Portugal e o mundo vivem, desde há pouco mais de cinco meses, uma realidade que provocou toda uma alteração de modos de vida e de agir em sociedade, difícil de imaginar até em filmes de ficção científica. As modificações de comportamento, os modelos económicos, a mobilidade no planeta, entre muitos outros fatores, sofreram tais alterações que não só ainda não sabemos como nos adaptar como também tornam ainda difícil prever como será o futuro. Tudo por causa de uma pandemia que não faz distinção entre ninguém.
As consequências ao nível do desemprego, entre outras, virão a ser, de novo, uma grande preocupação para os portugueses. Por outro lado, a recente decisão do Conselho Europeu para o Plano de Recuperação Europeu permitiu definir valores nunca vistos em termos de ajudas financeiras para vir a implementar um plano de recuperação económica e social duma europa que se quer solidária e coesa. Mas para isso é necessário depois que os governos centrais e também os agentes locais de desenvolvimento, onde as autarquias terão um papel decisivo, tenham capacidade de definir prioridades e executar com rigor.
Nesta realidade, também o concelho de Belmonte e os seus cidadãos não ficam de fora destas dificuldades, mas também das oportunidades que aí vêm.
Conhecemos a estrutura empresarial e económica do concelho e todos sabemos das suas fragilidades e dificuldades. Por outro lado, conhecemos também a fraca capacidade deste executivo municipal em inovar e implementar projetos e medidas que criem as condições favoráveis para que os empreendedores e empresários, do concelho e fora dele, possam vir criar empresas e estruturas económicas e, com isso, criar emprego e riqueza.
Acresce a tudo isto uma complexa e, diríamos mesmo, quase crítica situação financeira do município que o impede de maiores ambições, se engenho e arte tivesse, no desenvolvimento do concelho ou mesmo em medidas de apoio direto aos munícipes nesta fase de maiores dificuldades. Esta é uma situação que se tem vindo a agravar nestes últimos anos e que o Relatório de Gestão e Prestação de Contas do ano de 2019, apresentado por este executivo na última reunião da Assembleia Municipal veio confirmar. Para ficarmos com uma ideia de como a situação se tem vindo a degradar, basta olharmos para alguns dos principais indicadores financeiros como os valores de investimento por habitante onde se registou uma clara redução de 239€ em 2018 para 151€ em 2019 (o valor mais baixo dos últimos 5 anos). Também as dívidas a terceiros de curto prazo aumentaram 79% (de 1,9M€ para 3,4M€); convém referir que é nesta rubrica que estão muitas das dívidas a fornecedores de empresas do Concelho que executam ou vendem produtos e serviços à Câmara e que esta não consegue pagar nos prazos devidos.
Esta é uma realidade que a autarquia não tem vindo a conseguir modificar. Não basta dizer o executivo dizer “que está atento aos problemas do concelho, que iremos ver como resolvemos”, mas só isso não chega, é mesmo muito pouco. Falta capacidade de iniciativa, de ação, de inovação que permitam criar condições para atrair investimentos.
A proximidade com centros do saber como a Universidade da Beira Interior, o Instituto Politécnico da Guarda e mesmo o de Castelo Branco, deveria ter sido, desde há muito privilegiada e potenciada. A criação de valor, depende da criação de conhecimento. Mas este executivo nunca soube aproveitar e descurou por completo o futuro para agarrar as oportunidades de uma nova economia com base no conhecimento.
Toda esta letargia na ação do município se tem vindo a agravar, e a contribuir para isso, foi também o facto de até os vereadores eleitos para a oposição, a escudo de uma “pseudodefesa dos superiores interesses do Concelho”, terem optado pela posição mais fácil, concordarem com tudo, em vez de se terem batido por aquilo que defenderam durante a campanha eleitoral e que na altura disseram que teria que ser diferente.
Apesar de tudo isto, não estamos condenados a um futuro sem esperança, e isto porque acreditamos nas gentes do concelho de Belmonte para continuarem a lutar e a trabalhar em prol do bem comum. Mas se queremos que seja diferente, o caminho tem que ser outro, porque o Concelho de Belmonte merece mais e melhor.
José Carlos Gonçalves
Professor do Ensino Superior
Membro da Assembleia Municipal