Albano Lopes Nunes, testemunha e corrige, sobre o Bodo das Aranhas

O Bodo de Aranhas, repetiu-se com tradição mais uma vez, neste sábado dia 4 de maio, com um grande contingente que invadiu a pequena aldeia com apenas 200 habitantes, mas já habituada a promover eventos para centenas e milhares de pessoas.

Apesar do tempo instável, diziam os organizadores que a afluência estava a ser bastante superior ao previsto, depois de no ano passado ter sobrado muita comida ao ponto de terem “apelado na missa de domingo para o povo ir buscar”.  

Ensopado de cabra, a sopa de grão e a feijoada cozinhadas ao lume na panela de ferro, foram distribuídos gratuita e abundantemente por todos, e depois após a refeição, brindados com uma muito viva e participada atuação do Rancho Folclórico de Aranhas e um baile “até chover” pelo grupo Geração Plus.

Segundo refere um comunicado da Câmara e que nós transcrevemos na nossa noticia “O tradicional Bodo das Aranhas é uma tradição que remonta aos tempos de necessidade em que os mais abastados da freguesia distribuíam ajuda alimentar pelos mais carenciados, convertendo esse dia num festejo popular”.

Sobre essa “inverdade”, e a designação de chanfana ao cozinhado de cabra que aqui se serve, nos chamou à atenção,  o Sr Albano Lopes Nunes, um dos fundadores desta festa que se tornou identitária das Aranhas, mas não por esses motivos.

Albano Lopes Nunes, nesta precisa data, de 4 de maio, celebrou o seu 77º aniversário e contou ao Correio de Caria como tudo começou para o que agora se chama de Bodo das Aranhas.

Segundo nos revelou, a iniciativa começou há 28 anos a partir de “uma brincadeira” na sua tasca, uma das mais antigas e a mais emblemática da Aldeia de Aranhas e que ainda se mantém. “Nessa altura havia a festa dos “Josés e dos Antónios”, na qual os que tinham outros nomes não entravam, começámos: eu sou Albano, tu és Arlindo o outro é Fernando e se nós fizermos uma festa que seja para todos” … “Estava lá o Tio Arnaldo que era pastor e disse òh rapazes se fizerem a festa eu dou uma cabra, eu então peguei em cinco contos, pus em cima do balcão, os outros companheiros puseram mais cinco contos cada um e eu como tenho muitos conhecimentos comecei a pedir aos armazéns, aos lavradores e à população e assim começou o bodo”.

-Nesse ano então quantas cabras meteram? “Logo nesse ano matámos 25 cabras”

– Para fazer Chanfana?! “Não é Chanfana atenção, o que aqui fazemos é ensopado de cabra, na panela de ferro e com vinho branco. A Chanfana é com a carne de cabra temperada mais de 24horas em vinho tinto e depois em caçoilos de barro vai cozer no forno, isso é que é chanfana, tal como se faz na região de Coimbra, Penacova, Miranda do Corvo e Louzã. Nós aqui é ensopado de caba com batatas”.

“No nosso tempo era assim: Começava logo à sábado faziamos um arroz com as miudezas do gado, com as ferçuras e com as cabeças fazíamos uma canja, fogo (foguetes) e música; No domingo tínhamos a banda de Aldeia de João Pires, foguetes e um conjunto, sopa que é a sopa da nossa terra, tínhamos arroz com frango e o ensopado com batatas cozidas”. Era uma fartazana?! “ Ao lanche era as mesas cheias com queijos novos, velhos e enchidos,,, e o Sr José Filipe que era o dono da yoggi que é hoje a Danone, ofereceu-me uma carrinha carregada de yogurtes”. – Grande festa

“Isto foi sábado e domingo, então na segunda-feira as pessoas foram todas lá ao estabelecimento dizer Óh Albano tu meteste-te nisso deves ter tido um prejuízo desgraçado… Não foi nada, nesse ano entre o que nos deram, o que se comprou e o resultado da festa sobraram-nos logo 70 contos”.  Desse dinheiro comprámos panelas de ferro e démos para o Centro de Dia da Liga de Amigos e para o Posto Médico, aquecimentos a gás e dois elétricos;   e para a Casa Mortuária um Ar Condicionado.

– Mas nessa altura seria muito diferente?! “Sim agora é diferente, isto esteve aí uma série de anos sem se fazer e aqui há uns anos a Comissão de Festas das Aranhas, decidiu agarrar nisto e continuar, fazem o Bodo agora, já fizeram o Ramo da Carne e depois fazem a festa no mês de Agosto que é a festa de Nossa Senhora do Bom Sucesso.”

– As autarquias também apoiam? “A Câmara Municipal dá par esta festa 5 mil euros”, “a Junta também apoia e esta festa, mesmo sem esses apoios sempre deu lucro”

– E porque é que é nesta data?

– Ficou marcado assim porque eu faço anos neste dia 4 de maio, este ano calhou mesmo no dia, quando não calha faz-se no fim de semana seguinte…risos.  

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *