Faz precisamente 25 anos, que Amália Rodrigues nos deixou, fisicamente, já que a sua voz ecoa um pouco pelo mundo, duas décadas depois, como em Itália, França, entre outros países da Europa e no mundo. Amália recebe o título de Rainha do Fado, esse canto que nos leva para um mosaico repleto de culturas, de viagens, de um saudosismo que é tão português, da nossa lamuria, angústia, que é composto pelo lamento árabe, o chamamento, o cante de flamenco, o cante Jondo, outros povos, que habitaram a Península Ibérica, Al – Andalus. A nossa fadista foi e continua a ser a maior artista Ibérica que algum dia tivemos. Amália, se estivesse na Andaluzia, aprenderia certamente o cante Jondo, tendo conta a sua raiz; quer dizer que a sua mãe já cantava no Fundão de onde é oriunda e o seu pai era albicastrense. A título de curiosidade, a sua avó era de Alcaria (Ana Bento) e o seu avô (António Rebordão) era de Souto da Casa. Casaram e foram viver para o Fundão e mais tarde rumaram para Lisboa.
Albertino e Lucinda Rebordão, pais de Amália tiveram nove filhos: Vicente, Filipe, José, António. Curiosamente, Amália não nasceu no Fundão por um fio, uma vez que o jovem casal foi para a Capital à procura de melhores condições de vida, e Lucinda Rebordão ia gravida de Amália, a quinta filha do casal. A partir daí começam a nascer as mulheres: Celeste, Aninhas, Maria da Glória e Maria Odete.
O projeto profissional foi gorado e os pais de Amália regressam ao Fundão e a bebé Amália ficaria à guarda dos seus avós com apenas 14 meses, em Lisboa. Porém, a fadista Amália Rodrigues foi batizada no Fundão em 1921, na Igreja Matriz da Vila. Nunca o padre imaginou que anos mais tarde se tornaria uma vedeta nacional e internacional. O efeito das águas da Gardunha.
Como toda a gente sabe calcorreou os quatro cantos do mundo, bem como participou em filmes e esteve presente em todos os programas televisivos a nível Internacional, mas fez uma coisa que nenhuma fadista conseguiu fazer, um dos seus maiores feitos: colocou a cantar o povo português (urbano e rural) poemas de Camões, tais como “Erros Meus”, “Alma Minha”, “Com que Voz”. Muto desse povo cantava, porém nem sabia que esses poemas pertenciam ao nosso poeta maior da Língua Portuguesa, Luís de Camões, que este ano completaria 500 anos (1524-1580). Esse foi o seu grande segredo e a sua maior intuição, quando resolveu, aconselhada por Alain Oulman, cantar os poetas portugueses, Bocage, O´Neil, entre outros. Amália Rodrigues foi a grande revolucionária do Fado em Portugal, tendo sido criticada pela burguesia de Lisboa. Recordo que o Fado tinha uma conotação negativa, vindo do mundo da prostituição, das tabernas.
Termino, Amália foi a primeiríssima Mulher a ter honras de Panteão. Todos os dias tem flores frescas junto à sua campa. Pelo Fundão, a sua memória está bem viva; basta ver a participação do Concelho no programa “Em Casa de Amália”, da RTP, que foi gravado junto à Igreja Matriz, tendo sido exibido no dia 24 de agosto. O orgulho das gentes onde Amália aprendeu a cantar, os Martírios com a mãe, de olhos fechados com o pai. Os tais e conhecidos “rodriguinhos” são daqui, assim como essa alma de diversas culturas, aquele jeito de cantar, que só os Beirões sabem.