José Albino Matos é natural de Belmonte, prestou serviço militar na Marinha e mais tarde ingressou na GNR, fazendo o Curso em Almada e mais tarde integrou a Brigada de Trânsito, onde fez a sua carreira desde soldado até sargento-ajudante. Reformou-se em 2001, tendo atualmente uma agência de documentação automobilística em Belmonte:
Jorge Henriques Santos
Correio de Caria: – Quando se fixou em Malpique?
José Albino Matos – Costumo dizer que bebi a água no chafariz de Malpique apaixonei-me, e cá casei. Adotei esta aldeia como minha, cá me fixei, cá criei as minhas filhas e cá permaneci.
C.C: -Ficou logo a viver cá?
J.A.M: -Não, casei em 1972, na altura já estava na Guiné-Bissau, a minha esposa ainda foi para lá, mas depois com a independência, regressámos em 1975 e ingressei na GNR em 1978
C.C: -É dos fundadores do CCR Malpique: Como surgiu o clube e em que contexto?
J.A.M: -A ideia de criar uma coletividade que depois resultou na criação do Centro Cultural e Recreativo, surgiu ali em meados da década de 80, porque se sentia a necessidade de gerir de forma organizada algumas atividades que já se vinham realizando, Ainda não estávamos formalmente constituídos e já realizávamos algumas atividades de âmbito cultural e recreativo, nomeadamente na área dos jogos tradicionais.
Então um grupo de 16 pessoas, até muito heterogéneo, começámos por fazer atividades numa primeira fase agregados com a paróquia, já com a associação formalizada, fizemos as festas de N. Sr.ª dos Remédios mais de 10 anos.
C.C: -Mas essa não era propriamente a vocação do CCR, como evoluiu a associação?
J.A.M: -Claro que não era, os dividendos resultados destas atividades eram por norma entregues ao pároco, ou à comissão fabriqueira, fizeram-se obras na capela e renovou-se a sacristia , fizeram-se melhoramentos que eram necessários, mas naturalmente havia necessidade também de uma infraestrutura social é a partir da altura que pensamos em construir uma sede, passamos a ter necessidade também de uma parte desses dividendos para o clube. Chegámos à conclusão de que tínhamos necessidade de separar a parte religiosa da parte cívica e assim fomos angariando alguns fundos que foram importantes para que hoje tenhamos a obra que temos em Malpique.
(Por lapso na edição em papel foi referida também a construção da capela mortuária, mas essa obra foi construida posteriormente apenas pela Igreja, fica a retificação e o pedido de desculpas pela má percepção)
C.C: -Qual era o grande horizonte que se apontava para o Centro Cultural e Recreativo?
J.A.M: -Quando nós começámos a fazer a obra do CCR de Malpique, tinha vida Malpique e tinha vida toda esta região, em 3 de julho 1987 ainda muita gente residia cá e havia vida, ainda havia 11 crianças em idade escolar.
O edifício que está criado, hoje concordaremos que é exagerado para a necessidade da população, mas na altura entendíamos que para o futuro, era ideal ter este tipo de infraestrutura.
C.C: -Ainda funcionaram ali algumas atividades?!
J.A.M: -Naturalmente, nós sempre tivemos ali um plano de atividades, nalguns aspetos até intenso, com envolvimento de muita gente, sobretudo ao nível do envolvimento de muita gente. Havia também muita criança o que proporcionava algumas atividades, por exemplo em 10 de junho de 2001, nós tivemos 47 crianças envolvidas em atividade, crianças da nossa localidade e de localidades vizinhas
C.C: -Para além das atividades com crianças que outras destaca?
J.A.M: -Nós tivemos ainda algumas peças de teatro, ensaiadas nas instalações da escola, com pessoas de cá e cá estreadas. Exposições fotográficas; Provas de automóveis também. Até nos Jogos tradicionais enquanto não tivemos sede fizemos nos caminhos de terra batida. Era muito interessante todo este envolvimento das pessoas.
C.C: -E a inauguração da Sede do Centro quando foi?
J.A.M: -Começava por dizer que a primeira fase da construção foi em 1995, por administração direta e com a ajuda da Câmara, de pessoas amigas e com a participação de toda a gente da aldeia, mais ou menos, de acordo com o que cada um podia, todos participaram. Depois formalizámos uma candidatura através da CCDR de Coimbra para a segunda fase e em 1997, depois de algumas peripécias com o empreiteiro a quem adjudicámos a obra, concluímo-la e fizemos a inauguração a 7 de junho de 2007.
C.C: -Desde aí o que é que lá tem decorrido?
J.A.M: -Têm decorrido várias atividades, encontros frequentes, várias caminhadas, já se fizeram exposições, aulas de ginástica para as senhoras, almoços convívio entre os sócios, tivemos o bar a funcionar para os sócios aos fins de semana. Agora nos últimos anos é que com a vinda da pandemia, não tivemos condições para mais nada.
C.C: -Desta experiência o que destaca?
J.A.M: -Destaco a adesão da população e sem dúvida o apoio da autarquia. Se não fosse o apoio da Câmara Municipal ao longo de todo o processo, não teríamos conseguido aquela obra com a grandeza que cá está. Também a Junta de freguesia que dentro das suas possibilidades, sempre nos ajudou, mas os recursos são mais limitados.
C.C: -O senhor foi fazer a sua formação fora, mas depois voltou para cá e há mais de 40 anos se dedicou a esta terra, como tem assistido ao seu definhamento em termos de população e também se reflete no clube?
J.A.M: -Há algo de facto que é preponderante e que temos de ter em consideração, que é a falta de emprego no nosso concelho. Não preciso de sair de casa para constatar esse facto, eu tenho três filhas e duas delas tiveram de abandonar a região, e a aldeia obviamente, para terem um posto de trabalho. Essa é a grande causa para a desertificação o que se constata em Malpique e em todo o concelho.
C.C: -Como é que isso podia ser contrariado?
J.A.M: -Criando emprego, motivando empresários a investir no concelho.
C.C: -Mas vê potencialidades nesta zona e concretamente nesta aldeia, para se projetar no futuro?
J.A.M: -É estranho que a nossa localidade será em todo o concelho a mais bem situada em termos de acessibilidades, com entrada direta para a A/23, que a coloca a 15 minutos da Covilhã, 20 minutos da Guarda e talvez 20 minutos do Fundão… e a verdade é que tem duas novas urbanizações, uma com dimensão maior outra mais pequena, mas que têm apenas tês casas construídas com pessoas cá a viver. Não sei de facto o que se passa, mas este era um fator para que se tornasse mais atrativa a nossa aldeia.
C.C: -Mas mesmo com pouca população, são cerca de 200 habitantes. Há aldeias no concelho e fora dele que têm menos de 200 habitantes e têm muito mais vida social, como se explica?
J.A.M: -É verdade e é provável que cada um de nós que agora cá habitamos, chegados ao fim do dia de trabalho, temos tendência a nos fechar em casa e só ver o vizinho no outro dia de manhã. Já não vamos à tasca nem iriamos ao clube. A casa oferece-nos todo o conforto e diversão e isso acomodámos, é comum a mim, é comum a si e à maioria das pessoas.
Se as pessoas forem contatadas e mobilizadas para uma atividade até comparecem e participam, mas perdeu-se a iniciativa de comparecer apenas para conviver, sofremos dessa caraterística que se reflete também no clube obviamente.
C.C: -O Sr., acaba de sair da presidência do clube, ao fim de quantos anos?
J.A.M: -Saio para a presidência do Concelho Fiscal, como presidente da direção estive desde os primórdios. tive ali uma interrupção por motivos de saúde durante cinco anos, termino este caminho ao fim de todos estes anos.
C.C: -Que sensação leva, decorrido este tempo?
J.A.M: -Dever cumprido! dever cumprido e gratidão por todas as pessoas que me apoiaram, as pessoas que fizeram parte comigo da direção e dos órgãos sociais.
C.C: -Que mensagem deixa?
J.A.M: -Eu gostava muito que a nossa aldeia tivesse alguma revitalização, houvesse forma de fixar cá algumas pessoas e cá criassem raízes. Relativamente à coletividade, o Centro Cultural, penso que ele fica muito bem entregue. A Engª Olga Gonçalves aprendeu a gostar da coletividade, ela fazia já parte dos órgãos sociais, fez um belíssimo entrosamento com todos nós e, portanto, estou convencido que fará um belíssimo trabalho, até porque se avizinham tempos bem melhores que aqueles porque passávamos.
C.C: -Entretanto o Sr. sai para outra missão, a do Centro Social e Paroquial de Caria. Como é que se apresenta esse desafio?
J.A.M: -Este desafio não é nada fácil como deve calcular, o CAP Caria tem outra dimensão, tem outras caraterísticas e, portanto, é um enorme desafio, para o qual estou da melhor vontade para o enfrentar, mas inserido num grupo de pessoas que também me motiva muito e o que eu posso dizer é que darei o meu melhor em benefício dos utentes sejam eles os idosos ou as crianças da nossa freguesia.