Se o Natal é celebrado sempre no dia 25 de Dezembro, porque é que a Páscoa e a Semana Santa todos os anos têm uma data diferente?
Nascemos e crescemos, maioritariamente, num ambiente de influência cristã, quer tenhamos ou não uma prática de participação em actos de culto na paróquia ou na região onde vivemos, quer nos sintamos mais ou menos identificados com os princípios cristãos… Seria por isso normal – atrevo-me a dizer – que o comum das pessoas soubesse responder às perguntas formuladas no início deste texto.
Alguns leitores saberão certamente a explicação mas, por experiência própria, creio poder afirmar que há ainda um longo caminho a percorrer para uma fé mais esclarecida e uma lúcida compreensão dos acontecimentos históricos (no tempo e no lugar) assinalados no Antigo e Novo Testamento.
O que determinará então que o Domingo de Páscoa possa ser celebrado entre os últimos dias de Março e o dia 25 de Abril de cada ano? Quem alguma vez teve oportunidade de ver o célebre filme “Os Dez Mandamentos” compreenderá melhor a resposta a esta interrogação.
A raiz antiga destas datas vem de muito longe. Aproximar-se-á dos 1400 anos antes da era cristã. Os Hebreus festejavam a páscoa, também chamada “Festa da Liberdade”. O povo de Israel celebrava a libertação da longa escravidão que tinham sofrido no Egipto, recordando a noite em que deixaram o país da escravidão, atravessando a pé enxuto o Mar Vermelho, guiados por Moisés. Na tradição do povo hebreu celebram essa passagem para a liberdade – a páscoa, no dia da primeira lua cheia da Primavera. Porquê? Porque na noite em que o povo hebreu saiu do Egipto era a primeira lua cheia depois do Equinócio da Primavera e isso, segundo reza a história, lhe permitiu fugir de noite sem precisar de luzes e sem a perseguição do exército do Faraó.
Mas podemos aqui questionar: o que é que a páscoa judaica tem a ver com a Páscoa cristã? Jesus Cristo celebrava a páscoa judaica com os apóstolos, comemorando o êxodo do povo de Israel guiado por Moisés quando, naquela Quinta-feira Santa, realizava a Última Ceia.
Nos primeiros dois séculos da era cristã, a Páscoa era celebrada no mesmo dia da páscoa judaica, mas o concílio ecuménico de Niceia, no ano 315, determinou que a Páscoa cristã fosse celebrada sempre no domingo depois da primeira lua cheia da Primavera. Ou dizendo de outra forma: é a primeira lua cheia depois do Equinócio da Primavera (dia 21 de Março no hemisfério Norte), que em cada ano determina o domingo de Páscoa e a Semana Santa. E também as festas móveis do calendário litúrgico, não tendo assim data certa, porque dependem da Festa mais importante que é a Páscoa da Ressurreição.
Podemos reparar que, este ano, se a primeira lua cheia primaveril fosse um ou mais alguns dias antes, teríamos a Páscoa não no dia 4 de Abril mas no dia 28 de Março!
José Manuel Duarte
dirigente associativo
técnico de desenvolvimento local