Santa Bebiana de Caria homenageia as Bebianas

Pedro Silveira
Professor de 1º Ciclo
Peraboa

Santa Bibiana, padroeira de Sevilha, protege as doenças mentais, tonturas, dores da cabeça, entre outros males, e é também a protetora das mulheres solteiras. Nasceu no Séc. IV e Caria dedica-lhe um dia, e bem, num tempo em que se fala tanto de equidade de género.
Santa Bibiana (primeira sílaba «i») foi mártir e é celebrada no dia 2 de dezembropela Igreja Católica e o seu culto disseminou-se no Séc. XVII, aquando a construção da sua Basílica em Roma. É festejada no mês do frio, dezembro.
Fica a dúvida da relação existente entre a Santa “Bebiana” e “Santa Bibiana”. São duas palavras, cuja pronúncia é igual, mas com significados e grafias completamente diferentes, a que chamamos: palavras homófonas.
Tentar encontrar uma explicação, porque razão Bebiana é uma homenagem às mulheres, as que “se tocam do copito”. No que se refere à Santa Bibiana o seu culto está enraizado no Brasil e nos Estados Unidos. No que diz respeito à Bebiana esse culto de cariz profano é alegremente venerado em Caria com pompa e circunstância e representa a abertura oficial das antigas pipas do vinho. É das festas mais genuínas do país, que sempre foi apadrinhada pela sua comunidade, que nunca a deixou cair nas cinzas do esquecimento. É a verdadeira festa do povo, destinada às Bebianas, e não só. Atualmente é o cartaz turístico da Vila, que até deu nome a um Restaurante, Bebiana. À entrada de Caria tem um mural que espelha muito bem o sentimento de pertença desses festejos, tão peculiares e genuínos.
A Festa em honra de Santa Bebiana, segundo consta terá sido um grande acontecimento pagão e a procissão é feita em seu louvor pelas ruas de Caria, com archotes, e autênticos teatros Vicentinos, que nos fazem refletir sobre a sua sátira: “Rindo se castigam os costumes”. Ou seja, em Caria “casa-se” o São Martinho com a Santa Bebiana, em louvor a Baco, Deus grego do Vinho, que se perde no tempo, cumprindo assim os rituais de inverno; isto é, ligadas aos movimentos centrípetos em que as comunidades se voltam para dentro das vilas e das aldeias. É um tempo de recolhimento, que começa no final do verão. No tempo da transumância, os pastores vinham com os gados para as zonas mais baixas da Serra da Estrela e naquele dia, no dia 2, prova-se o vinho novo para aquecer as noites gélidas do inverno; quer dizer para aquecer a alma. Nessa época as tabernas estavam cheias de homens. A propósito do deus grego Baco, na obra Os Lusíadas, de Luís de Camões, Baco foi o principal opositor aos heróis portugueses. No dia 2 de dezembro todos os deuses vão abençoar Santa Bebiana, que tem algo de extraordinário, que consegue juntar, agregar todos, mesmo os mais devotos, os mais crentes e tementes a Deus. Os habitantes de Caria sabem balizar os dois mundos, o profano e o religioso, o trigo do joio. É o acontecimento mais profano festejado na nossa região antes da entrada do Advento, a chegada. A Festa de Santa Bebiana representa o lado mais carnavalesco antes do grande acontecimento do Natal. É um tempo de desordem, de excessos, que irá dar lugar à luz, a um novo tempo religioso, de acolhimento, à Luz, que nos vai aquecer no Madeiro do Natal.
A Santa Bebiana de Caria perde-se no tempo, embora nos anos 50, no tempo da censura, tivesse havido uma tentativa de a interromper, porém a população de Caria não permitiu que tal acontecesse. Pessoalmente, a Vila de Caria é a que preserva melhor esse património imaterial, essa manifestação curiosa, a mais autêntica, e junta milhares de romeiros, que querem conhecer a sua identidade, o mistério das Bebianas, a sua história.
A Associação da Irmandade de Santa Bebiana são os grandes guardadores da Festa de Santa Bebiana, arautos das suas tradições. Obrigado.

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