
Médico,
Ex- Coordenador
da ACES Cova da Beira
Natural e Residente em Caria
Foram 43 anos de serviço dedicado à saúde das pessoas no Concelho de Belmonte. Desde Março de 1980 a Fevereiro de 2023.
Foi no Centro de Saúde de Belmonte e no então Hospital Concelhio que dei continuidade à minha longa carreira de médico, iniciada no Hospital de Santa Maria no ano transacto.
O Centro de Saúde fazia parte da rede de Centros de Saúde da 1ª geração criados em 1971, desenvolvia actividades de saúde pública, prestava cuidados preventivos de saúde, designadamente planeamento familiar, saúde materna, saúde infantil e saúde dos adolescentes.
Por ele passaram muitos jovens médicos em início de carreira, apoiados e coordenados por 2 extraordinários médicos residentes, Dr. Rocha e Dr. Vieira.
O Hospital Concelhio dispunha de internamento, consultas de clínica geral e urgências.
Em 1983 deu-se a integração do Centro de Saúde com os Serviços Médico-Sociais (Caixas de Previdência) e Hospital Concelhio.
A inauguração do actual Centro de Saúde em 1999, foi um elevado e marcante acontecimento social e politico, não só pela presença da então Ministra da saúde, Dra Maria de Belém, mas também porque foram criadas condições estruturais e funcionais para a prestação de mais e melhores cuidados de saúde primários à população.
Era Director do Centro de Saúde desde 1994, sendo Presidente da Câmara o Dr. António Rocha.
No início dos anos 70 verificou-se a existência de um número excessivo de alunos nas escolas de Medicina, que originou a formação de um elevado número de médicos, pelo que se viviam tempos de “muita fartura” em termos de recursos humanos, designadamente médicos e pessoal de enfermagem. Estavam, assim, criadas as condições para a abertura e disseminação de extensões de saúde.
A implementação de numerus clausus que reduziu excessivamente a entrada de alunos nas faculdades de medicina veio a reflectir-se no número de médicos formados, criando dificuldades na atracção e fixação de médicos em Belmonte.
A aposentação de 3 médicos num curto espaço de tempo e a saída de dois médicos estrangeiros contribuiu para a suspensão e encerramento das extensões de saúde, excepto a de Caria, com o acordo do poder político local. Foi uma deliberação estrutural, concentrando no Centro de Saúde os escassos recursos em médicos.
Na qualidade de Presidente da Assembleia Municipal de 2005 a 2009, sendo ainda Director do Centro de Saúde, apresentei uma moção pela abertura do Centro de Saúde aos fins-de-semana autorizada pelo Ministério da Saúde.
A falta de médicos em Belmonte tornou-se um problema crónico, de tal maneira que, enquanto Director Executivo do ACeS Cova da Beira de 2009 a 2012, senti-me na obrigação de acumular este cargo com as funções de médico a tempo parcial no Centro de Saúde para minorar este problema.
Novamente coordenador do Centro de Saúde até 2019 e Director Executivo do ACeS da Cova da Beira de 2019 a 2023 foi possível estabilizar o quadro médico, composto por 5 médicos.
Durante os 3 anos da pandemia com início em 2020, o Centro de Saúde de Belmonte adaptou a sua organização e funcionamento em função das orientações vindas da Direção Geral de Saúde, condicionadas pelas limitações decorrentes do estado pandémico, e focado no combate e controlo da pandemia.
Foram 3 anos intensos e desafiadores, de trabalho árduo em conjunto com as equipas multidisciplinares, sem nunca perder o foco e a determinação.
Graças ao trabalho árduo e ao compromisso de todos foi possível superar muitos desafios e alcançar resultados significativos, priorizando os cuidados, testando e levando por diante um plano de vacinação inovador, em colaboração com o ACeS da Cova da Beira, município, forças de segurança, bombeiros e IPSS.
Num momento em que o SNS está a sofrer com a maior saída de médicos para o sector privado, social ou estrangeiro e ainda pelo elevado número de aposentações, Belmonte não foi excepção.
Deu-se a saída de um médico que, até à data, não foi substituído, pese embora tenham sido desenvolvidos esforços para abertura de vagas. O que tem acontecido nos últimos anos é que nem sempre são abertas vagas para sítios onde são precisos mais médicos.
O serviço Nacional de Saúde perdeu, só em 2022, mais de três mil médicos e enfermeiros, pelo que em Portugal não há médicos para cerca de 1.600.000 utentes do SNS.
Belmonte tem 4 médicos e cerca de 1.200 utentes sem médico, que reflecte a falta de 1 médico de família.
O senhor Presidente da Câmara já afirmou que podemos “contar com todo o empenho da Câmara Municipal de Belmonte e nomeadamente do Presidente Câmara Municipal de Belmonte no sentido da resolução de um problema tão grave como é a falta de médicos no Centro de Saúde de Belmonte” (sic).
Olhando para o Centro de Saúde que temos, é preciso, em conjunto, unir esforços e criar sinergias para resolver tão grave problema.
Enquanto médico e no exercício de cargos dirigentes não sinto nostalgia do que não fiz.
Melhor é errar por tentar do que errar por se omitir (Augusto Cury).