“Olha o Madeiro” – por Pedro Silveira

Pedro Silveira
Professor de 1º Ciclo
Peraboa

O Madeiro vai estar presente no Natal um pouco por estas Beiras adentro. Será colocado, como é habitual, no centro das nossas aldeias e vilas, nos adros das igrejas para ser aceso na noite gélida de Natal, depois da Missa do Galo. Será a sala de estar, e todos esperam pelo acender da fogueira: “Olha o Madeiro”. Canta-se a viva voz ao Menino, ao protagonista do Natal. Quanto mais alto, melhor! Durante todo ano, os voluntários andam à caça dos melhores troncos e das raízes mais imponentes para provocar espanto: “este ano está lá um madeiro.” Todos os anos repetimos a mesma cantilena.
O Madeiro é uma festa de origem pagã, criado para festejar o Solstício de Inverno. No que diz respeito ao fogo, este simboliza a reunião da família. O fogo permite-nos afastar o mal e é símbolo do Ser Supremo, através do Sol. A Luz que irradia simboliza para os cristãos a “Chegada”, o Advento (do latim Adventus), a vinda do Menino. A verdadeira renovação e libertação do Homem, do pecado. É uma tradição que se repete, com alegria e alguma competitividade com as freguesias vizinhas. É um ato de afirmação.
A par do Madeiro, os presépios que eu gostaria de enaltecer. Hoje encontramos um pouco por todo o lado o Presépio, que é uma novidade representada pelo seu criador e fundador, São Francisco de Assis, em 1223, para explicar aos crentes mais simples o capítulo e o pretexto do Natal, em forma de dramatização. A partir daí, o presépio foi disseminado pelo mundo, algo de rara beleza que podemos contemplar nesta quadra natalícia. Se Francisco era um ecologista, os presépios que tenho contemplado, quase todos estão atentos a essas questões e preocupações ambientais. É o clima e são essas tradições e costumes que antigamente logo após o Natal, que se iniciava o cantar das Janeiras, à volta do madeiro. Daí levar a luz para anunciar através do canto que Jesus nasceu.
Na nossa fogueira doméstica também existe esse fogo, já que é à volta da lareira, que as famílias gostam de “estar”, e por cá, afirmamos: “o lume é uma companhia.” É essa companhia, sobretudo de quem a acende, os nossos pais, que esperam pacientemente por este dia maior para nos acolher em suas casas, com o bom bacalhau, vinho e outras iguarias. O Natal da aldeia e a fogueira lá de casa assume uma importância de relevo, pois é ali ao lume, que todos somos acolhidos com calor, com os afetos, com tanta densidade. Sentimos essa chama ardente e única, que apenas é interrompida por quem já partiu.
O Madeiro de Peraboa é o que resta das grandes celebrações comunitárias, o mesmo que nos vai dai dar as Boas Vindas ao novo ano, já que o presente finda brevemente. Atualmente “ir ao madeiro” já é efetuado por homens e mulheres. Agradeço aos voluntários que ajudam os jovens “mancebos” a prolongar esta tradição. Obrigado!
No dia 24 à noite, estaremos lá para confraternizar com aqueles que estão longe fisicamente. É a noite grande, dos encontros, da conversa, e de alguma pinga, do abraço fraterno.

O Madeiro é, sem dúvida, o mais bonito postal de Natal das Beiras.

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