“Sonhar, acreditar e nunca desistir…” – Entrevista com Eduardo Cavaco

Professor Eduardo Cavaco, docente da UBI e presidente da Banda da Covilhã, ideólogo do Festival da Cherovia e múltiplas iniciativas de sucesso. Um paladino da Covilhã e de toda a região, uma figura incontornável na afirmação da cultura e desenvolvimento da Região, acedeu a uma entrevista do Correio de Caria, com o seu peculiar sotaque alentejano.

Jorge Henriques Santos

Correio de Caria – De onde é natural, o que faziam os Pais?
Eduardo Cavaco
– Sou natural de Moura, Baixo Alentejo, nasci numa família humilde, o meu pai era funcionário público na Câmara de Moura, era o responsável da piscina do mercado, do cemitério e os jardins (risos)

C. C. – Onde estudou?
E. C.
– Fiz a primária e o secundário em Moura, até ao 12º ano, depois fui estudar para a Universidade do Algarve.

CC. – Estudar o quê?
E. C.
– Licenciei-me em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve (1992). Depois na Holanda mais propriamente Países Baixos, onde fiz Doutoramento em Biomedicina na Universidade de Utrecht (1998).

C. C.- Em que condições veio para a Covilhã? Há quantos anos?
E. C.
– Eu vim para a Covilhã há 21 anos e as condições foram muito fáceis. Num belo sábado, uma bela manhã, pego no jornal Expresso, estava-se a instalar a Faculdade de Ciências da Saúde e eu enviei o meu Curriculum, fui contatado e perguntaram-me: quando quer começar? Era o que eu queria ouvir… e foi dessa forma que num mês mudei minha vida toda para cá.

C. C. – Veio trabalhar como professor para a UBI?
E. C.
– O meu contrato é de julho de 2002, nessa ocasião estava a acabar o primeiro ano de medicina com 58 alunos.

C. C. – Chegou aqui à região e ficou logo como peixe na água!??
E. C.
– Não, não me integrei logo de repente…! Quando cheguei ainda me faltava fazer o sétimo e oitavo grau de clarinete, matriculei-me no Orfeão da Covilhã. Também fui diretor do Orfeão da Covilhã e cantava lá. Depois um amigo meu perguntou-me porque é que eu não mandava o curriculum para a Banda da Covilhã. Meti o Curriculum na Caixa do Correio, chamaram-me lá e foi dessa forma que a partir do dia 1 de julho de 2005 passei a ser o maestro da Banda da Covilhã.

C. C. – Entrou então para Maestro da Banda?!
E. C.
– Nessa ocasião entrei para maestro, mas a banda tinha apenas sete músicos que eram alunos na escola e depois fiquei só com uma música.

C. C. – Então e como fizeram?
E. C.
– Então começámos a trabalhar. Na altura funcionava em parceria com a banda do Paul, porque o maestro era o mesmo, ajudavam-se uns aos outros, os daqui iam tocar ao Paul e os de lá vinham cá ajudar. Foi dessa forma que me contrataram, para começar um novo projeto.


C. C. – Mas depois começou a correr bem!?
E. C.
– Começou a correr bem, não foi bem assim. O primeiro concerto que eu dirigi, foi o concerto de aniversário no dia 1 de dezembro de 2005, estavam três pessoas a assistir no Teatro Cine. Trabalhei muito e foi um concerto maravilhoso, mas eu disse “não pode ser a gente não pode andar aqui a trabalhar desta forma e a gastar dinheiro, para depois não ter público. Quando fui fazer o segundo concerto que foi no dia 3 de junho de 2006, já tivemos 600 pessoas. Foi um espetáculo mais virado para as crianças. Depois a partir daí houve espetáculos que três dias antes já tivemos a sala esgotada.

C. C. – Onde é que está a chave do sucesso?
E. C
. – Hum a chave do sucesso. Digamos que está na inovação, na criatividade, na aposta em projetos diferentes, como a “moda e Música”, “Covilhã Filarmónico”.

C. C. – O que é a “Moda e Música”?
E. C.
– A Moda e Música era uma passagem de modelos com a banda. Ou seja, o isco era a passagem de modelos, mas depois as pessoas chegavam lá e ficavam surpreendidas com a banda. A banda tocava um reportório diferente e era uma banda jovem que surpreendia as pessoas. Nessa altura foi-se fazendo logo a renovação da banda, com alguns amigos e músicos convidados, mas apostámos muito forte logo, foi na escola de música.

C. C. – Como foi a evolução da escola de música?
E. C.
– Um dos projetos inovadores da Escola de Música foi as férias “Dó, Ré, Mi”. É um programa de ocupação de tempos livres que eu lancei logo em 2006, nesse ano tivemos logo 90 crianças. Ou seja, nós começamos logo a apostar nos miúdos para os atrair para a Escola de Música a começar logo em setembro.
A escola de Música chamava-se Escola de Música da Banda da Covilhã, depois foi escola de Talentos e Valores da Banda da Covilhã e hoje é a Academia de Música da Banda da Covilhã.

C. C. – Mas porquê Academia?
E. C. –
Hoje chama-se Academia de Música da Banda da Covilhã, porque tem muitas vertentes. Agora tem várias valências porque nos procuraram para aulas de canto, aulas de guitarra, aulas de violino, aulas de acordéon. Temos todas as vertentes, cordas, sopros e percussão.

C. C. – Quantos alunos tem?
E. C.
– Neste momento temos 130 alunos. É um projeto social, porque as crianças que não podem pagar nós damos bolsas de estudo. As que podem, pagam um valor simbólico de 35€ por mês, e usam os instrumentos gratuitamente. É um projeto social, não deixamos que nenhuma criança deixe de aprender música, é um projeto pedagógico, musical, cultural e artístico.
Uma das nossas funções é ensinar música a todas as crianças e o nosso objetivo é ser uma das melhores bandas do País.

C. C. – O que é a Orquestra dos Pais?
E. C.
– A Orquestra de Pais foi um projeto que nós lançámos durante a pandemia, que teve 30 participantes, ficaram 22 e neste momento há quatro pais que já ingressam na banda. Um projeto diferente, arrojado e que surge com o objetivo de dar ferramentas aos pais para melhor comunicarem com os filhos, se os pais também conhecerem a linguagem da música é mais fácil a comunicação com os filhos, aumenta as relações e fortalece também as relações…

C. C. – Este casamento da Música e das ciências biomédicas não parece que tenha muito a ver uma coisa com a outra. Como foi?
E. C.
– Olhe que não! Tem, tem, tem, porque na área da medicina e na área da investigação, nós andamos sempre à procura de novos caminhos. Eu vou para 42 anos de músico filarmónico, estou muito dentro do meio e é preciso encontrar novos caminhos face aos novos tempos. O que é aliciante neste projeto é nós encontrarmos novos caminhos que nos levem a fórmulas novas., mantendo a tónica tradicional que é o espírito filarmónico, como o companheirismo, a amizade, a partilha, mas ao mesmo tempo já estamos a trabalhar no novo paradigma filarmónico.

C. C. – E qual é o novo paradigma filarmónico?
E. C.
– É melhores instrumentos, melhor formação, melhor música, mais qualidade, com melhores maestros. Aliás tem de ser com maestros com qualificação. Nós por vezes ouvimos aí algumas bandas e vemos que algumas ainda não perceberam que têm de dar o salto.

C. C. – E é possível?
E. C.
– Sim é possível porque muitas bandas no País já estão a dar este salto. Antigamente nós tínhamos bons maestros, mas eles não tinham formação e isso é fundamental, tem de se trabalhar também a parte artística, não pode ser só a parte musical. Aqui na Banda temos o maestro da parte musical e um diretor artístico, que neste caso sou eu que acumulo a presidência da direção e a direção artística da banda, mas há bandas onde o maestro musical acumula também a direção artística e são coisas diferentes.

C. C. – Fale-me das parcerias, essa é outra das vertentes interessantes da Banda da Covilhã!?
E. C.
– A Banda da Covilhã tem mais de 60 parcerias, com a Desertuna é uma das parcerias mais antigas em que há vários anos desenvolvemos todos os anos duas atividades de grande envergadura e que são “Até os Santos Dançam” e o Festival da Cherovia”.

C. C. – Há quantos anos? Como surgiu o Festival Da Cherovia?
E. C.
– O Festival da Cherovia foi uma ideia minha, apesar de eu antes de cá chegar não conhecer a cherovia, como muita gente ainda hoje não conhece. A banda antes tinha um bar e eu um dia cheguei lá e vi uma bela travessa de filetes, perguntei o que era aquilo e provei, fiquei surpreendido e disse “Olha vou fazer o Festival da Cherovia” …

C. C. – E fez logo com sucesso?
E. C.
– Não foi logo e assim de repente KK. O primeiro foi no Jardim, o segundo ano foi no campo das festas, depois voltámos para o jardim. Há oito anos a esta parte passámos para o Centro Histórico e desde aí tem vindo a crescer, a crescer e a afirmar-se

C. C. – E já é um evento com uma certa envergadura?
E. C
. – Sim, mas o Festival está ainda a anos-luz do que pode ser, um festival gastronómico é um projeto de grande envergadura que pode ter envolvimento a nível nacional. Tem pano para mangas para tudo o que pode fazer. Pode haver uma equipa a trabalhar o ano inteiro só para o festival. O festival não está esgotado…

C. C. – Os Santos Dançam é outro?!
E. C.
– Até os Santos Dançam é uma parceria também com a Desertuna, (Tuna Académica da UBI). É ir ao encontro das pessoas tendo um espaço de diversão no coração da Covilhã, no período dos santos populares, cumprindo a tradição do baile popular com a população e o envolvimento da população estudantil. Também tem resultado

C. C. – E como é que conseguiu mobilizar a cidade para esses projetos?
E. C
. – É por um lado estando no terreno, ir aos locais, vou aos eventos…saber como se faz. É bom sempre ver outras experiências, falar com as pessoas, ir alargando a rede de contatos… Depois com as primeiras edições a correrem bem as pessoas também já nos procuram.

C. C. – E sente que pode haver alguma preferência pelo facto de ter vindo de fora?
E. C.
– Não, eu o que me parece é: Aquilo que eu organizo gosto de organizar bem, o mais prefeito que eu consiga fazer, gosto de organizar com qualidade, com pés e cabeça e perfeito. Ou então não se faz… Eu sou suspeito para dizer isso, mas as dezenas ou centenas de iniciativas que temos feito ao longo dos anos têm corrido bem.

C. C. – Recentemente foi o fabuloso concerto a bordo no Comboio da Beira Baixa. Quer comentar?
E. C
. – Acho que… passou depressa demais, porque foi bom, em boa hora a Move beiras nos contatou, a iniciativa já era para ter acontecido antes, mas foi adiada por causa da greve, mas foi muito bom, correu muito bem e agora eu tenho de voltar a fazer a viagem porque só usufrui da música não cheguei a usufruir da beleza da paisagem. Foi uma iniciativa muito bem conseguida, tem pano para mangas e devia ser repetida, deixo aqui o repto através do Correio de Caria, para se poder fazer com paragem na Benespera e um encontro da banda que costuma ir lá, para um almoço com uma iguaria típica local e depois voltarmos. Um projeto que envolvesse também as gastronomias, envolva a aldeia. Etc…
C. C. – Embora seja muito novo para homenagens já conta com alguns reconhecimentos: Medalha de mérito cultural da Cidade da Covilhã, acompanhamento mediático em Moura etc. e mais?
E. C.
– Essa da Covilhã ainda não tenho KK. Sou apenas cidadão honorário da Covilhã desde 2011. Fui também homenageado na Gala de Moura, com o prémio de Mérito e Excelência; E fui homenageado nos Rotários da Covilhã; E homenageado também pelo Clube do Professor, na Covilhã.

C. C. – E acumula ainda alguns cargos de destaque na área da Música e da Filarmonia!?
E. C.
– Sou presidente do Conselho Nacional das Bandas Filarmónicas de Portugal, a entidade tem sede em Lisboa na Casa da Filarmonia, embora eu esteja aqui e os outros elementos também estejam espalhados pelo País. Este concelho organiza um Fórum anual onde apontamos perspetivas futuras para as Bandas Filarmónicas.

C. C. – Recentemente foi orador num Fórum Nacional sobre filarmonia. Concretamente sobre a influência das filarmónicas no meio local. O que nos pode dizer sobre esse encontro e sobre o tema que lá apresentou?
E. C.
– Este que decorreu a semana passada foi diferente, foi organizado pela Confederação Musical Portuguesa, da qual eu também faço parte, onde houve uma candidatura à Secretaria de Estado da Cultura para realizar este Fórum Nacional, onde eu fui convidado também para falar sobre os apoios locais às filarmónicas e o envolvimento com as comunidades locais.

C. C. – Concretamente, como é que as bandas podem sobreviver com os apoios locais: dos municípios, das freguesias, das quotizações, das empresas locais, as iniciativas etc.
E. C.
– Eu falei sobre essas perspetivas e o que é que as bandas podem procurar fazer para terem orçamentos ajustados e equilibrados e não terem surpresas como aconteceu com a pandemia…; e depois falei sobre as comunidades locais e acerca das comunidades locais fui dar o testemunho de que a banda não pode funcionar sozinha, a banda tem que se envolver com a comunidade, criar parcerias porque “juntos somos mais fortes”… neste evento que estamos a programar para dezembro envolvemos aqui mais de 90 pessoas, ora criamos escala e também vamos ter sala…

C. C. – Fale-nos desse com a Escola Campos Melo
E. C.
– É o novo projeto, o novo projeto assenta no meu lema de vida que é “Sonhar, Acreditar e Nunca Desistir”. O nosso espetáculo que divulgo aqui em primeira mão, chama-se: “As Crianças Também Sonham”. É um espetáculo que vai ter música, teatro e dança. Vai ser no dia 9 de dezembro às 16h, no TMC com uma participação especial da “Libellula Dance Company”, que está associada ao Conservatório, o Grupo de Teatro da Campos Melo, onde eles vão fazer as personagens de “O Pedro e o Lobo”, de Prokofiev,: A narradora vai ser a Patrícia Figueiredo da SIC; Palhaço o Fraldinhas, é o Ruben Matos; e a Letícia Micaelo vai cantar as canções da Disney. Naturalmente Também com a componente da Banda da Covilhã, tudo para afirmar que “As crianças Também Sonham” ….

C. C. – Ainda no futuro e para breve, o que nos espera?
E. C.
– Então para breve é o grande evento histórico desta instituição que é a apresentação do nosso primeiro CD, onde a quase totalidade são obras originais criados por nós. Será apresentado no dia do 153ª Aniversário da Banda da Covilhã, 1 de dezembro. Outro é o Grande Concerto de Ano Novo que este ano é em Parceria da Banda com a Junta de Freguesia da Covilhã e Canhoso, e será no dia 21 janeiro, às 16 h na igreja dos Penedos Altos.

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