“O VERDADEIRO NATAL!”, Mensagem de Natal do Bispo da Guarda

Chegou o Natal para celebrarmos, de novo, o Nascimento de Jesus Salvador, no Presépio de Belém.
Maria e José contemplam naquele Menino recém-nascido o Mistério do próprio Deus que se faz próximo para acabar com todas as distâncias entre as pessoas.
Os pastores, gente das periferias, são os primeiros a ir ao encontro deste Menino e, para O identificarem, levam o sinal indicado pelos anjos – “Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira”. Aparentemente este sinal não é sinal, pois diz o que se passa com todos os recém-nascidos. Todavia, torna-se grande sinal pelo facto de o próprio Deus se sujeitar à condição comum de todas as crianças.
A cidade permanecia alheia ao acontecimento do Natal, vivendo a azáfama do dia a dia, agora acrescida, por serem os dias do recenseamento, como já acontecera na véspera, quando não houve lugar nas hospedarias para o Menino que ia nascer.
Mais tarde, haveriam de chegar esses sábios ou magos, vindos do Oriente guiados por uma estrela. Mas também não lhes foi dada a devida atenção.
Na realidade, este Menino só foi tido em consideração, quando Herodes teve medo de que Ele lhe viesse a disputar o trono.

Este é o verdadeiro Natal
Não podemos, é certo, celebrá-lo, este ano, como em anos anteriores; mas torna-se ainda mais urgente vivê-lo com os mesmos sentimentos do Menino de Belém. De facto, Ele veio para se fazer o próximo mais próximo de todos e para combater todos os dramas que afligem a humanidade
Hoje a solidão e o abandono das pessoas são um desses dramas mais graves. Temos, nos nossos meios, crescente número de pessoas a viverem sós, umas em suas casas, mas longe dos familiares; outras acolhidas em lares, mas também longe dos afetos da família. É certo que é necessário travar os contágios, mas havemos de ter imaginação e coragem suficientes para travar os contágios sem interromper as relações. E felizmente estão já a ser ensaiados caminhos para, mesmo com a pandemia, os idosos poderem contar com a presença e o conforto dos seus familiares e amigos.
Reconhecemos que só os laços familiares podem vencer a solidão na vida das pessoas, mas não podemos dispensar o contributo dos lares, embora sendo necessário reforçá-los com novos meios humanos e materiais, a começar pelo imprescindível acréscimo das comparticipações do Estado, principalmente sabendo nós que o horizonte é criar lares especializados. De facto, também os lares precisam de se especializar nas respostas que dão para atender as diferentes tipologias de fragilidades dos que os procuram. Como constatamos, há muito que eles desempenham funções de verdadeiros hospitais de retaguarda.

Outra lição que o Menino de Belém nos dá é a da solidariedade, principalmente compreendida como o esforço por conseguir a plena inclusão das pessoas na vida social e das comunidades.
Ora, este Natal encontra a Diocese da Guarda empenhada num processo de revitalização e reorganização das comunidades e seus serviços e também da comunhão entre elas. Para tal, o primeiro passo é reforçar a proximidade entre as pessoas e criar condições para que as suas capacidades sejam reconhecidas e colocadas ao serviço, e depois estimular a comunhão entre as comunidades. Estamos convencidos de que este é um processo que em muito contribuirá para desfazer solidões e promover a desejada plena inclusão. Dele faz parte a partilha que o Natal recomenda: partilha de bens materiais, mas igualmente de valores pessoais, de saberes e do próprio tempo.
O caminho para chegar à plena inclusão é longo. Se não vejamos.
No mundo global, cresce a distância entre ricos e pobres, o número dos pobres continua a aumentar, o drama dos migrantes e refugiados não pára.
Localmente, entre nós e nas nossas comunidades, para além dos lares já referidos, os hospitais e as prisões continuam a ser grande desafio à nossa obrigação de cuidarmos bem uns dos outros.
Dos hospitais esperamos diagnósticos e terapias acertadas, mas isto sem excluir o direito e o dever que as famílias e a própria sociedade têm de acompanhar os seus doentes, fazendo-lhes sentir que a doença não tem de ser exclusão, mas antes oportunidade de reencontro de cada um consigo mesmo e com os outros. Compreendemos os constrangimentos recomendados por causa dos contágios, mas não podemos resignar-nos a eles.
Por sua vez, os que vivem com a liberdade condicionada nas prisões – e neste Diocese estão sediados 4 estabelecimentos prisionais – precisam de sentir a presença e o conforto não só dos seus familiares, mas da própria sociedade como tal, que espera acolhê-los, depois de devidamente recuperados, na nova fase da sua vida. De facto também nestas instituições, o diálogo com as famílias e a sociedade não pode ser interrompido, apesar dos riscos inerentes, sob pena de os tempos de reclusão criarem traumas irrecuperáveis.

Neste Natal, quando, no programa trianual da nossa Diocese, a atenção está voltada principalmente para as famílias e para os jovens, às famílias pedimos redobrado empenho, para, no exercício da sua vocação de defesa e promoção do amor e da vida, procurarem desfazer, quanto possível, todos os isolamentos e abandonos. Aos nossos jovens, que preparam, com entusiasmo e em jeito de missão, a próxima Jornada Mundial da Juventude, queremos dizer que, sem a sua participação ativa, nunca poderemos chegar à desejada renovação da Diocese.

Vamos ter este ano um Natal diferente, mas é legítimo esperar que seja um natal ainda mais verdadeiro, porque mais centrado no acontecimento que constitui a sua razão de ser – o Nascimento do Jesus no Presépio de Belém.
Vivamos este Natal com renovada alegria e esperança, mesmo com as diferenças que as atuais circunstâncias nos impõem.
Contamos com a especial companhia da Mãe daquele Menino, Maria Santíssima, para nos ensinar a compreender e aplicar, nos dias de hoje, a lição Belém.

11.12.2020

+Manuel R. Felício,
Bispo da Guarda

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