ficaram, os avós, as tias, os primos. Voltam enquanto as portas estiverem abertas para os receber, voltam. As esplanadas enchem-se de emigrantes e trazem os cães bem penteados, os mais jovens trazem as ténis de marca. As aldeias, o Interior é ocupado pelos filhos da terra e abrem as portas de suas casas encerradas e a cheirar a mofo. A terceira ou quarta geração de emigrantes continua a vir, mas já não passam as suas ferias n’ aldeia, pois muitos já optam por outros atrativos. Uma coisa é certa, ninguém arreda pé da programação das festas religiosas. É o ponto alto da vida das comunidades.
Hoje recebemos imigrantes que vieram de outros países; vieram à procura de melhores condições de vida, de sonhos que querem ver cumpridos. Esses imigrantes falam português à rasca, na ótica do utilizador, à semelhança dos nossos quando foram a salto para a França. O tradutor do telemóvel dá uma ajuda, as tecnologias têm um papel fundamental na sua integração. Apesar de tudo, esses imigrantes muitos deles ainda vivem entre eles, nas suas bolhas. Os imigrantes de língua oficial Portuguesa têm um papel mais facilitador. Até trabalham em diversas áreas e setores da nossa economia, devido ao domínio da língua. Trazem a frescura do seu país, mais descontraídos, outro modo de pensar, a sua identidade. É um mapa colorido que chegou cá e encheram algumas ruas vazias de pessoas. As casas abriram-se novamente. Essas comunidades encheram as escolas das nossas aldeias, pois muitas delas estavam em risco de encerrar. Podemos afirmar, que as nossas Beiras foram pintadas de outras cores, outros modos de pensar e agir, outras culturas. Por cá, esses imigrantes que trabalham na agricultura, outros, também se juntam paulatinamente com os nossos emigrantes portugueses no seu próprio país, Portugal, por exemplo, nas festas populares. Todos conhecem o valor da Saudade. Todos sabem o que significa partir e deixar para trás a sua língua. Todos sabem o sacrifício de estar longe. Todos saíram dos seus países à procura de algo melhor. As barreiras da lonjura são quebradas pelas redes sociais, o que nos anos 50 e 60 não existia, não permitindo aos portugueses essa possibilidade de comunicar. Aqui há dias encontrei num parque da cidade crianças a brincar, sem problemas, sem códigos, apenas queriam correr, estar juntas. Cada um falava a sua língua, as línguas

A todos eles temos que desejar uma boa estadia no nosso país. Continuam a ser auratas do bom nome de Portugal fora de portas. Publicamente, tenho que fazer um agradecimento aos impulsionadores das festas populares do nosso país, os agentes das festas das aldeias, vilas, agendadas para o mês de agosto. Sem esses eventos o nosso território ficaria triste, sem vida. Muitos regressam a Portugal para pagar a promessa X e Y. É outro pretexto para virem. A nós, aos que preparam e lutam pela sobrevivência desse património tão importante e salvaguarda dessas tradições, Obrigado. Não deixem morrer as vossas festas religiosas e civis. É um ano inteiro a trabalhar para que a alegria das nossas aldeias não sejam fintadas pelos gritos dos silêncios!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *