A Simbologia de Santo Antão

Paulo Silveira
Dirigente Associativo
Três Povos

No panteão cristão encontramos vários Santos que são considerados protetores dos animais, embora destaquemos apenas alguns dos que são mais referenciados como tal. São os casos de S. Francisco de Assis, São Lázaro, São Roque, Santa Gertrudes e Santo Antão.
Santo Antão é venerado como protetor contra a peste e contra as doenças contagiosas, nomeadamente o “fogo de Santo Antão”, espécie de erisipela resultante de um fungo do centeio, mas é, igualmente, considerado o protetor dos animais domésticos, sobretudo dos porcos.
Na iconografia tradicional, Santo Antão é representado com uma longa barba, com uma vara com um sino e um porco, companheiro inseparável do santo em todas as suas representações.
É celebrado pela igreja católica no dia 17 de janeiro, dia que antigamente era aproveitado para fazer a bênção de animais e dos estábulos. Por isso nesse dia, ou no domingo seguinte, em muitas igrejas era comum levar os animais para serem abençoados durante a celebração da missa.
Jaime Lopes Dias sobre o culto de Santo Antão escreveu na” Etnografia da Beira”,1953, vol. VIII, p. 133) que “Na Cova da Beira, nos concelhos de Covilhã e Belmonte, são poucas as localidades que não adotam como padroeiro e protetor dos gados, especialmente dos suínos, Santo Antão. A última freguesia parece ter sido Caria (…) O Santo Antão mais antigo, no dizer do povo “o pai de todos” é o de Benespera porque nos arredores houve um antiquíssimo convento da invocação do Santo, muito anterior ao que parece, à formação da nossa nacionalidade”.
Nas comunidades rurais, a festa consagrada a Santo Antão era vivida com muita fé e convicção, pois a economia familiar nestas comunidades dependia muito da criação de animais, uns para ajudarem na agricultura, outros como base de alimentação.
Nestas freguesias da Cova da Beira a matança do porco, era um dia de festa, pois, tal significava que o animal que tinha sido criado com tantos cuidados não tinha sido afetado por doenças durante a sua criação e iria repor a salgadeira, onde haveria de durar uns largos meses.
Em dia de Santo Antão realizam-se festas, feiras e romarias onde se pede a bênção do Santo para os animais que estão em fase de crescimento.
As festas dedicadas a Santo Antão foram perdendo alguma devoção, quando apareceram os frigoríficos e os estabelecimentos comerciais passaram a vender carne durante todo o ano, o que coincidiu com o êxodo rural em consequência da mecanização da agricultura, que dispensou milhares de braços de trabalho, foi-se abandonando a tradição da criação do tão apreciado porco. Os tratores e outras alfaias agrícolas motorizadas reformaram as juntas de bois que lavravam as terras e os burros e mulas que puxavam as carroças.
Sobre o culto de Santo Antão, especialmente na nossa Cova da Beira o distinto investigador Carlos Madaleno (in Revista de Religiosidade Popular nº1, CMP, p.25) refere que “o culto de Santo Antão é uma manifestação que atravessou os tempos estando sempre ao serviço do cortejo de angústias que povoavam as comunidades agropastoris, pelo menos nas que teimam em manter a sua essência cultural…).
Que neste mês de julho, na festa de Santo Antão, os Carienses cantem. “(…) Viva o nosso Santo Antão/Viva o nosso que é melhor que o Vosso”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *