Entrevista com Jorge Ferreira

Jorge Manuel L. Ferreira, um belmontense criado na Aldeia das Olas que é um dos quadros mais preparados do nosso País na área do Serviço Social, Ciência Política e das Políticas Públicas. É presidente da Associação da sua pequena Aldeia, tem uma visão sobre o concelho, a região e o País, mas rejeita cargos políticos… Uma entrevista que só por desconhecimento não aconteceu mais cedo…
Jorge Henriques Santos

Correio de Caria: – Onde nasceu, de onde é natural?
Jorge Ferreira:
– Eu nasci nas Olas em Belmonte, por acaso gerado em Pinhal Novo, mas vim nascer à aldeia das Olas, em Inguias, Belmonte. Por via do trabalho do meu Pai na CP, viviam no Pinhal Novo, mas vim nascer a casa dos meus avós maternos.

C.C.: -Onde estudou e viveu?
J.F.:
– Depois vivi nas Olas até aos 17 anos, o meu Pai emigrou para França e nós viemos para a terra. onde fui criado.

C.C.: – Percurso Académico?
J.F.:
– Fiz a escola primária nas Inguias, depois fui para o Ciclo para a Pedro Alvares Cabral e estive aí até ao nono ano. Depois fiz o 10, 11, 12º na Frei Heitor Pinto na Covilhã e depois vim estudar para Lisboa.

C.C.: – Veio estudar para onde?
J.F.:
– Na altura fui estudar para o Instituto de Serviço Social de Lisboa, no Campo de Santana, primeiro ainda estive em Direito, mas duas semanas deu para perceber que não era aquilo e passei para Serviço Social. Fiz ali a licenciatura, na altura cinco anos; Depois o Mestrado dois anos; Depois o doutoramento já fiz no ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa.

C.C.: -Mas também em Serviço Social?
J.F.:
– Também! Sou o primeiro ou o segundo doutorado na área, a nível do País, pela universidade portuguesa,

C.C.: – Percurso Profissional?
J.F.:
– Desde que acabei o curso estive uns dez anos entre o trabalho profissional e a Universidade, dava aulas e primeiro comecei a trabalhar no Instituto de Apoio à Criança, com a Dr.ª Manuela Eanes, fui um dos técnicos a implementar o SOS Criança; depois criei uma outra associação dos Pais e Familiares dos Doentes Psicóticos, para um modelo de reabilitação psicossocial dos doentes esquizofrénicos.
Depois acabei por ficar diretor do Instituto do Serviço Social de Lisboa, oito anos, e aí fiquei só na Universidade, depois ainda passei três anos pela Universidade Lusíada e depois fui convidado para implementar a área da Formação de Serviço Social no ISCTE e vim em 2008 para este instituto e desde 2010 que temos todos os níveis nesta área; A licenciatura, o Mestrado, o Doutoramento e a Carreira de Investigação.

C.C.: E funciona tudo sob a sua coordenação?
J.F.:
– Sim, só uma parte agora porque fui eu a implementá-lo, já fui diretor de todos os títulos, agora terminei o programa de doutoramento e passei às licenciaturas, outra vez, tenho uma série de programas de Mestrados Internacional e de Doutoramento Internacional também. Temos parcerias pelos continentes todos: Tenho um Mestrado em Dili; tenho outro na Finlândia, em Helsínquia. Há outro na parte francófona, Bélgica e França. Funcionam articulados aqui com o ISCTE.

C.C.: – E em termos de Residência? Está cá e lá?
J.F.:
– Eu sempre tive uma regularidade muito grande em ir à terra. Os meus Pais estão lá, em primeiro ia de dois em dois meses, agora vou praticamente sempre mensalmente, só quando é de todo impossível é que não vou.

C.C.: – E a Associação das Olas?
J.F.:
– Na altura que se criou a associação, em 1997 eu apoiei muito a criação até porque o meu Pai era dos fundadores e estava muito envolvido. Foi quando se desenvolveu toda aquela parte das estruturas e infraestruturas, eu apoiei muito nisso e agora há quatro anos vieram-me desafiar novamente para ficar à frente da direção
E daí a minha gestão é uma gestão muito democrática, com os companheiros que fazem parte da direção. Valorizando muito mais quem lá está. Quem lá está tem uma perceção muito mais concreta dos problemas. De uma forma muito descentralizada que assenta em distribuir tarefas, preparando-os para assumirem autonomamente e quando é necessária uma intervenção.
E acho que temos conseguido. Há coordenadores de áreas e de atividades e esses coordenadores têm autonomia para fazer e para organizar e fazemos uma reunião mensal de direção.
Fazemos uma ata mensal de direção, toda a gente fica com cópia da ata e vamos assumindo o que está decidido e concretizamos.

C.C.: -E assim têm funcionado bem e posto as OLAS no Mapa!?
Em termos associativos, além desta, onde começou e quais foram as suas participações?.
J.F.:
– Claro, risos… eu fui dirigente académico. Estive na direção da associação de estudantes quatro anos e um ano na direção da Associação Académica de Lisboa. Cheguei na altura a fazer muitos debates, sobre a educação e o ensino superior era na altura o Ministro da Educação, Roberto Carneiro.

C.C.: – Em termos Sociais e Educativos?
J.F.:
– Estive a fazer investigação com a falecida Laura Aires, sobre o HIV/Sida e com o Instituto Ricardo Jorge.

C.C.: – Em termos políticos, integrou ou integra estruturas partidárias?
J.F.:
– Eu sou filiado no Partido Socialista há muitos anos e só não sou deputado reformado (risos) porque um dia tive de decidir, ou queria uma vida mais saudável, ou queria uma vida sob stress e doentia e então continuava. Porque se não, já tinha feito dois ou três mandatos como deputado e agora já estava aposentado …

C.C.: -Em termos de cargos políticos já exerceu algum?
J.F.:
– Estive na Comissão Política Concelhia de Odivelas, com a Joana Amador. Mas tenho colaborado mais como consultor ao nível autárquico e naquilo que é a minha área, o Serviço Social.
Fui ainda presidente da implementação das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens. Estive na reforma do Direito de Menores em 1987, depois vim implementar a Primeira Comissão de Proteção no concelho de Odivelas.

C.C.: -Mas mais na área social do que na intervenção política?!
J.F.:
– A área social tem sempre uma intervenção política.

C.C.: -Mas em termos de responsabilidade com Cargos Políticos, de gestão ao nível autárquico, ou do Poder Central?
J.F.:
– Nunca tive, não tenho e não estou interessado em ter. Quando estava na vida académica e o Jorge Sampaio concorreu à presidência da República, eu fui um dos apoiantes e às tantas da manhã tocava o telefone, vamos reunir na cave tal para elaborar um documento para a finalidade tal…. Ora isso é sempre um trabalho muito de bastidores e com base na estratégia. A dada altura eu tive de optar e o meu interesse sempre foi uma vida mais regrada, investigar, estudar e ensinar no meio académico. E foi isso que aconteceu.
Isso não quer dizer que não seja capaz de fazer um debate político… Não me desafiem …! KK

C.C.: – Ao que parece têm conseguido pôr a localidade no Mapa, fale-nos da atividade que têm desenvolvido.
J.F.
: – Isto acontece porque há um projeto, eu estou habituado a trabalhar por projetos e nós fizemos um projeto para estes quatro anos, começando em 2019. Agora lembrem-se que nós tivemos a pandemia logo em 2020. Isso afetou tudo e afetou-nos de uma forma especial. O objetivo era melhorar a vida na aldeia porque o que se estava a passar era que de ano para ano mês para mês havia cada vez menos gente. Porém as pessoas têm lá os seus bens, são pessoas idosas, não se podem retirar da aldeia e começámos a trabalhar nesse sentido, mas tive alguns dissabores.
O Primeiro projeto que era o Projeto dos Bairros Saudáveis da arquiteta Helena Roseta, ela própria me desafiou para o apresentar aqui para a nossa aldeia e eu fiz. Era um projeto muito interessante onde íamos buscar 50 mil euros e precisávamos de 76 pontos para ser financiados, mas tivemos 63 pontos e porquê? Porque a Câmara Municipal não assumiu a parceria no projeto, o que nos daria os outros 13 pontos. Tínhamos feito o muro granítico que agora está lá em derrocada, tínhamos recuperado uma série de estruturas, enfim. O projeto até ficou muito bem cotado, mas a parceria não estava lá e esses projetos só passam se houver parcerias. Esse foi o primeiro.

C.C.: -Mas houve mais?
J.F.:
– A seguir fiz o projeto para o PRR, para uma estrutura integrada de resposta à população idosa, com apoio domiciliário. Era um projeto inovador no sentido de as pessoas se manterem na sua habitação e haver o apoio domiciliário. Um Centro de Dia para algumas horas de lazer, convívio e tal.

C.C.: -Na própria Aldeia?
J.F.:
– Sim no espaço das Associação. O projeto foi todo elaborado e todo submetido Acontece que o Centro Regional de Castelo Branco, não aprova a Associação como IPSS porque considera que o concelho tem IPSSs a mais. Então o projeto não entrou e ninguém se preocupou… Eu, entretanto, entrei em discussão com o Secretário de Estado da Segurança Social. Fiz uma pronúncia, vim questionar o excesso de IPSSs que há no concelho, se há pessoas que até não têm vagas e têm de sair do concelho, mas até agora, resposta zero. Já percebi que da parte do Centro Regional de Castelo Branco, o projeto é para matar, o que é lamentável, porque o concelho de Belmonte está a ter problemas de idosos com demência, muito graves e não tem resposta para isso.

C.C.: -O projeto Intermunicipal em Caria para essa resposta também não avançou!?
J.F.:
– Não avançou e a resposta que o Município deu em termos públicos foi absolutamente lamentável. As pessoas deviam ser responsabilizadas. Está-se a perder o PRR sem se fazer nada; está-se a perder os Fundos Comunitários, sem trazer fundos comunitários comuns para o concelho. Podia haver um PRR para ajudar os empresários locais, ninguém fez. Podia haver fundos comunitários para desenvolver o comércio local, ninguém fez. Outros concelhos conseguiram um programa para o PRR habitação, requalificação, adaptação energética, bolsa para arrendamento, etc. Em Belmonte não conheço que esteja nenhuma candidatura aprovada…

C.C.: -Mas isso é do conhecimento geral?
J.F.:
– É! e eu admiro como é que na Assembleia Municipal, esta questão não se levante. Nem a oposição aqui funciona, como é que isto pode ser.? É que os fundos comunitários acabam e uma câmara com a dívida que tem, se não for buscar fundos comunitários, considero que em breve fará apenas manutenção de salários e é se conseguir fazer.

C.C.: -Um dos projetos com algum sucesso e pioneiro da Associação das Olas foi a Aldeia Segura, quer falar do projeto?
J.F.:
– É um projeto muito interessante, porque para além de trabalhar a segurança das pessoas realiza um trabalho de participação coletiva, onde as pessoas colaboram. É um projeto muito desafiante porque nós temos de ter a casa abrigo e na casa abrigo queremos dar as melhores condições, vamos agora iniciar um processo de obras para fazer uma cozinha integrada no pavilhão e depois os balneários e criar um teto falso, tudo no sentido de dar melhores condições àquele espaço. Mas depois a Aldeia Segura tem a questão das limpezas e aí obriga-nos a olhar para dentro, para a população e percebemos duas coisas, que as pessoas não têm capacidade para proceder à limpeza e que não têm rendimentos para mandar fazer a limpeza e quando querem trabalhadores para fazer a limpeza não encontram. Nós acabámos de contatar o Centro de Emprego para uma brigada de trabalhadores em regime ocupacional para fazer a limpeza. Mas eu acho que esta atividade devia estar na esfera da Junta de Freguesia e não no âmbito da Associação. As autarquias e neste caso as de maior proximidade, têm de encontrar respostas para os problemas das populações e não entendo que só tenham de se preocupar com a parte do lazer e a parte das festas.
Eu considero que há muitas necessidades sociais que têm de ser equacionadas e planificadas no âmbito de uma política autárquica. Salvo se deixarmos um conjunto de cidadãos para trás, isso não pode acontecer, isso não é democrático.
O programa Aldeia Segura pode também ser enquadrado no Condomínio da Aldeia. O Condomínio da Aldeia é um programa associado, com um âmbito muito mais vasto. Mas faz falta um pensamento mais global e integrado para estes programas todos.

C.C.: -Mas são apenas 20 habitantes?!
J.F.:
– Nesta ocasião são 34. Agora nós temos nesta altura uma média de cinquenta por cento da população com mais de 65 anos e a outra metade, menos de 65. Há aqui uma inter geracionalidade muito interessante. Talvez seja a aldeia do concelho de Belmonte que nos últimos anos tenha mais instalação de casais jovens. Isto tem de ser olhado com alguma atenção e não podem ser excluídos

C.C.: – Isto leva-nos para a questão da fibra ótica. Como foi esse processo?
J.F.: – Eu andei três anos a falar das questões da internet na aldeia, inclusivamente a rede telemóvel que não tem, quando lá estou também sinto essa dificuldade. Não conseguimos fazer nada lá, não há comunicações é um pouco como estar num Asilo… fazer um retiro de solidão…KK
Porém a Câmara e a Junta de Freguesia sempre disseram, as Olas vai ficar integrada e a fibra chega em fevereiro de 2023. Chegamos a fevereiro de 2023 a fibra chega, mas não chega às Olas. Vem a bomba através da empresa, a dizer que ficava na Quinta Cimeira e que ficava nas Inguias.
Ora vamos perceber o que é que aconteceu… A Quinta Cimeira tem muito menos habitantes, nós temos 34 inclusivamente 17 ou 18 são jovens, com várias atividades e inclusivamente três empresários, em nome individual instalados.
Escrevi para a empresa a pedir informação, a DSC vem dizer que as Olas não estão integradas no plano. A seguir vem alguém da Câmara a dizer que as Olas no primeiro plano estava, mas depois foi retirado e ninguém assume quem é que retirou. Vamos para a Junta de Freguesia e o presidente da Junta em vez de se envolver connosco, vem com a proposta de colocar antenas. Nós dissemos que não queremos antenas porque as antenas não é um processo aconselhado, nomeadamente a ANACOM está a mandar retirá-las para colocar fibra. Até porque as antenas não asseguram o serviço todo, além de mais as antenas ficavam apenas colocadas na sede da associação e no Pavilhão, e o resto como era?
Além disso os serviços digitais atualmente são muito sobrecarregados, inclusivamente nós temos agora um pedido para a ARS de Castelo Branco, no sentido de criar o serviço de consulta digital, que por acaso é um tema que eu trabalho na minha vida profissional. Porque num futuro breve não necessitamos nem podemos estar a deslocar as pessoas todas aos centros de saúde e as mudanças que vai haver em breve entre o funcionamento dos hospitais e dos centros de saúde, a isso vai obrigar. Como é que nós vamos criar acessibilidade para um sistema de saúde digital? Ora como é que nós vamos olhar para o futuro próximo numa aldeia sem fibra ótica?
Depois temos um conjunto de pessoas que são descendentes da terra, são jovens, não vivem efetivamente cá, mas têm atividade à distância e em casa. Dizem que até lhes apraz mais estar aqui do que na grande cidade, mas como podemos atraí-los para cá se não lhes dermos condições básicas para trabalharem e para comunicarem. Os casais jovens dizem, sem fibra temos de ir embora daqui, como fazemos com a escola dos miúdos.
Então temos aqui uma questão séria que é a desertificação e a anulação da aldeia como espaço de habitação, o que no meu ponto de vista é extremamente grave e penso que ninguém pode defender uma coisa destas.

C.C.: -Mas houve uma reunião com a Câmara no dia 24 de maio, não foi? O que se adiantou?
J.F.:
– Na reunião o vice-presidente da Câmara, comprometeu-se com o projeto da instalação de fibra nas Olas, garantiu que a fibra ali iria chegar e que ele tudo faria para que fosse possível. Ou então, em alternativa, no próximo ano colocariam a verba em orçamento de Câmara para a colocação da fibra.

C.C.: -A verba é assim uma coisa significativa?
J.F.:
– Aquilo que sabemos é que são uns 20 mil euros… e por essa verba deixa-se uma aldeia inteira excluída…

C.C.: -Não seria possível encontrar esse apoio numa dessas linhas que vêm com a “bazuca”?
J.F.:
– Claro que sim… Eu não tenho dúvida que um bom diálogo com o Ministro do Ambiente, ou o das infraestruturas, se resolvia isso num ápice. É só ter interesse em resolver isto…. É isso que eu acho que muitas vezes não é percetível.
C.C.: – Será um problema que estará ainda para demorar a ter resolução?
J.F.:
– Não sei!… Mas eu sei que nós vamos tomar todas as iniciativas para impedir este ato discriminatório porque é disso que se trata e não é aceitável.
C.C. – O facto de serem poucos não os impede de fazerem grandes coisas!?
J.F.:
– É verdade, mas isso deve-se a um compromisso coletivo, porque temos trabalhado em conjunto em prol do mesmo objetivo, como se tem verificado e muitas vezes é frustrante, porque temos a sensação clara que não atingimos mais objetivos, porque alguém nos impede de os atingir. Não é por falta de trabalho, por falta de estratégia, é porque alguém entrava o processo, ou porque alguém não apoia, para o processo avançar.

C.C. – O que acha que falta nestas zonas para se superar o isolamento?
J.F.
: – Aquilo que eu tenho sentido é que há momentos em que se revela desconhecimento e impreparação para.., mas pior que isso, há uma questão de brio pessoal em não aceitar apoio nem se saber rodear de quem esteja mais preparado.. Hoje Belmonte e a região com a proximidade da Universidade da Beira Interior, só não se desenvolve mais porque não quer. A UBI tem uma equipa de investigadores e de docentes, muito orientados para as questões do desenvolvimento local,e regional, extremamente bons, mesmo muito bons, muito bem classificados no panorama nacional. Então porque é que não se vão buscar? E alguns até moram no concelho, então?

C.C. – O que seria possível fazer para dar esse salto?
J.F.:
– Era preciso diálogo, principalmente, uma mente aberta, sem medos e sem receios de trocar ideias e pensar “fora da caixa” e de olhar de forma mais integrada para as sinergias que há à volta do concelho. Hoje nenhum serviço consegue funcionar sem estar aliado às Instituições de Solidariedade Social, faz parte dos programas comunitários, faz parte dos projetos para uma boa avaliação, no desenvolvimento de boas parcerias entre as entidades locais.

C.C. – Mas essas parcerias existem, existem os CLDS, existe o CLAS, a rede social etc.
J.F.:
– O Conselho Local de Ação Social, é a entidade que reúne todos os agentes e os ausculta, no sentido de perceber o que é mais prioritário para o desenvolvimento do concelho. A partir daí são pensadas as políticas sociais locais e remetidas para a rede social para que o Ministério correspondente atribua financiamento para essas atividades. Agora não é uma comissão elaborar uma Ordem de Trabalhos e depois reunir a fazer uma reflexão sobre essa ordem de trabalhos.

C.C. – Mas não está feito, esse diagnóstico social?
J.F.:
– Eu por exemplo fiz o diagnóstico social da aldeia.

C.C. – Mas o concelho não tem um diagnóstico social?
J.F.:
– Que eu conheça não tem … Como é que trabalha o CLAS?, não trabalha…

C.C. – Vocês fazem parte do CLAS?
J.F.:
– Já fizemos

C.C. – Não há uma estratégia de desenvolvimento social no concelho?
J.F.:
– Não, há…. Há apenas uma estratégia de desenvolvimento turístico…Sinceramente, é preciso dizer isto…!

C.C. – Pelo que conhece, o que falta na região e no concelho de Belmonte?
J.F.
: – Na região falta um Plano Diretor, a partir das autarquias, com auscultação às associações, às parcerias, aos empresários locais, ao comércio, no sentido de criar um Plano Diretor que abranja as várias estratégias setoriais e locais para toda a região. No sentido de se proporcionar o melhor bem-estar em cada concelho e cada um poder desenvolver mecanismos de atratividade, de acordo com as suas potencialidades e estratégias. Contrariando a desertificação. Na região o único concelho que faz isto, possivelmente é apenas o Fundão.
Há ainda uma atitude muito reativa, muito competitiva entre os concelhos, se aquele faz isto eu também faço. Isso não traz ganho absolutamente nenhum.

C.C. – Passa pela sua perspetiva de vida regressar ao concelho e se dedicar mais afincadamente à vida social?
J.F.
: – Olhe eu gosto muito do meio rural e até me questiono porque é que não fui para engenheiro agrónomo, mas ultimamente tenho-me questionado muito se vou manter os meus planos de regresso. Tenho todo interesse e tenho cá casa, mas confesso que vejo muitas dificuldades no concelho.

C.C. – A dificuldade do concelho podem ser apenas administrativa e isso é sempre passageiro, é por aí também que o repovoamento se faz.
J.F.:
-. Não sei se é passageiro. Parece que tudo funciona como uma obrigação, ou como um favor. Aqui não há obrigações nem favores, as pessoas se estão integradas num serviço publico, têm uma responsabilidade a cumprir.

C.C. – Mas a questão de fundo é, se está na sua perspetiva o regresso ao concelho e com isso um maior envolvimento social e até político?
J.F.:
– Á vida política não, perentoriamente não! À via social com toda a certeza, não tenho a menor dúvida. Há uma série de projetos e obras que estão ainda na minha mente para ser concretizados.

C.C. – Isso é nas Olas, mas em relação ao concelho?
J.F.:
– Em relação ao concelho é a mesma linha, eu disponibilizei-me já em poder contribuir na organização de equipas, poder ajudar na elaboração de um diagnóstico social, ajudar a criar uma carta educativa etc. Mas não há resposta…

C.C. – O concelho pode usá-lo como um recurso técnico, mas não político, é isso?
J.F.:
– Repare, eu estou integrado num departamento de Ciências Políticas e Políticas Públicas e tenho-o manifestado, que tenho todo o interesse e disponibilidade para isso.

C.C. – E não o têm aproveitado?
J.F.
: – Pois pelos vistos pensam que eu vou competir com eles nos cargos políticos, é um erro porque eu não tenho o menor interesse em cargo político nenhum… Já tive os cargos que devia ter e não quero mais e o meu partido sabe isso…,Portanto…!

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