“…que os jovens tenham esperança neles e no futuro e que pensem no concelho de Belmonte, como o seu lugar para viver…”
Jovem, natural e descendente de Caria, com profunda ligação, afetiva, familiar, profissional e social à sua terra. Envolvida no movimento associativo do concelho. Tem integrado as listas do PS em várias representações e é desde o dia 5 de julho a presidente da Comissão Política Concelhia deste partido, em Belmonte. Uma entrevista oportuna, a uma figura incontornável e um quadro promissor…
Jorge Henriques Santos
Correio de Caria: – Onde nasceu, onde foi criada, profissão dos pais e quantos irmãos?
Sofia Fernandes: – Eu nasci em Caria, aos 14 anos vim com os meus Pais viver para Belmonte, meu pai é advogado e a minha mãe Educadora de Infância. Tenho mais um irmão que também é advogado.
C.C: – Onde estudou e até que grau?
S.F: – Estudei em Belmonte até ao nono ano, depois no secundário, não havia para humanidades em Belmonte, fui fazer na Covilhã, na Escola Frei Heitor Pinto. Depois fui para a Universidade de Coimbra, fazer a licenciatura em Direito, no meio da licenciatura fiz Erasmo em Espanha, estive em Valência e depois fui fazer um Mestrado na Universidade de Lisboa.
C.C: – Mestrado em quê?
S.F: – Em Direito Administrativo, no ramo do Direito Público, na Faculdade de Direito da Universidade Clássica.
C.C: – Sempre residiu em Belmonte, ou esteve algum tempo fora?
S.F: – Tirando os períodos em que estive fora para estudar, sempre vivi em Belmonte.
C.C: – Atividade profissional, quando começou?
S.F: – Eu vim para Belmonte, como advogada estagiária em 2011, o estágio durou dois anos, em 2013 fiz as provas de agregação à Ordem dos Advogados e desde aí passei a ser advogada efetiva.
C.C: – Já estagiou com o seu Pai?
S.F: – Já estagiei com o meu Pai, por isso já estou a exercer em Belmonte desde 2011, há 13 anos…
C.C: – Participação associativa, a que associações pertence e que cargos já exerceu no Movimento Associativo?
S.F: – Quando estava no Liceu da Covilhã, fiz logo parte da Associação de Estudantes; Em Coimbra, fiz parte do Núcleo de Direito da Associação Académica de Coimbra; Aqui em Belmonte fiz parte do grupo fundador do Belmonte Movimento, primeiro como grupo informal, depois como associação mais organizada.
C.C: – Como é que surgiu e quando o Belmonte Movimento? Já agora…
S.F: – Havia um grupo de Jovens mais dedicado à intervenção social, vocacionado para fazer atividades mais dinâmicas para os jovens, tipo HIP Hop e uns workshops para os jovens, coisas bastante engraçadas. Depois o presidente da Câmara que era na altura o Sr. Amândio Melo, até nos cedeu umas instalações na rua direita. Era sobretudo numa linha de animação sociocultural, para os jovens.
C.C: – E outras associações?
S.F: – Depois quando regressei a Belmonte em 2011, liguei-me mais à União Desportiva de Belmonte, já o atualmente meu marido, jogava lá e é natural que ali me ligasse mais; também sou sócia da União Desportiva Cariense e tenho muita proximidade com ela: Neste momento também ocupo cargos na casa do Benfica, as mais ligadas ao desporto, por inerência … (risos)…
C.C: – Em termos concretos que cargos exerce atualmente?
S.F: – Neste momento sou secretária da direção do Centro de Cultura Pedro Alvares Cabral (a Escola de Música) e sou Presidente do Conselho Fiscal da Casa do Benfica de Belmonte.
C.C: – Apesar de muito jovem já exerceu também alguns cargos autárquicos quais?
S.F: – Então fui vereadora na Câmara de Belmonte, desde 2013 até 2021, sempre em regime de não permanência. De 2013 a 2016, estive nomeada como vice-presidente e depois pedi exoneração dessa nomeação. Nesses dois mandatos fui também membro da CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, em representação do Município de Belmonte.
C.C: – E na política, quando se inscreveu no PS? foi ainda na JS?
S.F: – Na JS devo ter ingressado quando fiz 18 anos, 2006/2007 (já estava em Coimbra). Estive na JS até 2016 e nessa ocasião é que passei a membro efetivo do PS, onde me mantenho até hoje.
C.C: – E também já fez parte de várias listas quais?
S.F: – Em termos autárquicos integrei estas listas para a vereação da Câmara e também o terceiro lugar da lista de 2021, onde não fui eleita, por pouco mais de 30 votos, recaíndo essa eleição no vereador da CDU, Sr. Carlos Afonso.
C.C: – E noutras listas do Partido Socialista, às legislativas e Departamento Federativo das Mulheres?!
S.F: – Então em suma foi: Autárquicas, 2013, 2017 e 2021 (para a Câmara de Belmonte); Legislativas de Janeiro 2022; Já estive também na Comissão de Jurisdição Federativa e neste momento integro a Comissão Política Nacional da Federação das Mulheres Socialistas.
C.C: – Ultimamente foi vista como uma figura para estabelecer consenso entre as duas listas que se apresentavam para a Concelhiado PS, de Belmonte. Como é que isso surgiu?
S.F: – Foi precisamente nessa perspetiva…. É sabido publicamente que havia duas listas com duas fações de militantes em que se se mantivesse como estava ia ainda dividir mais e tirar força ao Partido Socialista em Belmonte. As listas estavam constituídas para as datas e formalidades previstas, mas na altura de fecho houve ali alguns constrangimentos e os dois cabeças de lista (Paulo Borralhinho e Paulo Manteigueiro) reuniram e acertaram que se fizesse uma lista única e fosse encabeçada por uma pessoa que não tivesse nada a ver com nenhuma das existentes.
C.C: – Vieram os dois falar consigo?
S.F: – Vieram ambos falar comigo.
C.C: – E o presidente Rocha, não falou consigo?
S.F: – Nunca, o Dr. António Rocha, não falou nada comigo,
C.C: – As estruturas do PS no concelho têm estado um pouco inativas pelo que se sabe: o secretariado não reúne, a assembleia concelhia também não. Pode esperar-se uma nova dinâmica, com a sua liderança em Belmonte?
S.F: – É verdade, houve aqui anos e anos em que as estruturas estiveram completamente paradas, nem é inativo é completamente parado, é praticamente como se não existisse… Eu espero ter capacidade para conseguir ultrapassar isso, já fizemos uma reunião no dia 29 de julho, uma reunião da Comissão Política com o secretariado e com a mesa e já delineámos uma data para a primeira Assembleia Geral de Militantes, que ocorrerá já em setembro, depois deste período de férias passar. Portanto, pretendo pelo menos cumprir os estatutos!
C.C: – Na sequência das notícias sobre a sua candidatura e eleição na concelhia, tem sido alvitrada várias vezes como possível figura para encabeçar a lista do PS à Câmara de Belmonte. É coisa que já lhe tenha passado pela cabeça?
S.F: – O ser cabeça de lista a qualquer órgão autárquico, nunca foi uma ambição minha, nem é neste momento. É uma confusão na cabeça das pessoas achar que ser presidente de uma estrutura política é necessariamente para ser candidato a cabeça de lista… Mas, em política, um ano é muito tempo, o que a gente considera hoje, amanhã pode ter evoluído e os contextos se alterarem. Há um ano também não me passava pela cabeça vir a ser presidente da Comissão Política e hoje sou.
C.C: – Se for proposta nesse sentido aceita?
S.F: – No contexto em que estamos hoje, dia 20 de agosto 2024, diria não, mas não sei o que se vai passar quando essa discussão se começar a fazer dentro dos órgãos do partido.
C.C: – Mas vai ter responsabilidade acrescida e uma palavra a dizer sobre essa matéria!?
S.F: – A minha responsabilidade é coordenar, isso vai ser decidido pelas pessoas que fazem parte da Comissão Política, claro que o PS vai ter de encontrar o melhor candidato para vencer as eleições, mas a minha função é só coordenar e aceitar o candidato que a CPC nomear…
C.C: – Como avalia a gestão do Concelho, desde que se lembra e nos últimos anos?
S.F: – Eu tenho três momentos na minha cabeça, desta gestão autárquica: Os primeiros dois mandatos do Presidente António Rocha, que era um presidente muito vocacionado para a juventude, eu era muito jovem e se calhar por isso também gostava, mas foram dois mandatos que marcaram com várias e importantes obras que foram marcantes para o concelho; Depois tivemos um mandato do Presidente Amândio Melo, mais contido em termos de obras, mas mais eficaz financeiramente, foi um bom gestor financeiro, muito mais comedido; Depois temos aqui os últimos dois mandatos do Presidente Rocha que vão um pouco na linha do que eram os primeiros, mas por uma série de condicionantes, sobretudo por condicionantes externas acabou por não ser bem aquilo. Então entre aquilo que foi a gestão criteriosa do mandato de Amândio Melo e com aquilo que se passa neste momento, temos aqui alguma estagnação. Uma estagnação que não se perspetivava, não era espectável, mas que veio a acontecer, como referi por várias condicionantes e algumas delas externas.
C.C: – Em suma precisamos de um futuro mais dinâmico?
S.F: – Será preciso mais dinâmica, até para superar alguma dinâmica que se perdeu, mas atenção que uma parte dessa quebra não é apenas por causa das decisões, mas tem muito a ver com certas conjunturas: Nós sabemos que se não há população não podemos inventá-la, podemos atrair, mas não podemos inventar empresas, enfim… Mas sim eu gostaria que o concelho fosse outra vez mais dinâmico.
C.C: – Como tem assistido a este definhamento de todo o interior?
S.F: – Eu vejo com muita pena até porque quando nós estudamos fora, como foi o meu caso, há oportunidades que nos surgem que são tentadoras, as quais não temos aqui e nos proporcionam, melhor trabalho, mais rendimento e por isso mais conforto. Não foi o meu caso porque já tinha o meu Pai com o escritório montado tinha esta porta aberta, coisa que muitos não têm… reconheço que com isso a qualidade de vida que tenho aqui é superior à do litoral, a infância e juventude que eu tive aqui é aquela que eu pretendo para a minha filha. Mas percebo que as oportunidades de trabalho, condicionam as oportunidades de rendimento e por isso condicionam as escolhas.
C.C: – O que faria falta nestas terras para se dar o tal salto há muito anunciado?
S.F: – Eu também não sou apologista que tenhamos de ter todas as ofertas em todos os lugares, por vezes é preferível termos por exemplo um bom serviço de saúde concentrado num local a servir com eficácia várias populações, mas desde que haja todo o resto que o faça funcionar uma boa rede viária e de transportes para levar as pessoas das aldeias às sedes de concelho, ou de umas cidades para as outras. Referi a saúde, mas aplica-se a tudo e não pode ser um transporte por semana, mas todos os dias.
Se tudo funcionar em rede, torna-se mais fácil e as pessoas não ficam com a ideia de ter de se deslocar a morar para onde os serviços estão.
C.C: – De quem é a culpa?
S.F: – Na minha opinião a maior culpa é das decisões tomadas em Lisboa. Têm-se esquecido um bocadinho do nosso interior, as portagens é um exemplo, mas há muitas outras que não correspondem com muitos discursos de incentivo ao interior, que são feitos. Se os nossos Hospitais não são apelativos para os médicos virem para cá, em detrimento do litoral, por alguma razão é, tem havido decisões dos Governos quer de direita quer de esquerda apenas vocacionadas para o litoral e para as grandes cidades.
C.C: – E aqui no nosso interior não há também quem esteja mais preocupado com o seu quintal, de costas viradas uns para os outros?!
S.F: – Sem sombra de dúvida, ao contrário de algumas pessoas eu não sou defensora de uma redefinição dos concelhos da Cova da Beira, acho que estamos muito bem como estamos, a última reorganização administrativa não foi bem feita, não foi a melhor, mas agora estar a mexer não adianta. Considero que se trabalharmos em rede funcionamos muito melhor. Vejamos a questão dos transportes intermunicipais, está na gestão da CIMBSE, que disse que a implementava, mas não está porque a estrutura não o faz funcionar. Isso era fundamental para que todos estes territórios se pudessem desenvolver em conjunto. Mobilidade e transportes como fator fundamental para todos…
C.C: – Que mensagem final para estes tempos que correm e para o futuro?
S.F: – Eu tenho sempre uma mensagem muito otimista e vai em especial para as camadas mais jovens, para que não desistam do concelho de Belmonte. O concelho tem uma riqueza humana, uma riqueza histórica, de património, estamos muito bem localizados. Só precisamos de ver aqui quais são as pontas que podem florescer, pegar nelas e trabalhá-las.
A mensagem é: que não desistam, tenham esperança neles e no futuro e que pensem no concelho de Belmonte, como o concelho deles para viver.
jhs