Santa Bebiana Património Imaterial de Caria

Poderá a Festa de Santa Bebiana ser classificada como Património Imaterial Cultural?

Este foi o mote para um colóquio/debate promovido conjuntamente pela Irmandade de Santa Bebiana, Correio de Caria e Junta de Freguesia.

Tudo leva a crer que esta festa pagã, cuja origem se perde nos tempos, vem perdurando e se afirma como marca distintiva de Caria, pode à semelhança dos Caretos de Podence, de Macedo de Cavaleiros e do Bodo de Monfortinho vir a ser classificada pela Direção Geral do Património Cultural, como património Cultural de Caria de acordo com os preceitos definidos na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial e adotada pela UNESCO, em 2003.

Lançado o desafio, a população aderiu, a sala encheu-se e a sessão tornou-se vibrante e esclarecedora. Os voluntários da Irmandade, abriram com o hino à Santa Bebiana e entre essa boa disposição e o que representa esta festa na tradição de Caria, se começou a fazer esta abordagem.

Da mesa Filipe Alves, coordenador da equipa organizadora da festa que acaba de se constituir em associação com a designação de Irmandade de Santa Bebiana, explicou as motivações que há 14 dos seus cerca de 30 anos, o levam a envolver-se na festa e a mobilizar os jovens da sua geração, com crescente entusiasmo.

Mafalda Carvalho, secretária da Junta de Freguesia de Caria, membro da Irmandade de Santa Bebiana e descendente de Manuel Carvalho António, um falecido entusiasta da festa de Santa Bebiana, referiu a sua herança, cultural, social e de contexto familiar, com a festa de Santa Bebiana. Afirmando também, enquanto representante da Junta de Freguesia, o envolvimento e disponibilidade do executivo da freguesia em promover e certificar esta tradição tornando a festa de Santa Bebiana, uma referência da identidade de Caria.

O orador seguinte foi o Sr. António Fernandes, cronista da Capeia Raiana, estudioso da Santa Bebiana e outras tradições da Região. Fez uma exposição sobre a relação entre o profano e o sagrado, acreditando que em relação à Santa Bebiana se passou o mesmo que com outras festividades pagãs as quais a Igreja adotou e introduziu no calendário cristão. As festas de celebração do Vinho agora atribuídas a S. Martinho e a Santa Bebiana, dependerão das festas de Baco dos Romanos e já com origem nos excessos de Dionisio na tradição da civilização grega.

Paulo Silveira, Técnico Superior na Câmara Municipal do Fundão; dirigente associativo ex-autarca na freguesia dos Três Povos e membro da ANAFRE, com formação em Inventário e Património Imaterial, investigador e cronista, no Jornal do Fundão e no Correio de Caria. Fez uma exposição muito completa, precisa e fundamentada sobre as caraterísticas da festa de Santa Bebiana de Caria e o seu enquadramento em todos os itens para classificação como Património Cultural Imaterial.

O último orador foi Eddy Chambino:  Antropólogo, Investigador em assuntos etnográficos e tradições, Técnico Superior na Câmara Municipal de Idanha a Nova  e promotor da certificação do Bodo de Monfortinho. Um apaixonado por festas e tradições que trouxe para a sessão uma visão mais global, com aspetos muito esclarecedores acerca do que são as tradições e as festas tradicionais, ao que elas correspondem e as respostas que dão, às necessidades das populações. Desmistificando alguns padrões, referiu a forma como algumas destas tradições podem evoluir e evoluem sem se descaraterizar, dando alguns exemplos do seu vasto conhecimento nestas matérias. Sobre a Santa Bebiana de Caria disse que esta tem tudo para ser classificada como Património Imaterial Cultural, precisando acima de tudo de ter muito bem definido o seu Plano de Salvaguarda nos seus fundamentos e fazer prova dessas caraterísticas ao longo dos tempos e que no seu ponto de vista se enquadra muito no contexto de festas Saturninas da Peninsula Ibérica. Deixando ainda algumas sugestões desde a criação de um Centro Interpretativo, à criação de uma possível rede das Santas Bebianas em Portugal e Espanha.

A sessão moderada por Jorge Henriques Santos, jornalista, diretor do Correio de Caria, contou depois com um espaço de participação do público. Neste espaço, António Cabanas, Mário Tomás, Graça Ribeiro e Silvério Quelhas, apresentaram os seus pontos de vista sobre a certificação da Santa Bebiana de Caria. O presidente da Junta, Silvério Quelhas, expressou ainda a “enorme vontade” do executivo da freguesia em afirmar esta festa como uma tradição identitária de Caria, pedindo a Eddy Chambino ajuda nesse sentido. O Técnico propôs a criação de um grupo de trabalho que reúna todo o espólio sobre esta tradição e disponibilizou-se ajudar o grupo a elaborar o Plano de Salvaguarda e Fundamentação, peça fundamental para a certificação.

Mais vivas à Santa e o hino da Santa Bebiana voltaram a ser entoados no encerramento da sessão.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *