A culpa é do Marquês! – Opinião Manuel Magrinho

Manuel Magrinho
Prof. Universitário
Residente em Malpique

Quando em 1772, o Marquês de Pombal resolveu criar umas centenas de escolas públicas necessitou de mestres de ler, escrever e contar. Na ausência de outros professores recorreu aos homens da Igreja, frades na sua maioria. Os frades eram homens da Igreja, mas não eram santos, não estavam dispostos a trabalhar pelos valores que o Marquês tinha disponível para lhes pagar. Foi o começo do problema!
Problema que continua até hoje. Queremos escola de qualidade, mas não queremos pagar a professores e outros profissionais necessários para o bom funcionamento das escolas, faltam auxiliares de educação, faltam técnicos, faltam funcionários nas cantinas e nas equipas de limpeza e faltam professores, claro está.
Mesmo quando aparentemente o quadro está preenchido e todas as turmas têm professores, a quantidade de alunos por turma é enorme. Quando o “respeito” era imposto pela régua e pela palmatória era possível manter a ordem, mesmo com esta quantidade de alunos. Hoje somos mais “civilizados”, as crianças têm liberdade para fazer praticamente tudo nas salas de aula, ai do professor que tiver a ousadia de puxar uma orelha a um aluno indisciplinado!
Assim, turmas com cerca de 30 alunos fazem o professor passar mais tempo a “manter a ordem” qua a ensinar. As turmas necessitam de ter menos alunos e para isso necessitamos mais turmas e mais professores. Ou seja, temos que pagar mais para que quem cuida da educação e formação dos nossos filhos o possa fazer com gosto e qualidade. Se alguém acha que a educação é cara, não queira saber o preço da grunhisse.
Para os governantes, os professores, para além de caros, têm outro problema, não se calam! Fazem barulho, protestam e incomodam. Assim, para além de conter o pagamento aos professores, os sucessivos governos foram criando formas de complicar a vida a estes profissionais, a começar pelo local de trabalho. O professor não pode escolher a escola onde quer trabalhar, nem sequer o município onde está disponível para trabalhar. Para poder trabalhar um professor arrisca-se a ser colocado em escolas bem longe de casa, com tudo o que isso implica. Por que razão tem uma professora de Belmonte tem que ser colocada no Algarve? Não haveria nada mais próximo?
A questão das colocações não é um problema informático, é um problema político. Uma pessoa com um futuro e trabalho incerto é mais fácil de controlar. A manutenção de uma grande quantidade de professores no regime de “contratado”, o professor caracol, sempre com a casa às costas, é uma forma de manter os professores na incerteza quanto ao trabalho do ano seguinte. Terá trabalho ou será mais um desempregado?
Como, até agora, nada conseguiu calar os professores, o governo propõe que as colocações sejam feitas a um nível mais local, na prática, os diretores das escolas passam a escolher os professores para as suas escolas. A insegurança dos professores só vai aumentar, criar problemas com a direção da escola não vai ser uma opção, fazer greve ou protestar de qualquer outra forma, já mais! Há que pensar no futuro!
Será que queremos professores submissos e receosos a ensinar os nossos jovens? Que cidadãos teremos no futuro quando têm como exemplo os seus professores amordaçados?
Como é que os jovens podem querer seguir a profissão de professor quando observam a forma como os professores são tratados neste país?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *