Caria vai assinalar e comemorar 100 anos de elevação à categoria de Vila, um marco importante na sua história.
Esta categoria foi-lhe atribuída em 19 de dezembro de 1924, pela Lei nº 1701/1924, emanada do Congresso da República, em nome da Nação, promulgada pelo então Presidente da República Manuel Teixeira Gomes e José Domingos dos Santos, respectivamente, Chefe do Governo e Ministro do Interior, publicada no Diário do Governo 282/1924.
Nesta data, relevante para Caria, podemos enquadrar ilustres figuras Carienses, pelo título, e porque o seu nome foi atribuído a ruas de Caria.
Francisco Pires Soares, conselheiro, nasceu em Caria no dia 15 de julho de 1868 e faleceu em Coimbra a 23 de fevereiro de 1941. Os seus restos mortais repousam em Caria; Joaquim Borrego Cameira, juiz, nasceu em Caria no dia 22 de dezembro de 1898 e faleceu em Mourisca do Vouga, com 38 anos de idade a 7 de setembro de 1936; José Martins Cameira, Coronel, nasceu em Caria dia 6 de outubro de 1878. Fez parte do Corpo Expedicionário em França, durante a 1ª Guerra Mundial. Faleceu na sua residência em Lisboa a 14 de setembro de 1958. Os restos mortais repousam em Caria.
Merece destaque o Dr. Mário Galvão Videira, nascido em Caria a 27 de fevereiro de 1907. Foi Presidente da Câmara Municipal de Belmonte de 1947 a 1958. A sua vida e obra no Concelho de Belmonte, particularmente em Caria, mereceram-lhe o nome de uma das ruas de Caria e de Colmeal da Torre.
Outras figuras mais recentes granjearam prestígio e reconhecimento pela sua obra, pelo que o seu nome foi atribuído a ruas de Caria.
Dr. Arménio Barata Salgueiro, médico em Caria; As Cantadeiras de Caria, sua fundadora e dinamizadora, D. Maria Alcina (Ti Maria), que se destacou pela recolha e divulgação da música popular portuguesa, preservando a identidade, autenticidade e oralidade popular; D. Benvinda Ferreira que financiou o Jardim público de Caria (destruído para dar lugar ao Centro Educativo) e fez renascer as festas populares à frente de grupos de jovens na década de setenta.
A estes foram reconhecidas “obras valerosas” que os libertou da “lei da morte”, ou seja, do esquecimento.
Em cada rua, beco ou largo, habitaram pessoas, famílias e gerações, que fazem parte da memória colectiva, cujo nome não está gravado em placas toponímicas, mas participaram da construção identitária da Vila de Caria. Merecem uma justa homenagem.
As casas e ruas contam histórias e narrações dessas pessoas, basta lá passar a pé, trazê-las à memória como se estivessem vivas. Sim, as ruas tinham vida.
Os campos tinham vida, vida dura na agricultura de subsistência. Em pleno Estado Novo os trabalhadores rurais, homens e mulheres, novos e velhos, viviam no limiar da pobreza. A desigualdade social, na riqueza, no acesso à saúde e educação era o padrão dominante. Apenas todos iguais “quando os sinos dobram”.
Grande parte da população, até aí resiliente, teve que sair do País. Abandonaram a sua terra, separaram-se de amigos e família e partiram, desafiando o medo e a incerteza, pondo à prova a coragem e a esperança, à procura de uma vida melhor, mais riqueza e mais igualdade social. Ficaram casas vazias e ruas quase desertas, agricultura mais pobre e com menos gente.
Começaram por emigrar para países longínquos, atravessando o oceano para Argentina e Brasil. Muitos dos que cruzaram o mar acabaram por regressar ao fim de alguns anos. Outros, poucos, emigraram para sempre, não devolvendo o pouco que levaram de nós.
Os países da Europa, com a França à cabeça foram, mais tarde, os principais destinos de emigração. Regressavam de férias e partiam outras tantas vezes, até que regressaram de vez, depois da reforma. Outros não sentiram apelo para regressar porque se quebraram os laços que os prendia à família daqui que, entretanto, desapareceu.
Caria perdeu população pela emigração, e porque são mais os que morrem do que os que nascem.
Tem mais velhos do que crianças e jovens. Como reverter o processo demográfico da diminuição da população com a saída contínua dos jovens?
Caria Já não é o que foi. Como será o futuro?
Caria pode ser o que os Carienses puderem… e quiserem…
Meu bisavô é um deles! Roboão Cardoso, saiu de Caria, em 1913, e logo depois levou bisavá Maria e três filhos. Ele era filho de meu trisavô, José Mileu.
Vieram para Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Ele em Caria era pastor de ovelhas. No Brasil vendeu tripas de porco até morrer, mas criou todos os filhos.
Agora, mais de século depois eu, neto de seu filho Joaquim Cardoso, nascido em 1917, no Brasil, retorno a Portugal.
No Brasil fui prefeito de minha cidade e hoje sou deputado federal pelo PT, o partido dos trabalhadores. Tornei me cidadão português e estive em Caria levando minha mãe, Ione Cardoso e minha Tia Yvone Cardoso para conhecer a antiga vila de seus queridos avós.
Nós trazemos um pedaço grande de Portugal em nós e de Caria também. Aos poucos vamos restabelecendo laços e compartilhando a nossa vida em Portugal. Caria e antiga região de Trás os Montes está no nosso radar.
Um grande abraço a todos e todas!