Há sempre uma primeira vez para tudo. Escrever, como cidadão do concelho de Belmonte, para o “Correio de Caria” é um desafio em primeira mão que me obriga a sair da minha zona de conforto e conveniência, recebendo, em troca, satisfação pessoal pela colaboração no jovem jornal de Caria.
Validei este projecto como interessante para o Concelho de Belmonte, com abrangência à Região da Cova da Beira. É prematuro fazer uma avaliação, não se conhece, ainda, o impacto mediático no meio social onde está inserido, mas acredito que tem “pernas para andar”.
Precisamos falar de Caria, Freguesia. Para tal, vou servir-me da metáfora do copo meio cheio, meio vazio. É uma realidade desafiadora. Algumas pessoas dão atenção à parte vazia, outras olham para a parte meio cheia. Do meu ponto de vista o copo está meio cheio e meio vazio. Temos sempre algo e algo que nos faz falta.
O copo meio cheio é o lado positivo. Falar de Caria remete-nos para o seu passado que nos orgulha. É um passado de pedra, feito de granito, duro e resistente, que não se apaga no imaginário colectivo. Deste passado fazem parte pessoas ilustres, a riqueza com origem nas actividades económicas ligadas à produção agropecuária nas casas senhoriais brasonadas (Solares) e em grandes casas agrícolas, em oposição, mas convivendo, com a agricultura de sobrevivência.
A estação de caminhos-de-ferro, que já foi de 3ª classe, merece fazer parte da história de Caria. A partir dela era escoada a produção agropecuária de Caria e dos concelhos vizinhos, conferindo-lhe uma posição estratégica da maior importância na rede de estações de caminho-de-ferro. Hoje desactivada, às moscas, na esperança que tenha utilidade na linha da Beira Baixa, em fase de renovação, mas provavelmente vamos ver passar os comboios.
Temos um rico e vasto património religioso, histórico, arquitectónico e sociocultural de que fazem parte a Igreja Matriz, a Casa da Torre, a Casa da Roda, a Casa das Caras e a Casa da Câmara. O Solar dos Condes de Caria, o Solar dos Proenças e o Solar Quevedo Pessanha, este, degradado e ao abandono, representam o que sobra do passado agrícola.
Caria sempre teve e ainda tem um movimento associativo que nos orgulha, em áreas tão díspares como a cultura, música, desporto e área social. A Associação Cultural e Recreativa de Caria/Rádio Caria/Grupo de cantares Toca da Moura; União Desportiva Cariense; Banda Filarmónica de Caria; Clube de Caça e Pesca de Caria; Núcleo Gimnodesportivo e Cultural de Caria; Centro de Assistência Paroquial de Caria; Centro Cultural Desportivo e Recreativo de Monte do Bispo; Associação In Monte Cultural e Centro Cultural e Recreativo de Malpique.
“As Cantadeiras de Caria” e a sua mentora Maria Alcina Patrício merecem destaque e menção especial, pelo importante papel que tiveram na divulgação de Caria, suas tradições, oralidade e identidade genuína.
Ao longo de gerações foram as colectividades e o associativismo de base local que, juntos, construíram uma história de cultura, de tradições, de desporto, de dinâmica social. Isto só foi possível graças ao esforço de cidadãos participativos e empenhados.
É responsabilidade de todos preservar as nossas memórias, identidade e história, garantir que o associativismo continue vivo e activo na construção de uma Freguesia para todas as gerações.
No copo meio vazio cabem os nossos pontos fracos, o que nos faz falta ou o que temos de menos positivo.
O número de habitantes de Caria continua a baixar à custa de uma progressiva redução da taxa de natalidade e à partida de jovens à procura de oportunidades, algures mais longe. Temos cada vez mais idosos e menos jovens; mais casas abandonadas e em ruinas; ruas desertas e silenciosas em que não se vê vivalma.
Precisamos de encher o copo meio vazio, de pontos fortes, desafios e oportunidades.