Pregar aos peixes

Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vós, perguntem o que podem fazer pelo vosso país. Esta é uma tradução livre das palavras de um Homem inspirado, em 1961, continuam muito atuais. Lamentamo-nos, com alguma frequência, de que a situação na nossa região é complicada: noutros tempos é que era bom, tínhamos trabalho e fábricas que agora ou faliram ou foram embora. Claro está que a solução, geralmente encontrada, é tentar convencer outros a investir e criar um novo tecido industrial à nossa porta. Podemos continuar a lamentar-nos, não somos os únicos a tentar esta solução, que de resto não tem dado grandes resultados. Já é tempo de nos perguntarmos: o que podemos fazer pela nossa região? Ou seja, o que podemos fazer para melhorar a nossa vida e a dos nossos vizinhos?

Estamos no início de um novo ciclo autárquico, tudo o que vejo são planos para gastar dinheiro. Parece que a criação de riqueza é sempre uma tarefa dos outros, segundo dizem, criar riqueza não faz parte das funções do estado, o estado deve criar condições para atrair investimentos que venham resolver os nossos problemas. Como se diz pelos nossos lados, “fia-te na Virgem e não corras …”

O que podemos fazer pela nossa região?

Podemos começar por contrariar uma cultura instalada e profundamente enraizada no povo português, uma forma de pensar que pode ser resumida num velho provérbio popular: “Cada um por si e Deus por todos!”

Podemos começar por falar uns com os outros e aferir o que cada um sabe fazer por forma a avançarmos com sucesso rumo a um objetivo comum.

Podemos organizar-nos, e a chave é mesmo essa, organização e a cooperação. Até os animais sabem que assim é: os búfalos protegem-se em manada; os leões atacam em grupo; nós, que supostamente somos racionais, comportamo-nos como coelhos a fugir do cão, isto é, esperamos que o vizinho do lado seja mais lento.

Podemos criar empresas. A ideia da criação de empresas com um só proprietário, ou no máximo com familiares, tão comum em Portugal, tem como resultado um elevado número de empresas de pequena dimensão e sem estrutura ou capacidade para se desenvolverem. Felizmente já inventaram as sociedades por ações, que não são mais que o resultado da cooperação entre muitos. Para que estas sociedades/empresas se formem são necessárias diversas coisas, mas a mais importante é sem dúvida a capacidade de organização.

Esta organização pode surgir com um grupo de moradores de uma aldeia, de um grupo de proprietários agrícolas que resolvem cooperar ou, por estranho que pareça, por iniciativa dos autarcas recentemente eleitos para liderar os destinos da região nos próximos quatro anos.

A tarefa dos autarcas pode e deve ser mais do que gerir a forma como se gasta o dinheiro do orçamento do estado, eles podem efetivamente promover a cooperação e a organização de quem aqui vive. A criação de empresas na região é uma necessidade urgente, falta a vontade e a organização.

Cresci a ouvir estórias de sabedoria do nosso povo. Uma delas fala da facilidade em quebrar uma vide isolada e da impossibilidade de fazer o mesmo com um molho. Sabedoria nós temos, falta pô-la em prática.

Manuel Magrinho

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