Vinho um Património

Manuel Geraldes
Médico,
Natural e Residente em Caria

As origens do vinho são quase tão antigas como as da própria Humanidade.
Apesar de existirem diversas teorias quanto às circunstâncias e local onde surgiu pela primeira vez, os registos históricos mais recentes apontam que esta bebida terá tido origem há cerca de 6000 a.C. numa área que corresponde atualmente à Geórgia.
Os primeiros registos escritos sobre a produção de vinho vêm dos povos antigos da Mesopotâmia, nos terrenos férteis de entre os rios Tigre e o Eufrates. Contudo, foram as grandes civilizações como os egípcios, gregos e romanos que impulsionaram a cultura e desenvolvimento da bebida.
Foram os gregos no século VII a.C. que, quando se instalaram na Península Ibérica, desenvolveram a arte da viticultura.
A romanização na Península, a partir do ano 218 a.C., contribuiu para a modernização da cultura da vinha, com a introdução de novas variedades e com o aperfeiçoamento de certas técnicas de cultivo, designadamente a poda.
Nesta época, a cultura da vinha teve um desenvolvimento considerável, dada a necessidade de se enviar frequentemente vinho para Roma, onde o consumo aumentava e a produção própria não satisfazia a procura.
O vinho, também chamado de “néctar dos deuses” desempenhou um papel significativo na cultura e religião dos antigos egípcios e gregos.
“Néctar dos deuses” é uma expressão frequentemente usada para descrever algo extremamente saboroso e deleitoso. A origem da expressão remonta à mitologia grega, onde o néctar era uma bebida dos deuses, conhecida por sua essência divina e sabor inigualável.
No Egipto, o vinho era considerado uma bebida sagrada, associada à deusa Hathor, e era usado em festas e cerimónias religiosas. No ocidente, de tradição greco-romana, todos apontam o vinho como sendo a bebida de Baco – versão romana do deus grego Dionísio.
Nas religiões monoteístas, o vinho desempenha um papel simbólico, configurando diferentes significados e rituais.
A Bíblia chega a citar a palavra “vinho” cerca de 450 vezes. Isso mostra o quanto a bebida marca os rituais católicos. De um modo geral, o vinho é associado ao sangue de cristo, enquanto o pão representa o corpo sagrado de Jesus.
O vinho é um componente significativo de muitos rituais judaicos e uma parte central de grande parte da cultura judaica.
Para os judeus, o vinho tem que ter a certificação Kosher, ou seja o seu fabrico tem que ser supervisionado por um Rabi, segundo as restrições do Tora que faz referência à viticultura como uma das principais fontes da riqueza agrícola da Terra Prometida.
No Islamismo, o consumo de vinho é proibido, de acordo com os ensinamentos do Alcorão e tradições do profeta Maomé. As práticas e interpretações podem variar entre diferente correntes e comunidades dentro do Islão, mas, em geral, muitos muçulmanos evitam o consumo de bebidas alcoólicas, incluindo vinho, como parte da sua adesão às leis islâmicas. Essa proibição é uma parte importante da ética islâmica e do código de conduta.
O vinho pode ser considerado património imaterial e fazer parte da identidade cultural em diferentes culturas, quando a sua produção envolve tradições, técnicas e conhecimentos transmitidos pelas pessoas ao longo de gerações.
A propósito, a festa pagã da celebração do vinho, em homenagem a Santa Bebiana em Caria, padroeira dos amantes do vinho, comemorada no dia 2 de Dezembro, é um património colectivo imaterial, por tudo o que encerra e representa (histórias, memórias, práticas, costumes, rituais, etc.).
Inspira-se nas festas de homenagem aos deuses do vinho, Baco para os Romanos, e Dionísio para os Gregos.
O vinho pode ser também considerado parte do património material, especialmente quando se refere a elementos físicos tangíveis associados à sua produção. Isso inclui vinhedos, adegas históricas, instrumentos tradicionais de vinificação e rótulos antigos. Esses elementos materiais desempenham um papel importante na preservação da história e da tradição vinícola em determinadas regiões, contribuindo para a herança cultural e histórica associada ao vinho.

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