A designação “Entrudo” evoca a vertente religiosa desta festa de origem pagã que se comemora sempre numa terça-feira, 47 dias antes do Domingo de Páscoa. Provém da palavra latina “introitus”, que significa entrada, ou seja, entrada na Quaresma, período que tem início no dia seguinte, na chamada Quarta-Feira de Cinzas.
A palavra Carnaval mais usada atualmente, deriva do latim “carnem levare” ou “ carnis levale”, que significa “abstenção da carne”. A explicação tem origem no facto da festa do Carnaval ser sempre comemorada no período que antecede a Quaresma, período em que os católicos se abstêm de consumir carne, com estas caraterísticas cristãs deverá ter começado pelo século XVI.
Constitui-se por um período durante o qual são permitidos excessos de vária ordem, incluindo os alimentares (principalmente a carne de porco), a anteceder um tempo de penitência, expiação e purificação.
Nas nossas freguesias diversos práticas e rituais mais ligados ao passado eram específicas no dia de “Entrudo” geralmente com almoço cerimonial de carne de porco –fresca, fumada ou salgada – principalmente a orelheira, o chispe, os enchidos, pés, o famoso bucho (que nos dias de hoje pode ser adquirido nos talhos em Caria (Belmonte)).
Durante a tarde, os mais folgazões vestiam-se de entrudo e percorriam as principais ruas da freguesia, as vestes eram bizarras e a algazarra era com os garotos que corriam atrás do “entrudo”, (nos Três Povos, o saudoso “Ti” Luís Deus nunca deixou de sair nesse dia levando uns “bolinhos” quentes numa sertã transportada num carrinho de mão, por vezes dizia às senhoras para provarem e os cheirarem , qual não era o espanto ao verem os “cagalhotos” da sua burra), “chorar o entrudo” em Casteleiro (Sabugal) e Peraboa (Covilhã), também, as “caqueiradas” que consistia em atirar para dentro das casas, caldeiros velhos ou qualquer outra vasilha inutilizada com cacos, sapatos velhos e outros utensílios, acontecia quando as pessoas tranquilamente sentadas à lareira e, de repente, ouvirem o barulho duma “caqueirada”, que lhes cai nas escadas interiores ou no sobrado.
Este costume foi referenciado pelo Professor Jaime Lopes Dias na Benquerença (Penamacor), sob o nome de “cacadas” (“Etnografia da Beira, Vol., 1926, p.125).
Outras brincadeiras e folguedos que vigoravam outrora já desaparecidos ao longo dos anos, com uma lista infindável de tropelias divertidas e inofensivas, em que quase todos participavam, uns como causadores diretos, outros como suas vítimas.
Atualmente o Carnaval são as suas “partidas de carnaval”, cortejos e os corsos “á moda do Brasil”, com mascarados e mascaradas.
A função da máscara na Antiguidade, manifestava-se por um cariz profilático e expurgatório, fazia que ao mascarado coubesse a missão de expulsar da Natureza e das populações os maus espíritos e o mal em geral.
Que o Carnaval deste ano seja o “cair” da máscara que temos usado nestes dois últimos anos por causa da pandemia.
E, oxalá que o “enterro do entrudo” seja à COVID-19.
Paulo Silveira